Governo sobe o tom contra o Congresso e mobiliza redes sociais


As críticas foram motivadas pela decisão do Congresso que derrubou o decreto que aumentou as alíquotas do IOF.
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

As críticas foram motivadas pela decisão do Congresso que derrubou o decreto que aumentou as alíquotas do IOF.

A base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) no Congresso Nacional subiu o tom contra as últimas movimentações da Câmara dos Deputados e do Senado que derrubaram medidas do governo, como a anulação do decreto que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Com pouca brecha de diálogo, os governistas apostam nas redes sociais para conseguir apoio popular às pautas de interesse do Executivo. 

Nesta quarta-feira (2), os internautas viram uma avalanche de comentários nas redes sociais com críticas ao Congresso Nacional, em especial ao presidente da Câmara, Hugo Motta(Republicanos). Os termos “ Congresso da Mamata ”, “ Hugo Motta traidor ” e “ Agora é a vez do povo ”, ficaram nos três primeiros lugares dos assuntos mais comentados do momento durante todo o dia. 

Essa mobilização nas redes começou na terça-feira (1º), quando esses termos, além das hashtags “Congresso Inimigo do Povo” e “Hugo Não Se Importa”, apareceram entre os 10 mais comentados do dia. Com o passar das horas, mais internautas somaram forças às críticas e fizeram o assunto subir no ranking dos que bombaram nas redes sociais. 

Até a publicação desta matéria, mais de 3,5 milhões de menções sobre o assunto foram publicadas no X. Para deputados da base do governo, essa mobilização mostra que a população está atenta ao que acontece nos bastidores do Poder e, segundo fontes ouvidas pelo Portal iG, “o povo não aceita ser manipulado com falso discurso de proteção aos interesses dos mais pobres”

As críticas foram motivadas pela decisão do Congresso que derrubou o decreto, assinado pelo presidente Lula, que aumentou as alíquotas do IOF. A movimentação que levou à derrota do governo ganhou força nas redes sociais após parlamentares de esquerda afirmarem que foram pegos de surpresa pela votação, que foi pautada mesmo depois de um acordo costurado entre o Ministério da Fazenda e líderes parlamentares. 

Os rumores de que esse acordo teria sido quebrado endossaram as alegações que fizeram o termo ” Hugo Motta Traidor” figurar entre os mais comentados. Sobre isso, deputados da esquerda comentaram, em conversas com o iG nesta quarta-feira (2), que o presidente da Câmara não é visto entre os parlamentares como uma pessoa confiável e de pulso firme para bancar posicionamentos que desagradem a oposição — que é maioria na Casa Legislativa — mesmo que firmados com o governo. 

Motta tenta ignorar onda de críticas

Em meio às milhares de publicações contrárias a Motta, o presidente da Câmara tentou ignorar a onda de críticas e falou sobre a pesquisa da Quaest, divulgada nesta quarta-feira (2), que mostrou que a sua gestão é aprovada pela maioria dos deputados. 

“Agradeço a confiança dos que concordam e caminham comigo, e também dos que discordam, mas respeitam. 68% dos deputados avaliam como ótimo ou bom nosso trabalho na Câmara, segundo pesquisa da Quaest” , escreveu Motta em seu perfil no X. 

O presidente da Casa Baixa afirmou ter o “respaldo dos deputados governistas e dos de oposição”.

“Gratificante ter o apoio dos colegas de direita, de centro e de esquerda. Isso diz muito do trabalho que todos nós estamos realizando na Câmara.  Seguimos juntos, unidos, com diálogo, equilíbrio e responsabilidade”, afirmou.

Apesar da tentativa de mostrar que conta com o apoio dos pares, os internautas fecharam o cerco e encheram a publicação de comentários negativos.

“Tu é mesmo Hugo Motta Traidor. Achando que é o máximo ser aprovado por um Congresso Da Mamata, inimigo do povo. Isso só prova que você legisla apenas em benefício de uma maioria que mama nas Emendas parlamentares” , disse uma usuária do X.

Para deputados ouvidos pelo iG, isso é reflexo da postura que Motta apresentou diante do impasse com o governo em relação ao IOF. Apesar de falar em manter diálogo, na avaliação desses parlamentares, o presidente da Câmara não se mostrou aberto a dialogar. Exemplo disso é o fato de ele ainda não ter conversado com o ministro Fernando Haddad depois da votação que derrubou o decreto de reajuste do imposto. 

Por outro lado, deputados da oposição encararam essas críticas como uma bravata provocada pela esquerda para deturpar o discurso e desviar a atenção do que realmente importa, que, na visão deles, seria o impedimento de atribuir mais encargos aos setores produtivos. Esses parlamentares também reforçaram o discurso adotado desde o início da discussão acerca do IOF: o governo gasta mais do que ganha e quer colocar a conta para os trabalhadores pagarem. 

Agora é a vez do povo

Os internautas falaram contra, principalmente, as emendas parlamentares. Diversas publicações classificaram o Congresso Nacional como um “verdadeiro sindicato dos ricos” , que derruba uma medida governo com o pretexto de não deixar a conta dos gastos públicos para a população pagar, mas pressiona para a liberação de verbas usadas para benefício próprio. 

“Esse é o Congresso Da Mamata. Um antro de privilégios, onde Hugo Motta, o traidor do povo, não legisla — ele age como capacho dos ricos! Esse Congresso não representa o trabalhador, representa os empresários gananciosos, a Faria Lima! Chega de traição! Agora é a vez do povo!” , escreveu uma internauta. 

Outro ponto que contribuiu para as alegações de que Motta está agindo de acordo com os interesses dos empresários, foi o jantar oferecido pelo ex-governador de São Paulo, João Doria, em que o presidente da Câmara esteve presente junto com representantes do setor empresarial. 

Nas redes sociais, um perfil no TikTok publicou um vídeo, feito por Inteligência Artificial (IA), que simula a mesa do jantar. A publicação viralizou e, nos bastidores, interlocutores próximos a Motta indicam que o parlamentar se irritou com a repercussão negativa. 

A hashtag também foi endossada por representantes do governo. O senador Humberto Costa(PT) defendeu a taxação dos mais ricos como forma de equilíbrio fiscal. “A taxação BBB (bilionários, bancos e bets) passou da hora. Chega de mandar a conta para quem ganha menos e isentar quem ganha mais”, disse o petista. 

O deputado Lindberg Farias(PT), líder do PT na Câmara, reforçou a proposta de taxar os bilionários.

“Agora é a vez do povo. Nossa luta é pra fazer os super-ricos pagarem a conta, defender o direito dos trabalhadores e combater os privilégios das elites. Nós temos um compromisso histórico com a justiça social nesse país. Até aqui retiramos milhões da fome e da miséria extrema” , afirmou. 

A deputada Talíria Petrone (PSOL) foi outra que se juntou ao movimento “Agora é a vez do povo”. “Que os ricos paguem a conta” , publicou. O presidente Lula se manifestou no mesmo sentido. Ele publicou uma foto segurando um cartaz escrito “Taxação dos super-ricos” e, na legenda, disse: “mais justiça tributária e menos desigualdade. É sobre isso” .



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