Avanço das redes sociais aumentou os conflitos digitais que são investigados
A demora na exclusão de fake news ou de qualquer outro tipo de conteúdo impróprio ou ilícito nas redes sociais é uma prática das plataformas digitais.
É o que aponta João Benedito dos Santos Junior, perito forense em crimes cibernéticos, em entrevista ao Portal iG, a respeito do caso da jornalista Marina Semensato, que foi vítima de fake news na última semana.
Em vídeos divulgados no TikTok, a jornalista foi apontada como sendo a autora de um crime de envenenamento no Haiti que ela havia reportado dias antes, no iG.
Logo que tomou conhecimento do caso, Marina denunciou os vídeos à plataforma que, a princípio, respondeu que o material não violava as suas diretrizes.
No dia seguinte, ao ser questionado pela reportagem do portal, por meio de nota, o TikTok respondeu que “os vídeos não estavam mais disponíveis, porque o conteúdo violava as Diretrizes da Comunidade e que não era permitida a circulação de desinformação na plataforma.
Lentidão e falta de transparência
Esse tempo lento de tomada de decisão, na opinião do perito forense, acaba sendo uma prática das plataformas digitais, quando não deveria ocorrer.
“O ideal é que, a qualquer sinal de notificação de um usuário informando conteúdo considerado impróprio, ilícito ou qualquer coisa parecida, a plataforma tomasse uma atitude bastante ligeira e séria para retirar aquele conteúdo do ar ou, então, suspendê-lo ou, na pior das hipóteses, avisar ao autor daquele conteúdo de que houve uma denúncia, que alguém não se sentiu confortável com aquilo.”
No entanto, as plataformas, em geral, não agem assim, segundo ele. E a questão acaba sendo decidida na Justiça, que vai julgar a questão, se baseando em laudos técnicos.
Análise técnica
É aí que entra o trabalho de perito, realizando toda a análise técnica no âmbito de um processo judicial, investigando quem postou, a data, o horário e como foi feita a postagem.
A partir desse rastreamento, se elabora um laudo.
“Sempre que um conteúdo é publicado em algum local de internet, seja de vídeo, áudio, imagem, e até mesmo texto, há alguma infraestrutura de armazenamento por detrás dessa publicação. No caso, a plataforma é responsável por aquilo que publica, mesmo que o usuário tenha publicado.”
João Benedito dos Santos Junior, perito forense em crimes cibernéticos
Ainda segundo ele, se ficar demonstrado que a plataforma não agiu de forma rápida para impedir que aquele conteúdo continuasse sendo exibido, compete ao Judiciário decidir se ela é cúmplice ou não daquele episódio, sempre com base na análise realizada pelos peritos em crimes cibernéticos.
Além da lentidão na tomada de decisões em caso de denúncias de conteúdo indevido, Santos Junior também aponta a falta de transparência por parte da plataforma em muitos casos em que decide retirar do ar um determinado conteúdo, sem explicação.
“Também há episódios em que conteúdos são retirados de maneira indevida. Aparentemente, não ferem as regras, mas são retirados, sem explicação, com total falta de transparência. Então, tem as duas vias, na verdade” .
Aumento das demandas
Diante do avanço das redes sociais, as demandas dos peritos que investigam crimes cibernéticos nos últimos anos, segundo Santos Junior.
“As pessoas se expõem muito e expõem as outras também, o que acaba gerando muito conflito. Cresceu muito o número de conflitos envolvendo o mundo digital e, obviamente, que a perícia computacional acaba sendo muito demandada” , destaca.
Diante desse aumento de demanda, o perito acredita que a regulação das redes sociais poderia colaborar.
“Acredito que a regulação ajudaria, mas há de se ter muito cuidado com a forma de regular também. Para ser feita da forma mais justa possível e que realmente proteja a sociedade. Mas, é bem verdade que, da forma como está, a internet é um pouco, sim, uma terra sem leis” , opina.
Na avaliação do perito forense, as tecnologias aproximam, resolvem problemas e facilitam a vida, mas, infelizmente, há sempre o uso indevido, o ilícito.
“As redes sociais têm alcance mundial e qualquer conteúdo postado pode influenciar muita gente, negativa ou positivamente. Por isso, é preciso, sim, pensar em algo que deixe mais claro para cada um de nós o que pode e o que não pode. Mas, ao mesmo tempo, sem ser algo imposto. Uma regulação debatida, sem que seja da cabeça de duas ou três pessoas. Porque isso, definitivamente, não vai funcionar e vai causar mais problemas do que os que já existem”, conclui.
IG Último Segundo