
Buraco negro
O podcast iG Foi Pro Espaço recebeu nesta quarta (25) os pesquisadores Lucas Ramos Vieira, da UFSM e do Instituto Federal Catarinense, e Marina Bianchin, da UFSM e do Instituto de Astrofísica de Canárias (Espanha), para falar sobre o projeto BAH, aprovado para observações em um dos radiotelescópios mais potentes do mundo, no Chile.
O grupo, liderado pelo professor Rogemar Riffel, utilizará o no ALMA (Atacama Large Millimeter Array), que custou cerca de US$ 1,4 bilhão (aproximadamente R$ 7,46 bilhões, na cotação atual) e é o mais caro da história, para estudar a relação entre buracos negros supermassivos ativos e a formação de estrelas em galáxias.
A aprovação do projeto é considerada uma conquista significativa, uma vez que a competição por tempo de observação no ALMA é intensa, com uma taxa de sucesso de cerca de 12,5%.
A pesquisa conta com a colaboração de cientistas de instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Centro de Astrobiologia da Espanha, a Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos) e o Instituto de Astrofísica de Canárias.
Jornada até a aprovação
Marina Bianchin explicou que a ideia do projeto surgiu em 2020, a partir de um artigo publicado pelo professor Rogemar durante um período na Universidade Johns Hopkins. ” Eles desenvolveram um artigo muito legal que mostrava que existe uma correlação entre excesso de gás molecular e indicadores que diziam que esse gás tinha algum tipo de choque “, contou.
A primeira proposta para o ALMA foi recusada, mas a equipe insistiu. ” A pronúncia é assim, é mandar a mesma coisa 800 vezes para ser aceito. É insistir “, disse Marina. A aprovação chegou em 2021, sendo um dos dois projetos liderados por instituições brasileiras aprovados naquele ciclo.
Lucas Vieira destacou a importância da conquista. ” É uma inserção da ciência brasileira na pesquisa internacional. Isso vem complementar os dados que nós já temos e mostrar que a gente pode contribuir para a ciência de qualidade e de ponta “.
O foco da pesquisa é entender o ” feedback ” dos buracos negros supermassivos, como a energia liberada por eles pode influenciar a galáxia ao redor. ” Esses corpos celestes podem influenciar até o nascimento de novas estrelas “, explicou Lucas.
A radiação e os ventos poderosos gerados pelo material que espirala em direção ao buraco negro, chamado de disco de acreção, podem, paradoxalmente, suprimir ou estimular a formação estelar.
” Essa onda de choque pode aquecer o gás inicialmente frio, redistribuí-lo ou até removê-lo da galáxia, impedindo a formação de estrelas. Isso é o feedback negativo “, explicou Lucas. ” Por outro lado, pode acontecer o contrário. A onda de choque pode facilitar o processo de colapso do gás e otimizar a formação estelar “.
A Importância do ALMA
Cada telescópio observa o universo em um “cor” ou comprimento de onda específico. O ALMA é especialista em detectar ondas de rádio emitidas por moléculas de monóxido de carbono (CO) em nuvens de gás extremamente frias.
” O monóxido de carbono acaba sendo um reboque que indica onde está o hidrogênio molecular frio, que é o que realmente forma as novas estrelas “, detalhou Lucas.
Com as 7,5 horas de observação aprovadas, a equipe estudará cinco galáxias previamente selecionadas que mostraram fortes indícios de possuírem buracos negros ativos e excesso de gás molecular com assinaturas de choque.
” Essas galáxias seriam a combinação perfeita para se detectar a maior incidência desses ‘outflows’ [ventos] “, completou o pesquisador.
Descobertas inesperadas
A pesquisa com grandes telescópios leva frequentemente a descobertas não planejadas. Marina citou um exemplo de um artigo recente do grupo, que descobriu uma galáxia distante usando o Telescópio Espacial James Webb. “ Nas imagens do James Webb surgiu uma galáxiazinha pequeninha do lado [da galáxia que estava sendo estudada]. E aí a gente desconfia que é uma galáxia em interação. Foi completamente por acaso “.
Lucas complementou, explicando que a descoberta foi possível devido a um efeito de lente gravitacional, onde a gravidade de uma galáxia mais próxima distorce e amplifica a luz de um objeto mais distante atrás dela. ” Isso também é uma proposta futura para esmiuçar mais essas informações. Isso tudo é pesquisa de fronteira do conhecimento da humanidade “.
A entrevista foi transmitida nesta quarta-feira (24), às 18h, no canal do YouTube do Portal iG.
IG Último Segundo