Confira como colaborar para que a prefeitura de sua cidade reduza os gastos com a coleta e o transbordo do lixo; o descarte correto do lixo ou de resíduos evitam danos aos meio ambiente, a poluição das praias e a morte de animais marinhos
Por Salim Burihan
A prefeitura de Caraguatatuba, no Litoral Norte Paulista, gastou no ano passado, 2024, um total de R$ 25,7 milhões com a coleta e o transbordo do lixo. A despesa supera os orçamentos deste ano de 13 de suas 23 secretarias municipais, entre elas, as do Meio Ambiente, habitação, Esportes, Cultura e Turismo.
A cidade não possui aterro sanitário e o lixo produzido diariamente é transportado por carretas até um aterro particular na cidade de Jambeiro, a 78 quilômetros do município. São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela também fazem o transbordo do lixo urbano para o mesmo local.
A Empresa FortNort Desenvolvimento Ambiental e Urbano é responsável pela coleta na do lixo doméstico e comercial na cidade. Em 2024, o Município de Caraguatatuba gastou R$ 11.335.138,19 com a coleta de lixo; R$ 14.309.709,65 com transporte do lixo até o aterro da Engep Ambiental Ltda, em Jambeiro; e R$ 111.091,56 com a aluguel do local do transbordo, na Fazenda Poiares. A empresa responsável pelo transbordo é o Consórcio Caraguá Ambiental. Ao todo, a Prefeitura gastou R$ 25.775.939,40 com a coleta de lixo e o transbordo em 2024.
Na temporada de verão, os gastos como lixo chegam a triplicar pois a cidade com cerca de 135 mil habitantes recebe mais ou menos 2 milhão de turistas entre 25 de dezembro e o carnaval. Para atender a demanda na temporada, a prefeitura reforça o número de caminhões, equipamentos e coletores. Apenas na virada do ano, a prefeitura recolheu cerca de 320 toneladas, segundo o secretário de Serviços Públicos e vice-prefeito, Sérgio Braz.
A prefeitura enfrentou alguns problemas este ano porque a empresa FortNorte, responsável pelo serviço no município de Caraguatatuba, colocou apenas sete caminhões para fazer a coleta do lixo entre a virada do ano e o início de janeiro. Prefeitura pressionou e a empresa ampliou a frota para 10 caminhões. Na “Operação Virada” do ano passado, 2023/20244, o mesmo trabalho foi feito por 16 caminhões, 10 retroescavadeiras e o apoio de veículos como varredeiras mecânicas, caminhões e outros maquinários e cerca de 200 funcionários.
Para complicar, neste período, de superlotação turística e de elevada produção de lixo, boa parte dos moradores, veranistas e turistas depositaram seus lixos e resíduos indevidamente em calçadas, ruas e jardins. O lixo amontoado em locais indevidos gerou muita reclamação. A prefeitura mantém Ecopontos nos bairros da Martim de Sá, Massaguaçu, Golfinhos e Tinga. São aceitos nos Ecopontos: Resíduos de Construção civil, Móveis e Equipamentos Domésticos, Sobras de Poda, Pneus, Material de Coleta Seletiva (Papel, Plástico, Vidro, Metal), Óleo de Cozinha, Resíduos Eletrônicos, Pilhas, Baterias de equipamentos eletrônicos e Madeiras.
Confira os locais e horários de funcionamento dos Ecoponto: Golfinhos: Local: Alameda dos Corais; Tinga: Local: Avenida Rio Grande do Norte, rua principal da Feira do Rolo; Martim de Sá: Local: Rua Carijós, 170, no bairro Martim de Sá – próximo a Praça do ParCão; e, Massaguaçu: Local: Esquina da Avenida Antônio de Lucca com a Avenida Três. Os Ecopontos funcionam de Segunda a sábado, das 8h30 às 17h e aos domingos, das 8h30 às 14h.
Lixo x secretarias
O jovem prefeito da cidade, Mateus Silva(PSD), quer mudar essa realidade. Segundo ele, a despesa com o lixo é extremamente elevada em Caraguatatuba e nas demais cidades da região. Quanto mais a população desrespeita as leis e descarta seu lixo incorretamente, mais dinheiro tem que ser investido para manter a cidade limpa. Confira os orçamentos das secretarias municipais de Caraguatatuba para 2025 em comparação com os gastos da prefeitura com a coleta e transbordo do lixo em 2024.
Os R$ 25,7 milhões gastos com a coleta e o transbordo do lixo em 2024, superam os orçamentos individuais de 13 das 23 secretarias municipais em 2025, entre elas, Esportes (R$ 16.965.003,00), Turismo (R$ 7.337.993,00), Cultura (R$ 10.081.491,00), Habitação ( R$ 2.005.724,00), Meio Ambiente (R$ 16.654.349,00), Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Idoso (R$ 17.106.364,00); Secretaria de Urbanismo ( R$ 5.489.096,00); Secretaria de Assuntos Jurídicos ( R$ 14.872.254,00); Secretaria de Planejamento Estratégico e Desenvolvimento (R$ 4.236.326,00); Gabinete do Prefeito ( R$ 6.215.434,00); Secretaria de Governo (R$ 1.935.792,00); Secretaria da Tecnologia da Informação ( R$ 6.918.618,00); e, Secretaria de Comunicação ( R$ 10.797.373,00).
As secretarias com orçamentos superiores aos gastos com o lixo são: Secretaria de Administração- R$ 36.973.672,00; Secretaria da Fazenda- 114.212.415,00; Secretaria de Obras Públicas- R$ 63.614.432,00; Secretaria de Serviços Públicos- R$ 101.575.554,00; Secretaria da Mobilidade Urbana e Proteção ao Cidadão- R$ 60.519.388,00; Secretaria de Assistência Social- R$ 32.066.420,00; Secretaria da Educação- R$ 345.777.584,00; e, Secretaria da Saúde- R$ 280.021.921,00
Usina
O prefeito Mateus Silva preocupado com os elevados gastos com a coleta e o transbordo do lixo está dialogando com os prefeitos das cidades vizinhas para implantar uma Usina de Tratamento de Lixo no município, através da criação de um consórcio. A iniciativa do prefeito é das mais válidas e conta como apoio do prefeito de São Sebastião, Reinaldinho Moreira e da prefeita de Ubatuba, Flávia Paschoal, que convivem com o mesmo problema. Enquanto isso não é concretizado a população, moradores, veranistas e turistas devem colaborar reduzindo a produção diária do lixo, adotando a reciclagem e evitando o descarte irregular para evitar a poluição das praias e danos ao meio ambiente.
Entenda: uma usina de lixo pode ser uma usina de reciclagem ou uma usina de incineração. A usina de reciclagem separa os materiais recicláveis, transformando-os em matérias-primas para a produção de novos produtos. A separação pode ser manual ou automática. A usina de incineração queima o lixo em fornos específicos, gerando energia térmica que pode ser transformada em energia elétrica.
A produção de lixo e de resíduos crescem a cada dia na região. O problema é regional. As prefeituras dobraram e ou até triplicaram seus caminhões e suas equipes de coleta na virada do ano, mesmo assim, tiveram muitas dificuldades para normalizarem a coleta. Ubatuba, por exemplo, cidade com cerca de 90 mil habitantes, recebeu cerca de 1 milhão de turistas entre 26 de dezembro e 5 de janeiro. Lá, também, houve descarte irregular, em esquinas, calçadas e jardins, que acabaram se transformando em depósitos de lixos a céu aberto. Uma imagem triste para as cidades litorâneas que vivem e dependem do turismo. Uma ameaça à saúde dos moradores e um risco para a poluição das praias.
O Brasil produz 82 milhões de toneladas de lixo por ano e só pouco mais de 2% são reciclados, segundo uma reportagem do Jornal Nacional. Um levantamento feito em 2020 pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELP), apontou que em média, cada brasileiro gera 379,2 kg de lixo por ano, ou seja, um pouco mais de 1 kg por dia.
No Litoral Norte Paulista, o lixo descartado indevidamente não causa apenas consequências ambientais e de saúde pública, mas também, a morte de animais marinhos. O Instituto Argonauta, com sede em Ubatuba, já registrou casos de animais marinhos que morreram por ingerir lixo, como golfinhos, pinguins e tartarugas.
Veja alguns dos casos de animais mortos por ingerir lixo: um golfinho morreu em Ubatuba em 2017 com uma tira de chinelo presa no focinho, impedindo-o de se alimentar; um pinguim-de-Magalhães foi encontrado com uma máscara embrulhada no estômago; e, várias tartarugas foram encontradas mortas com lixo no estômago.
Dicas
A sociedade pode e deve colaborar com as prefeituras para reduzir os gastos anuais com a coleta e o transbordo do lixo. Pode ser reduzindo a produção do lixo doméstico, diariamente, aderindo a reciclagem, volume de lixo ou simplesmente, fazendo o descarte correto do lixo.
A Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística) publicou em março do ano passado dicas interessantes de como podemos fazer no nosso dia a dia para proteger os recursos naturais e reduzir o volume de lixo: Confira:
Repense, reduza, reuse, recuse, recicle!
- Contribuir para a coleta seletiva, descartando os materiais recicláveis e o óleo de cozinha usado nos dias estabelecidos pela Prefeitura municipal para coleta desses resíduos na sua rua ou entregando no ponto de entrega voluntária – PEV; e contribuir para a logística reversa, descartando os materiais conforme orientação do fabricante. Dessa forma, irão melhorar as condições ambientais pela redução da necessidade de extração de recursos naturais e novas matérias-primas, pois os resíduos serão reinseridos na cadeia produtiva; irá reduzir a quantidade de resíduos enviada para aterros sanitários, aumentando a sua vida útil; e, consequentemente, irá melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas.
- Repensar e reduzir os hábitos de consumo e verificar se realmente é necessário comprar ou descartar determinado produto.
- Reaproveitar materiais que, na maior parte das vezes, vão para o lixo, mas que podem ser reutilizados.
- Dar preferência a produtos que tenham refil.
- Procurar adquirir e usar produtos recicláveis e também os fabricados com materiais resistentes e duráveis. Não usar produtos descartáveis como sacolas plásticas, copos, pratos, talheres e canudos de plástico. Evitar o excesso de embalagens.
- Conservar, consertar e reformar as coisas ao invés de substituí-las por outras.
- Doar roupas, sapatos e objetos que não precisa.
- Reaproveitar os resíduos orgânicos (restos de alimentos e poda) como adubo para as plantas de jardins e hortas.
- Descartar medicamentos não utilizados ou vencidos em farmácias e drogarias habilitadas no seu município, assim se preserva o solo e as águas de contaminação.
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