
O Centrão foi um dos principais sustentáculos políticos do governo Bolsonaro
O Centrão foi alertado sobre os riscos de se afastar de Jair Bolsonaro(PL) na disputa presidencial de 2026. Mesmo inelegível até 2030, o ex-presidente mantém forte influência entre eleitores e tem demonstrado insatisfação com o movimento de partidos do bloco em busca de candidaturas próprias, como Tarcísio de Freitas(Republicanos) e Ronaldo Caiado(União Brasil).
Entre aliados próximos, há a avaliação de que, caso Bolsonaro não seja ouvido na definição do candidato da direita, ele poderia adotar estratégia semelhante à do ex-presidente boliviano Evo Morales e estimular o voto nulo.
A possibilidade preocupa lideranças do Centrão, que veem risco de fragmentação no campo conservador e perda de competitividade frente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT).
O Centrão foi um dos principais sustentáculos políticos do governo Bolsonaro, especialmente após a entrada de Ciro Nogueira(PP) na Casa Civil em 2021. Agora, com Bolsonaro fora da disputa, o bloco avalia nomes alternativos para tentar enfrentar Lula em 2026.
Pesquisas recentes apontam o petista à frente no primeiro turno, com 34% a 36% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro, mesmo inelegível, ainda aparece com 28% a 30%. Tarcísio oscila entre 15% e 24%, e Pablo Marçal entre 7% e 15%.
A força eleitoral de Bolsonaro foi medida também em janeiro de 2025. Um levantamento da AtlasIntel/Bloomberg indicou que, se pudesse concorrer, ele teria 43% contra 49% de Lula em um eventual segundo turno.
O dado reforça, na visão de seus aliados, que o Centrão não teria condições de competir sem o apoio do ex-presidente ou de alguém por ele indicado, como Michelle ou Flávio Bolsonaro.
Paralelo com Evo Morales

Evo Morales, ex-presidente de Bolívia
O paralelo com Evo Morales é citado em conversas reservadas. Na Bolívia, em agosto de 2025, o ex-presidente rompeu com o governo de Luis Arce e deixou o comando do MAS. Sem candidatura própria, passou a incentivar o voto nulo.
O movimento resultou em 1,2 milhão de votos descartados, com índices que chegaram a 32,8% em Cochabamba, reduto político de Morales.
No Brasil, aliados de Bolsonaro enxergam na estratégia um meio de pressionar o Centrão. O incentivo ao voto nulo funcionaria como demonstração da dependência do campo conservador em relação ao ex-presidente e como forma de fragilizar candidaturas alternativas sem seu aval.
A decisão sobre quem representará Bolsonaro em 2026 só deve ser anunciada no próximo ano. Até lá, o impasse entre o núcleo bolsonarista e o Centrão tende a se intensificar, com risco de afetar a consolidação de uma candidatura de direita capaz de enfrentar Lula.
IG Último Segundo