Controle de bebidas foi derrubado por ministro do STF


O caso ocorre em um contexto de vulnerabilidade do setor
Matthieu Joannon/Unsplash

O caso ocorre em um contexto de vulnerabilidade do setor

Três pessoas morreram e outras nove estão internadas na Grande São Paulo após consumirem bebidas adulteradas com metanol. O caso ocorre meses após o ministro Cristiano Zanin, do STF, derrubar o controle de bebidas.

Em abril, o magistrado do Supremo Tribunal Federal havia suspendido decisões do TCU (Tribunal de Contas da União) que obrigavam o restabelecimento do Sicobe (Sistema de Controle de Produção de Bebidas), modelo desativado pela Receita Federal em 2016.

O Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas confirmou a presença de metanol em amostras de bebidas analisadas nos casos de intoxicação.

EntendaSP confirma terceira morte associada a intoxicação por metanol

O álcool metílico é altamente tóxico e pode causar visão turva, dor abdominal, tontura, convulsão, danos irreversíveis ao cérebro, fígado e nervo óptico, e até levar à morte em doses elevadas.

Criado em 2007 pela Receita Federal, o Sicobe (Sistema de Controle de Produção de Bebidas) exigia a instalação de equipamentos contadores nas linhas de produção de cervejas, refrigerantes e águas.

Os aparelhos, implantados sob supervisão da Casa da Moeda e posteriormente operados por empresa privada, registravam volumes de produção e permitiam a concessão de créditos presumidos de PIS/Cofins por unidade envasada.

O objetivo era aumentar a fiscalização tributária e controlar a circulação de bebidas, incluindo o recolhimento de impostos como IPI, PIS e Cofins.

Até 2016, o sistema funcionava integralmente, mas era criticado por custos elevados e limitações na fiscalização de fraudes sofisticadas.

Em 2014, os gastos com operação foram estimados em R$ 1,4 bilhão, valor comparado à contratação de cerca de 4.300 auditores-fiscais.

Em dezembro de 2016, a Receita Federal publicou atos que dispensaram a obrigatoriedade do Sicobe, alegando substituição por controles eletrônicos e cruzamento de dados via SPED (Sistema Público de Escrituração Digital).

Entre 2023 e 2025, o TCU entendeu que a suspensão por ato administrativo extrapolou competências legais e determinou a reativação do sistema, alegando que a medida contrariava normas que previam controle obrigatório e princípios constitucionais de legalidade.

A União recorreu ao STF, argumentando que o retorno do Sicobe geraria impacto fiscal de R$ 1,8 bilhão por ano sem previsão orçamentária e que a Receita possui competência legal para dispensar equipamentos de controle, desde que sejam adotadas alternativas equivalentes.

A liminar concedida por Zanin mantém a suspensão dos acórdãos do TCU e valida, por enquanto, a dispensa do sistema físico de contagem.

Fraudes e falsificações no mercado

Polícia investiga série de casos de intoxicação de pessoas que teriam consumido bebidas alcóolicas adulteradas com metanol
Reprodução

Polícia investiga série de casos de intoxicação de pessoas que teriam consumido bebidas alcóolicas adulteradas com metanol

O caso ocorre em um contexto de vulnerabilidade do setor. Pesquisa divulgada pela Fhoresp (Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo) em abril apontou que 36% das bebidas comercializadas no Brasil eram fraudadas, falsificadas ou contrabandeadas.

Vinhos e destilados são os produtos mais afetados, e a pesquisa revelou que uma a cada cinco garrafas de vodca vendidas no país é falsificada.

Segundo a Fhoresp, a prática criminosa, antes percebida apenas como sonegação fiscal, agora coloca em risco a saúde da população.

O diretor-executivo da entidade, Edson Pinto, afirmou que consumidores e empresários do setor são vítimas do esquema, e que a maioria dos estabelecimentos atua de forma correta, mas há casos de conivência.

Ele pediu ação articulada das autoridades para desmantelar o esquema de falsificação e reforçou que, sem fiscalização eficiente, o problema tende a se perpetuar.

No domingo (28), a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) publicou nota técnica com recomendações emergenciais aos comerciantes, orientando a checagem da procedência das bebidas e medidas de segurança para evitar a comercialização de produtos adulterados.

A Fhoresp reforçou que comerciantes podem ser vítimas ao receber produtos adulterados, mas que a fiscalização precisa ser eficiente para reduzir riscos à saúde e à economia.



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