Aumento de idade para aposentaria eleva apreensão entre jovens na China


Idosos chineses se banham no rio Liangma durante as festas de Meio Outono em Pequim, em 16 de setembro de 2024
Greg Baker

Idosos chineses se banham no rio Liangma durante as festas de Meio Outono em Pequim, em 16 de setembro de 2024

GREG BAKER

Ao elevar a idade de aposentadoria, a China alivia temporariamente seu sistema de previdência mas corre o risco de desestimular ainda mais os jovens trabalhadores sem frear os efeitos a longo prazo de sua diminuição demográfica, avaliam especialistas entrevistados pela AFP.

A partir de 2025 e ao longo de 15 anos, a idade legal de aposentadoria aumentará progressivamente de 60 para 63 anos para os homens e de 50 a 55 ou de 55 a 58 anos para as mulheres em função do tipo de trabalho que exerçam.

Para Zhao Litao, pesquisador no Instituto da Ásia Oriental da Universidade Nacional de Singapura, era o momento de atuar porque “o sistema de aposentadoria estava sob uma forte pressão”.

“Para os dirigentes, era cada vez mais arriscado atrasar a reforma”, afirma.

A idade de aposentadoria na China é uma das mais baixas do mundo e não era modificada há décadas.

Ela foi fixada em uma época de dificuldades e pobreza generalizada, muito antes de que as reformas econômicas impulsionadas desde o final dos anos 1970 melhorassem consideravelmente o poder aquisitivo, a nutrição, a saúde e as condições de vida da população.

O resultado foi um salto espetacular na expectativa de vida: de uns 50 anos no início dos anos 1960 a 79 anos em 2022, segundo o Banco Mundial.

Mas, nos últimos anos, o crescimento da segundo maior economia do mundo arrefece e, junto ao envelhecimento da população e à baixa natalidade, põe em perigo os sistemas de previdência e de saúde pública.

– “Promessa não cumprida” –

O governo não podia demorar mais, porque “o ritmo de envelhecimento e de decréscimo da população é mais rápido do que o previsto”. afirma Zhao Litao. Em 2023, a população diminuiu pelo segundo ano consecutivo.

O sistema previdenciário chinês se baseia em três pilares: uma aposentadoria básica paga pelo Estado, planos de aposentadoria obrigatórios nas empresas e fundos de pensão privados voluntários.

Mas de hoje a 2035, um dos principais fundos geridos pelo Estado pode esvaziar devido à contração da população ativa, advertia em 2019 um centro de reflexão governamental.

De fato, um terço das províncias chinesas já sofrem com um déficit em seus fundos de aposentadoria.

Prolongar a vida de trabalho permitirá o sistema “a curto e médio prazo” a “desacelerar” a diminuição do número de trabalhadores, afirma Xiujian Peng, pesquisadora da Universidade Victoria da Austrália.

Mas “a população ativa continuará diminuindo, é uma tendência” a longo prazo.

A geração mais jovem, que já está enfrentando um alto índice de desemprego ou pressões extremas no trabalho que afetam sua saúde física e mental, terá dificuldade em aceitar a reforma.

“Para muitos chineses, essas mudanças na política de aposentadoria são uma promessa não cumprida de proteção social”, diz Yun Zhou, socióloga da Universidade de Michigan.

“Como a discriminação de gênero e idade continua profundamente arraigada no mercado de trabalho chinês, ainda não se sabe até que ponto os trabalhadores podem se beneficiar da proteção efetiva de seus direitos”, acrescenta.



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