“Brasil pode fazer mais”, diz Nobel sobre guerra na Ucrânia


Oleksandra Matviichuk, ganhadora do Nobel da Paz de 2022
@avalaina_ua/Reprodução

Oleksandra Matviichuk, ganhadora do Nobel da Paz de 2022

A advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2022, afirmou nesta segunda-feira (06), que o governo brasileiro pode fazer mais para ajudar na resolução de questões humanitárias da guerra entre Ucrânia e Rússia. As informações são do Roda Viva.

Matviichuk destacou que o Brasil mantém diálogo com Moscou e pode usar essa posição para pressionar o país por medidas que protejam civis.

Acredito firmemente que o governo brasileiro pode fazer mais. O Brasil mantém um canal de comunicações com a Rússia e pode usá-lo como ferramenta para persuadir a Rússia a resolver questões humanitárias urgentes ”, disse a ativista.

Durante a entrevista ao Roda Viva, Oleksandra relatou a situação dos civis ucranianos em meio ao conflito e mencionou que cerca de 20 mil crianças foram deportadas para a Rússia. Ela também denunciou casos de tortura diária contra prisioneiros e moradores de regiões ocupadas.

Estou no Brasil para falar da dimensão humana. Porque sem a dimensão humana nunca vamos achar um caminho para a paz sustentável ”, afirmou.

A advogada comanda o Centro para Liberdades Civis, organização que documenta crimes de guerra e atua em defesa dos direitos humanos desde o início da invasão russa, em 2022.

Brasileiros na guerra

Questionada sobre a presença de estrangeiros e mercenários sul-americanos na guerra, Oleksandra afirmou que muitos combatentes não se unem ao exército ucraniano por dinheiro, mas por convicção. Segundo ela, o salário prometido aos voluntários pode chegar a US$ 4 mil (cerca de R$ 21,2 mil, na cotação atual).

O dinheiro significa muito, mas muita gente não aceita morrer por dinheiro. Quando vejo os soldados que se alistam na Legião Internacional e falam com a mídia, dizem que o principal motivo não foi o dinheiro, mas a vontade de ajudar ”, destacou.

A advogada reforçou que a guerra é também uma defesa global da liberdade.

Mesmo estando longe, temos muito em comum, porque estamos lutando pela liberdade, que não tem limites nem fronteiras nacionais ”, disse a ativista.

Divergência sobre posição do Brasil

Ao ser questionada sobre as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já afirmou que tanto a Rússia quanto a Ucrânia compartilham responsabilidade pela continuidade da guerra, Oleksandra respondeu que o conflito deve ser analisado sob o prisma do direito humanitário internacional, e não por interpretações políticas.

Precisamos olhar para a situação sob o prisma do direito humanitário internacional. De acordo com esse direito, não há responsabilidade igual. Há um agressor e há uma vítima da agressão ”, disse.



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