
Bioluminescência
A Lagoa Jacaroá, em Maricá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, se tornou palco de um espetáculo fascinante da natureza. Visível principalmente à noite, a bioluminescência desperta encantamento e curiosidade, mas tem explicação científica: trata-se de uma reação química natural provocada por microrganismos.
Embora pareça cena de cinema, o fenômeno é, na verdade, um indicativo do bom estado ecológico da lagoa — um equilíbrio ambiental que vem sendo monitorado de perto por pesquisadores do projeto Lagoa Viva, da Universidade Federal Fluminense( UFF) em parceria com a Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar).
O fenômeno é provocado pela presença do microrganismo Noctiluca scintillans , conhecido como centelha-do-mar, um dinoflagelado marinho que emite luz quando estimulado mecanicamente. “Variações de temperatura, salinidade e baixa luminosidade contribuem para intensificar o brilho” , explica o pesquisador Moisés Leão Gil, do projeto Lagoa Viva, ao iG.
Um termômetro natural da saúde da lagoa
Segundo os pesquisadores, a presença da bioluminescência é um indicativo positivo, já que significa que a lagoa apresenta boas condições de oxigenação e está livre de contaminações críticas.
O projeto também observa parâmetros como salinidade, nutrientes e fauna bentônica. “Até agora, não há alterações significativas que indiquem risco ambiental, e relatos de moradores apontam que o fenômeno costuma ocorrer no início do inverno” , diz Moisés.
Ainda assim, o crescimento do fluxo turístico pode se tornar uma ameaça. “Dependendo da forma de visitação, há risco de impacto. O uso de embarcações movidas a combustão, como jet-skis e lanchas, pode aumentar a turbidez da água e liberar poluentes nocivos” , alerta o pesquisador. Para evitar prejuízos ao ecossistema, o projeto aposta na conscientização social e no monitoramento constante.
Além de ser um atrativo turístico, a bioluminescência também tem valor científico e pedagógico. O biólogo Renan Amorim ressalta: “A bioluminescência é uma manifestação lúdica de um fenômeno natural, ao passo que o Lagoa Viva contribui para a divulgação científica através da explicação técnica relacionada com esse processo em uma linguagem acessível ao grande público.”
Para ele, essa combinação favorece a disseminação do conhecimento científico e estimula a conscientização sobre a importância de preservar o sistema lagunar, reconhecido como um valioso patrimônio natural de Maricá.
“O projeto monitora as lagoas de forma permanente, analisando parâmetros físico-químicos e biológicos, tais como plâncton, macrofauna bentônica e bactérias termotolerantes Escherichia coli.” , destaca Renan Amorim.
A voz dos moradores: entre a tradição e a inovação
A jornalista e remadora Rose Lobato, moradora da região, compartilha a experiência com o fenômeno: “Nossa vivência como moradores e remadores, é que o fenômeno sempre aconteceu. Mas esse ano está muito mais evidente. A experiência é única e lúdica. Eu descrevo como um céu líquido. Onde revivemos a infância e a poesia de tempos ancestrais.”
Rose também enfatiza a importância de aliar saberes locais à inovação. “Ainda há muito a ser feito no sentido de preservação. Acredito que as novas tecnologias, aliadas aos conhecimentos tradicionais dos povos que vivem, pescam e remam na Lagoa de Jacaroá, possam, sem dúvidas, gerar uma comoção para um olhar ecológico sobre essas águas. Além de provocar possíveis políticas públicas para a proteção desse nosso ativo verde. Acima de tudo, o bem da natureza — para que, nessa era do antropoceno, Maricá possa ser exemplo e respeitar nossos recursos naturais, e que a bioluminescência possa ser vivida e experimentada pelas futuras gerações.”
IG Último Segundo