Em entrevista ao GPS|Brasília, Fernando Carpaneda fala sobre carreira internacional


Em entrevista ao GPS|Brasília, Fernando Carpaneda fala sobre carreira internacional
Débora Oliveira

Em entrevista ao GPS|Brasília, Fernando Carpaneda fala sobre carreira internacional

O artista visual Fernando Carpaneda, nascido em Brasília e radicado nos Estados Unidos, segue consolidando sua trajetória internacional. Em entrevista ao GPS|Brasília, ele relembra os desafios de migrar da periferia de Taguatinga para o cenário artístico de Nova York, onde acaba de conquistar o primeiro lugar na exposição The Art of New York , realizada pelo Arkell Museum . A obra premiada, O Filho do Homem , traz a representação de um homem negro, em uma abordagem que rompe com estereótipos raciais e coloca o corpo negro no centro da narrativa artística.

Além do reconhecimento no Arkell Museum, o prêmio inclui uma exposição individual no local, que já está em fase de planejamento. Carpaneda pretende explorar temas que marcaram sua carreira, como a representação de corpos dissidentes e a espiritualidade sob um olhar queer e marginalizado. “Quero que essa exposição seja uma extensão do que venho construindo há anos: um olhar honesto, cru e poético sobre corpos reais e histórias marginalizadas”, antecipa o artista.

Antes disso, ele se prepara para retornar ao Brasil, onde participará do Festival Vórtice, o maior evento de arte homoerótica do país, em São Paulo. A mostra, que abre no dia 31 de maio e segue até 29 de junho, será uma oportunidade para Carpaneda dialogar com o público brasileiro sobre sua arte, marcada pela resistência e pela celebração de identidades periféricas e queer. Confira a entrevista!

Em entrevista ao GPS|Brasília, Fernando Carpaneda fala sobre carreira internacional

Você é de Brasília e agora está em Nova York, conquistando prêmios internacionais. Como foi essa trajetória entre a cidade satélite e o cenário artístico dos Estados Unidos?

Nasci em Brasília, mas cresci em Taguatinga, uma cidade satélite onde tudo sempre foi muito direto, cru e, de certa forma, desafiador. Foi nesse ambiente que minha visão artística começou a se formar, observando as contradições sociais, a desigualdade e a força cultural da periferia. Essa vivência moldou a coragem que trago na minha arte. Quando me mudei para Nova York, enfrentei o choque de ser imigrante, gay e artista em um mercado exigente, mas também encontrei aqui uma abertura maior para temas que sempre explorei: identidade, corpo, sexualidade e resistência. A trajetória foi feita de muito trabalho, resiliência e uma necessidade quase visceral de me expressar, independentemente das barreiras.

Sua obra premiada no Arkell Museum, O Filho do Homem, retrata um homem negro. Qual foi a inspiração por trás dessa escolha temática?

A escolha foi intencional. O Filho do Homem é uma afirmação da beleza e da força de um corpo negro, num mundo ainda profundamente marcado por preconceitos raciais. Eu quis romper com estereótipos e trazer esse corpo para o centro da representação simbólica da humanidade, da espiritualidade e da dignidade. Para mim, é uma forma de reescrever narrativas visuais tradicionais que sempre colocaram o homem branco no papel central. É uma celebração, mas também um manifesto.

Como foi receber esse reconhecimento em um museu especializado em arte americana, sendo um artista imigrante e gay em um contexto de tensões sociais?

Foi profundamente emocionante e, ao mesmo tempo, político. Receber esse reconhecimento como um artista imigrante e gay, num espaço institucional de arte americana, me fez sentir que estou abrindo portas — não apenas para mim, mas para outros artistas que não se encaixam nas normas esperadas. É também um lembrete de que a arte ainda pode atravessar fronteiras e provocar diálogos, mesmo em tempos de polarização.

Além do prêmio, você também terá uma exposição individual no Arkell Museum. Já começou a planejar o que vai apresentar?

Sim, já comecei a planejar. Quero que essa exposição seja uma extensão do que venho construindo há anos: um olhar honesto, cru e, ao mesmo tempo, poético sobre corpos reais, histórias marginalizadas e desejos silenciados. Estou trabalhando em obras que exploram a fragilidade e a potência da existência humana, com foco em corpos dissidentes — especialmente aqueles que desafiam normas sociais, raciais e de gênero.

Olhando para o futuro, que projetos ou temas você gostaria de explorar em suas próximas obras?

Quero aprofundar a discussão sobre identidade e pertencimento, especialmente em relação às juventudes queer das periferias. Também venho desenvolvendo trabalhos que dialogam com espiritualidade e religiosidade a partir de uma perspectiva dissidente, questionando os discursos tradicionais de salvação, culpa e pureza. E claro, continuar dando visibilidade a corpos reais — com suas imperfeições, histórias e potências — é uma missão contínua no meu trabalho.

The post Em entrevista ao GPS|Brasília, Fernando Carpaneda fala sobre carreira internacional first appeared on GPS Brasília – Portal de Notícias do DF.



IG Último Segundo