A cilada de Tarcísio de Freitas na crise do tarifaço


O governador Tarcisio de Freitas
Divulgação/ Governo de São Paulo

O governador Tarcisio de Freitas

Tarcísio de Freitas (Republicanos) entrou numa sinuca de bico desde que foi às redes “celebrar” o tarifaço de Donald Trump contra o Brasil.

“Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”, escreveu o governador paulista no X, o antigo Twitter. Só faltou dizer “bem-feito”.

Trump tinha acabado de colocar a ideologia acima da economia ao impor taxas de 50% sobre as exportações brasileiras, mas nem foi só por essa a única contradição.

Seguidores não demoraram a lembrar o dia em que o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) colocou o boné vermelho escrito MAGA (Make America Great Again) e disse “Grande dia” para a câmera. Era o dia da posse de Trump.

Ao criticar a suposta ideologia alheia, Tarcísio acabara de colocar a política acima da economia em sua postagem, já que seis das seis cidades que mais exportam produtos aos Estados Unidos ficam em São Paulo.

A má repercussão levou Tarcísio a recuar. E a pedir diálogo como saída para o impasse.

Tarde demais: o boné estava tatuado na testa.

Como se fosse pouco, ele decidiu – por orientação dos responsáveis por sua comunicação – matar no peito e assumir o papel de pacificador na crise. Chegou a propor que Bolsonaro viajasse aos Estados Unidos para conversar diretamente com o chefe. No caso, Trump.

Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal e pode ser condenado a qualquer momento. 

Os ministros da Corte sentiram o cheiro da encrenca e riram da ideia.

O vaivém é um teste para a projeção nacional de um governador que já não se contenta com a cadeira de governador e mira agora a Presidência da República.

Parte do empresariado aposta em Tarcísio para fazer frente a Lula em 2026.

A favor dele pesa a fama de quadro técnico, ex-aluno do IME, o concorrido Instituto Militar de Engenharia e uma suposta independência em relação a Bolsonaro, impulsivo e descontrolado desde que era ainda um soldado raso do Exército. Tarcísio defenderia as mesmas pautas. Mas sem gritar nem arrumar briga com todo mundo o tempo todo. E ainda comeria de garfo e faca.

Prova disso é o cuidado em não atacar o STF em meio ao julgamento do padrinho e de outros colegas de Esplanada.

Só que a posição mais branda o coloca na mira dos bolsonaristas mais radicais, que não veem nele a lealdade necessária para assumir o posto.

A crítica é injusta, já que Tarcísio é quem recebe, no Palácio dos Bandeirantes, o ex-presidente quando vem a São Paulo e não falta a um protesto em apoio a Bolsonaro na avenida Paulista. Em seus discursos, ele só falta lamber a bota do antigo patrão.

Mas, para a régua bolsonarista, é pouco: tem que cuspir fogo contra o STF, tem que berrar pela anistia aos golpistas, tem que chamar Xandão de canalha.

Enquanto se equilibra, Tarcísio já começa a despertar desconfianças do próprio empresariado, decepcionado ao ver o possível presidenciável fazer pouco caso com os interesses do setor produtivo na querela com os Estados Unidos.

Tarcísio quis conquistar o PIB e os bolsonaristas ao buscar protagonismo, aplaudir Trump e criar caso.  Não conseguiu nem um nem outro.

Ganhou, em vez disso, um pedido, feito por opositores, de investigação por obstrução à Justiça. Não vai virar nada. Mas já mostra o tamanho do desgaste.

*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG



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