
Onda de vandalismo altera comportamentos de passageiros do transporte coletivo
A onda de ataques a ônibus de São Paulo que vem sendo registrada desde o último dia 12 de junho mudou o comportamento de muitos usuários do transporte público.
O Portal iG conversou com alguns deles, que relataram sentimentos de apreensão e de medo durante as viagens.
E não é por menos. Desde o início dos registros, 670 ônibus já foram vandalizados a pedradas, sendo 421 na capital e 249 na Região Metropolitana de São Paulo.
Somente nesta noite de domingo (13), 47 carros foram atacados na capital.
Foi o segundo dia mais violento desde o início da onda de depredações, ficando atrás apenas do dia 7 de julho, quando houve 59 casos em um único dia.
Os números foram atualizados ao iG, nesta segunda-feira (14), pela SPTrans e pela Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).
Apreensão e medo
Diante da onda de vandalismo, apreensão e medo são sentimentos que fazem parte do cotidiano das pessoas que precisam hoje do transporte público de São Paulo.
É o caso de Iza Alexandra Cardoso e de Darlei Aparecida de Oliveira Onias, ambas de 46 anos, que trabalham como acompanhantes comunitárias de saúde e utilizam o transporte público diariamente.
Iza conta que é usuária de uma linha de ônibus que opera na Zona Oeste da capital, e que, apesar de não ter testemunhado cenas de vandalismo, mudou seu comportamento dentro do coletivo por medo de ser atingida por uma pedrada.
“Ultimamente ando sentando no lado que fica a avenida, porque tenho medo de ficar do lado da calçada. Fico preocupada, porque pode acontecer no ônibus que estou e pode ser grave ou fatal. Nunca se sabe da maldade das pessoas” , diz ela.
Já Darlei vai e volta do trabalho em uma linha que circula pelas zonas Oeste e Norte. Desde que os ataques começaram, ela relata que a preocupação é constante dentro do ônibus.
“Todas nós agora ficamos apreensivos durante o trajeto” , acrescenta.
É a mesma sensação descrita pela enfermeira Ana Carolina Campos Xisto, de 42 anos, que também utiliza o transporte coletivo paulistano para chegar ao trabalho, todos os dias.
Ana Carolina diz que circula de ônibus pela região Oeste e, por conta dos acontecimentos do último mês, agora também fica muito mais atenta dentro do ônibus.
“Felizmente, eu não testemunhei nenhum caso nos ônibus que pego, mas lógico que é preocupante. Na semana retrasada, fiquei sabendo de um caso aqui na região, que atrapalhou o transporte público por uns dois dias, por causa do ônibus depredado. Depois, voltou ao normal. Mas vivemos com o risco. Eu entro no ônibus e procuro ficar o mais longe possível da janela e muito mais atenta a tudo” , conta Ana Carolina.
Investigações
Apesar da SPTrans informar que os atos de vandalismo registrados no sistema municipal de transporte aconteceram de forma distribuída por todas as regiões da cidade, dados da Polícia Civil apontam as zonas Sul e depois a zona Oeste como as de maior incidência.
As investigações prosseguem em três linhas e uma delas tem tomado mais força nos últimos dias.
É a linha que investiga a relação dos atos com disputas comerciais ou descontentamentos entre empresas rivais de transporte urbano, que poderiam estar promovendo ou incentivando a onda de vandalismo para prejudicar concorrentes.
Mas ainda não foram descartadas as hipóteses dos ataques estarem sendo motivados por desafios na internet ou de terem ligação com organizações criminosas.
De acordo com informações da Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo ( SSP-SP) ao Portal iG, até o momento, sete suspeitos de participação nos ataques já foram presos.
As investigações seguem sob responsabilidade do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), que realiza diligências e analisa dados para identificar e prender outros envolvidos.
A SPTrans reforça a orientação para que as concessionárias comuniquem imediatamente todos os casos à Central de Operações e formalizem as ocorrências junto às autoridades policiais.
IG Último Segundo