
Um líder político frequentemente se depara com situações extremas em que deve escolher a opção “menos pior“, ou seja, a menos extrema, a menos desgastante, a menos comprometedora. E quanto mais poder esse líder tiver, mais se verá envolvido neste tipo de situação. Há até uma história sobre isso.
Na Antiga Grécia, Dâmocles vivia elogiando a vida de Dionísio I, ditador de Siracusa, dizendo que ele deveria ser muito feliz por ter tanto poder e riqueza. Dionísio, para mostrar a Dâmocles a realidade da situação, ofereceu-lhe o trono por um dia. Dâmocles aceitou com alegria e passou o dia desfrutando de todos os luxos e privilégios. No entanto, Dionísio mandou que uma espada fosse pendurada sobre a cabeça de Dâmocles por um único fio de cabelo de cavalo.
Dâmocles então percebeu que, apesar de todo o poder e riqueza, ele estava constantemente em perigo, com a possibilidade de a espada cair a qualquer momento e matá-lo. Essa situação simboliza a instabilidade e os riscos inerentes ao poder, mostrando que aqueles que ocupam posições de destaque estão sempre sujeitos a ameaças e desafios.
Trump está por certo diante de um dilema ou pelo menos de uma situação bastante delicada: quer ajudar o seu tradicional aliado, Israel, mas, no momento, para oferecer uma ajuda real deve atacar o Irã e isso traz consequências ao mesmo tempo profundas e imprevisíveis no tocante ao tamanho da resposta iraniana que certamente se seguirá.
Objetivamente: o Irã não é Gaza, Palestina ou mesmo Líbano, países pequenos com forças militares extremamente acanhadas quando comparadas com as forças israelenses. Os iranianos tem cerca de 610 mil militares na ativa, além de 220 mil paramilitares ligados à Guarda Revolucionária, braço de elite das Forças Armadas. O contingente total chega a aproximadamente 830 mil combatentes. E os ataques a Tel Aviv com o uso de mísseis balísticos comprovam se tratar de um outro tipo de inimigo para Israel.
Os dois países, Israel e Irã, aparecem lado a lado no ranking global de poder militar: o primeiro ocupa a 15ª posição e o segundo, a 16ª, segundo o levantamento de 2025 do Global Fire Power. Mas Israel tem os EUA como aliado, com o seu conhecido poder bélico sem paralelo. O Irã, por sua vez, já avisou que alvos de outros países, como França e Reino Unido, podem entrar na mira de suas ações. Além de atentados terroristas de modo indiscriminado.
Trump “subiu o tom” e exigiu a rendição incondicional do Irã, mas, contabilizando a morte de pelo menos 400 pessoas, muitas delas civis, dificilmente assistiremos um simples recuo dos iranianos. Os EUA por certo não buscarão uma intervenção de guerra clássica com uso de tropas em solo, algo totalmente inadequado no contexto. Mas podem fazer bombardeios cirúrgicos e letais às instalações nucleares iranianas, usando de sua exclusiva bomba anti bunker.
O mundo não assistia a múltiplos conflitos nesta escala há bastante tempo. Israel x Palestina; Israel x Irã e Rússia x Ucrânia. No meio desses conflitos todos, os EUA, tentando, a um só tempo, dissuadir, compor e apaziguar os ânimos para alcançar senão a paz, ao menos algum equilíbrio, alguma sensatez e algum bom senso. Conseguirá? Impossível prever algo neste momento.
IG Último Segundo