A jornalista Marina Semensato, do Portal iG, foi falsamente associada a um assassinato em massa no Haiti
O uso da imagem da jornalista Marina Semensato, do Portal iG, em vídeos que a acusam falsamente de envolvimento em um massacre no Haiti reacendeu o debate sobre a responsabilização por crimes de desinformação nas redes sociais.
Embora o caso esteja em apuração por autoridades competentes, ele ilustra um tipo de crime cibernético que se tornou recorrente no Brasil.
Para compreender como esses delitos são investigados, a reportagem do iG ouviu a delegada Cristiana Angelini, chefe da Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de Minas Gerais.
Angelini explicou que a exclusão de perfis ou publicações após a viralização de fake news não impede a responsabilização criminal dos envolvidos.
“Mesmo com a exclusão do conteúdo, a responsabilização é possível, porque as plataformas são obrigadas a guardar os registros de conexão por até seis meses”, afirmou.
A delegada, que atua desde 2012 em investigações relacionadas a crimes digitais, destacou que é comum o uso de fotos e vídeos reais de pessoas inocentes em montagens falsas que circulam sem checagem, atingindo reputações e provocando riscos à integridade das vítimas.
“A publicação do conteúdo já configura o crime. A exclusão posterior não apaga o dano causado, nem elimina a responsabilidade do autor” , explicou.
Como funciona a investigação
Segundo Angelini, a apuração de crimes desse tipo envolve a análise técnica do conteúdo, a coleta de provas disponíveis nas redes sociais e, quando necessário, a solicitação de dados diretamente às plataformas.
As investigações podem resultar em pedidos de quebra de sigilo de dados telemáticos autorizados pela Justiça.
“É possível identificar quem produziu e quem compartilhou conteúdos falsos, mesmo se os perfis forem apagados. O IP e outros dados de conexão ficam armazenados” , disse a delegada ao iG.
As principais tipificações criminais aplicáveis a casos de fake news são calúnia, difamação, injúria, falsa identidade, perseguição digital e associação criminosa, quando há atuação coordenada.
A viralização, segundo ela, pode agravar as penas ou ampliar o impacto civil da ação, incluindo pedidos de indenização por danos morais.
O que fazer ao ser vítima
As plataformas como TikTok, Facebook e Instagram mantêm políticas internas para remoção de conteúdos falsos, mas o processo pode ser lento
Angelini recomenda que vítimas de conteúdo falso preservem todas as provas antes mesmo de buscar a polícia. Isso inclui capturas de tela, links, gravações e identificação de perfis.
O registro pode ser feito presencialmente em uma delegacia, preferencialmente especializada, ou de forma on-line, dependendo da localidade.
“A coleta de provas é essencial. Quanto mais rápido a vítima age, maiores são as chances de identificar os responsáveis” , afirmou.
Além da atuação policial, a delegada lembra que as vítimas também podem denunciar o conteúdo nas próprias plataformas, recorrer a entidades de apoio jurídico e acionar a Justiça civil.
O papel das redes sociais
As plataformas como TikTok, Facebook e Instagram mantêm políticas internas para remoção de conteúdos falsos, mas o processo pode ser lento, especialmente em casos de grande alcance. Para a delegada, ainda há lacunas no controle de danos.
“A velocidade da desinformação é maior do que a capacidade de reação das plataformas. Por isso, a prevenção e a educação digital são fundamentais” , disse Angelini.
Ela também defendeu o fortalecimento da legislação voltada à proteção da imagem nas redes e à responsabilização de criadores de conteúdo que lucram com desinformação.
Casos semelhantes
Embora não esteja à frente da apuração envolvendo a jornalista do iG, Angelini relatou que casos semelhantes já foram investigados pela Polícia Civil mineira, envolvendo influenciadores digitais, políticos e até vítimas de tragédias que tiveram suas imagens utilizadas de forma distorcida para atrair engajamento.
“Já identificamos grupos organizados que produzem conteúdo falso em série, sempre com fins políticos ou financeiros. O dano à vítima é apenas um efeito colateral para eles”, afirmou.
Educação digital e combate
A delegada ainda destacou que o enfrentamento à desinformação exige articulação entre instituições públicas, plataformas tecnológicas e a sociedade.
“A responsabilização penal é apenas uma etapa. O combate à desinformação começa com educação digital, consciência coletiva e denúncia ativa” , concluiu.
Caso da jornalista do Portal iG
Fake news que ferem a honra podem ser imputados em diferentes crimes
A jornalista Marina Semensato, do Portal iG, foi falsamente associada a um assassinato em massa no Haiti por meio de vídeos compartilhados em redes sociais como TikTok, Instagram e Facebook, o que gerou impactos negativos à sua reputação.
O Portal iG tomou providências jurídicas contra os responsáveis pela divulgação dessas fake news, solicitando a remoção dos conteúdos e orientando a denúncia nas plataformas.
O caso evidencia os riscos do uso indevido de imagens reais na disseminação de desinformação e a necessidade de mecanismos mais eficazes para combater notícias falsas on-line.
Perfis
Os perfis “Pega Visão Oficial”, “Alexia Barretoss” e “TokSilva” são alguns dos principais canais no TikTok que divulgaram os vídeos contendo a fake news envolvendo a jornalista Marina Semensato.
Essas contas se caracterizam por publicações sensacionalistas, que abordam temas variados relacionados a crimes e acontecimentos polêmicos, muitas vezes sem verificar a veracidade das informações.
“Pega Visão Oficial” e “Alexia Barretoss” costumam comentar sobre assuntos nacionais e internacionais com um tom exagerado e polêmico, sem preocupação com a checagem rigorosa dos fatos, enquanto “TokSilva” usa músicas de suspense e destaca casos de violência e crimes de forma dramática, também sem confirmação das informações.
Esses perfis contribuem para a disseminação rápida e ampla de conteúdos falsos, explorando o alcance das redes sociais para ganhar seguidores e engajamento.
A ausência de verificação e a publicação de informações não confirmadas são parte do padrão que permite que notícias falsas, como a envolvendo Marina Semensato, ganhem visibilidade e causem danos a pessoas inocentes.
IG Último Segundo