Ex-ministro Carlos Lupi
Brasil é um país cujos habitantes, e filhos da terra, podem se queixar de muita coisa, menos de tédio. Toda semana é um tema novo para se surpreender, e até para se escandalizar, como parece ser o caso do mais recente escândalo do INSS.
Temos, como o título deste artigo sugere, três camadas neste evento: um
escândalo, um prejuízo e um sofrimento. O escândalo se projeta a toda a
nação, atinge porém, de modo especial o universo político, onde – como
costuma acontecer – já está em curso um jogo de fortes tintas emocionais para se definir de quem é a paternidade da fraude operada contra os aposentados na previdência.
O governo atual alega ser algo já em curso há tempos, pelo menos cinco anos. A oposição, ou os críticos do governo, afirmam que o Ministério da Previdência Social já sabia de tudo ao menos desde 2023. E também como é usual ocorrer, ambos, governo e seus críticos, estão certos.
Uma fraude colossal como essa – estima-se, numa revisão dos números
iniciais, em algo próximo a R$ 50 Bi nos últimos cinco anos – não surge de
uma hora para outra. E sendo fato que o governo sabia de tudo ao menos
desde 2023, fica a indagação: por que nada foi feito, àquela altura, de forma imediata?
A outra camada, o prejuízo, já foi exposta. Um prejuízo de proporções titânicas, “everestianas”, uma verdadeira montanha de dinheiro drenado dos bolsos dos aposentados para o caixa de criminosos organizados em verdadeiras quadrilhas. Impossível realizar algo dessa magnitude sem algum grau de participação e colaboração de servidores da previdência e do ministério a ela relacionado.
Por fim, o sofrimento. Esse tem um destinatário único e ninguém disputa sua paternidade: os aposentados do nosso país. Os idosos, doentes, inválidos, deficientes de todo o gênero, os mais vulneráveis, sim, exatamente estes foram o grande alvo, ou as grandes vítimas de todo esse enorme crime contra eles praticado.
O governo percebeu o risco de contaminação, de desgaste político e já agiu, avisando que “muito em breve” os aposentados serão ressarcidos. A oposição, sempre ávida por uma pauta que desgaste o governo, também já se mexeu. O deputado federal Nicolas Ferreira gravou um vídeo tentando por todos os meios responsabilizar Lula por todo o ocorrido no INSS e denunciando uma alegada “conivência” oficial.
O saldo disso tudo, talvez o elemento mais claramente identificável nesta
história, é mesmo o sofrimento dos mais vulneráveis, como se apontou acima.
A disputa política passa como sempre ocorre. Já a fragilidade dos que têm dificuldade em se defender permanece, se prolonga no tempo e aumenta a desdita sofrida.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG
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