Castro subiu num palanque cheio de sangue e se mostrou perdido


O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL)
Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL)

Parecia a chegada do homem à Lua.

Por helicóptero, imagens capturavam o momento em que homens armados corriam pela mata para fugir da operação policial nos complexos da Penha e do Alemão.

Uma bandeira do Brasil foi hasteada no teleférico da comunidade, como se anunciasse: o Estado chegou.

Tudo isso aconteceu em 2010.

Quinze anos depois, cenas de fuga se repetiram. Dessa vez, as forças policiais voltaram com mais força. E os alvos, em vez de só fugir, num primeiro momento revidaram. O resultado é o maior número de mortos em uma ação policial na cidade do Rio de Janeiro. Há quem estime que ao menos cem pessoas foram assassinadas na troca de tiros.

Entre um ponto e outro da História, não faltaram incursões do tipo na periferia do Rio. Tudo em nome da guerra às drogas. Bandidos foram derrotados. Policiais tombaram. E a guerra venceu todo mundo, como sempre.

Ninguém deixou de consumir, empacotar, traficar após a bandeira nacional ser levantada em um território deflagrado.

No máximo as autoridades da época conseguiram mostrar pulso firme para conseguir votos em ano eleitoral. Não se sabe se por ignorância ou consciência de que não é assim que se acaba com um problema – se fosse, teria acabado em 2010.

Cláudio Castro, o comandante da operação agora, não esperou o sangue esfriar para subir no palanque. Disse que o estado do Rio estava abandonado e sozinho numa luta ignorada pelo governo federal.

Foi desmentido no mesmo dia com uma lista de pedidos atendidos pelo Ministério da Justiça nos últimos anos. O titular da pasta, Ricardo Lewandowski, precisou ir a público dizer que nenhum blindado foi solicitado na véspera da operação. Nem na antevéspera.

O governador bolsonarista só provou que está em perdido. Nos números e no controle da situação. Conseguiu sitiar o Rio, com uma ordem de recolher como em filmes de faroeste, e colocou a vida de quem nada tem a ver com o crime em risco.

Foi por isso que a “maldita” ação direta de inconstitucionalidade sobre operações nas favelas citada por ele foi determinada pelo STF. Era pelas crianças que saiam para jogar bola e morriam como elementos suspeitos por portarem chuteira nas mochilas. Ou guarda-chuvas.

A operação acontece em um momento em que os Estados Unidos se atiçam para enviar militares à América Latina para supostamente combater o que classificam como narcoterroristas. O que, no caso da Venezuela, serve como pretexto para combater Estados acusados de abrigar narcoterroristas.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) nem cora ao pedir para Donald Trump mandar atacar embarcações suspeitas de envolvimento com o tráfico na Baia da Guanabara. Que ninguém imagine que a preocupação ali é com a segurança dos cariocas.

Numa guerra a primeira vítima é a verdade. E a história dos vitoriosos agora esconde que o próximo massacre é só questão de tempo.
Desmontar o crime organizado é compreender o que permite que ele se estruture como crime organizado. Isso inclui uma investigação profunda sobre agentes do Estado e do sistema financeiro que alimentam e permitem que o ciclo se renove.

Mais ou menos como fez a Polícia Federal ao desmantelar, em São Paulo, os tentáculos do PCC com a Faria Lima. Sem dar um tiro sequer e sem colocar a vida de moradores ou trabalhadores de escritórios vizinhos da famosa avenida em risco.

Já no Rio… Alguém realmente está mais seguro na manhã seguinte da operação?

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG



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