Encarregado de negócios dos EUA vai ao Senado em busca de diálogo


Escobar citou durante o encontro que um parlamentar brasileiro está atuando em território norte-americano
Reprodução/Randolfe Rodrigues

Escobar citou durante o encontro que um parlamentar brasileiro está atuando em território norte-americano

O líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues(PT), recebeu nesta quarta-feira (16) o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para discutir a taxação de 50% imposta a produtos brasileiros.

Durante o encontro, realizado no gabinete do parlamentar, o representante norte-americano também buscou esclarecimentos sobre a  atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro(PL) junto a autoridades dos EUA.

De acordo com o senador, Escobar citou durante o encontro que um congressista brasileiro está atuando em território norte-americano.  “Me parece que a vinda do diplomata aqui foi claramente para consultar o parlamento brasileiro sobre a atuação desse deputado” , revelou Randolfe.

Em resposta, o senador disse ter ressaltado que as declarações de Eduardo Bolsonaro sobre a democracia e o Judiciário brasileiro não representam o posicionamento do Congresso Nacional. 

“A posição desse deputado nos Estados Unidos não só não comunga com a posição do Parlamento brasileiro, como também é um crime contra as instituições brasileiras. O deputado que está atuando nos EUA fere a Constituição do país, está no uso ilegal de suas atribuições e fere a lei penal” , declarou Randolfe em conversa com jornalistas após a reunião. 

O senador ainda afirmou que deixou claro para Escobar que o governo brasileiro refuta as intervenções feitas pelo filho do ex-presidente Jair Bolsonaro(PL) em território norte-americano. 

“Eu disse que o governo brasileiro repudia qualquer interferência em assuntos internos, que o Brasil vive sob uma democracia com pleno funcionamento de instituições e que este governo havia sido, inclusive, vítima de uma tentativa de golpe de Estado no 8 de janeiro de 2023” , contou Randolfe. 

Na carta enviada pelo governo dos EUA ao chefe do Executivo brasileiro, o presidente Donald Trump citou o ex-presidente Bolsonaro para justificar a aplicação de tarifas de 50% sobre importações de produtos brasileiros, que começam a valer a partir de 1ª de agosto. 

Trump escreveu que o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro é um “caça às bruxas”.  “A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato — inclusive pelos Estados Unidos — é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar imediatamente” , defendeu o presidente dos EUA.

A ofensiva de Trump foi interpretada como um reflexo direto da articulação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Desde que deixou o Brasil, o deputado licenciado tem se movimentado junto a autoridades norte-americanas para defender  sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes e promover medidas que impactem o governo brasileiro, em uma tentativa de pressionar os Poderes por decisões favoráveis ao seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Randolfe não detalhou quais são as impressões de Escobar sobre a atuação de Eduardo Bolsonaro. O encarregado de negócios dos EUA também não respondeu às perguntas dos jornalistas após a reunião, mas afirmou que, em breve, fará um pronunciamento sobre o assunto. 

Reunião com Alcolumbre e Motta

De acordo com Randolfe, o encontro desta quarta-feira foi solicitado por Escobar. Após o contato do diplomata estadunidense para marcar um horário para a conversa, o senador disse ter informado o Ministério das Relações Exteriores (MRE) sobre a reunião e foi orientado sobre como agir. 

Durante o encontro, Escobar afirmou que está aberto ao diálogo para tentar resolver o impasse sobre as tarifas de Trump e Randolfe ressaltou que o governo brasileiro está à disposição para conversar, mas orientou o diplomata a procurar o MRE. 

“Recomendei que ele procurasse o Itamaraty, que é o canal oficial de diálogo do governo brasileiro, conduzido por determinação do presidente da República, com o vice-presidente Geraldo Alckmin” , reiterou Randolfe. 

O senador, entretanto, se dispôs a articular um encontro entre Escobar e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre(União), e da Câmara, Hugo Motta(Republicanos). Segundo Randolfe, a intenção do diplomata é ouvir representantes do Congresso Nacional. 

“No encontro, esclareci que a posição do Parlamento brasileiro já foi manifestada pelos presidentes Davi Alcolumbre e Hugo Motta, em apoio à condução dada pelo governo brasileiro” ,  salientou Randolfe.

Escobar tem se reunido com diversos setores após o anúncio de tarifaço de Trump. Na terça-feira (15), ele encontrou com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e empresários.

Alcolumbre e Motta pregam união 

Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados se reuniram com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, nesta quarta-feira (16), para debater sobre a taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros.

Após a reunião, os presidentes das Casas Legislativas e Alckmin pregaram a unidade nacional e a defesa dos interesses brasileiros, especialmente em um contexto de tensão nas relações diplomáticas e comerciais internacionais.

“Nós vamos defender a soberania nacional, vamos defender os empregos dos brasileiros, vamos defender os empresários brasileiros que geram a riqueza para o Brasil. Mas tenho convicção que esse processo tem que ser liderado pelo Poder Executivo” , declarou Alcolumbre. 

O presidente do Senado e Motta transmitiram uma mensagem de união entre os poderes para enfrentar desafios externos e fortalecer o Brasil.

“Temos mais um momento de unidade nacional, de unidade em favor do país, de proteção à nossa indústria, aos nossos empregos, às nossas relações diplomáticas com os demais países” , disse o presidente da Câmara. 



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