Correndo o risco de perder milhares e até milhões de reais, influenciadores com páginas banidas no Instagram ou no TikTok tÊm recorrido a um novo tipo de profissional: os recuperadores de conta de rede social.
Além de restabelecer os perfis, a missão deles é fazer isso o mais rápido possível, segundo o advogado Tonyson Henrique Santos e o empresário Diego Henrique, dois dos mais famosos desse ramo. Eles contaram a Tilt os segredos por trás do trabalho.
“Administrativamente, consegue voltar [a conta] em 60 dias. Só uma conta passou de 100 dias”, diz Santos. “Mas, geralmente, é 10 minutos [para reativar o perfil]. Quanto mais antiga a conta, mais fácil (para recuperar)”, explica Henrique.
Quanto custa esse serviço?
Cada um emprega técnicas diferentes e trabalha de formas distintas. Henrique atua sozinho, enquanto Santos tem uma equipe.
Dono da página @recuperapaginaa, Henrique cobra entre R$ 3 mil a R$ 20 mil, enquanto Tonyson não revela valores. Os dois dizem estipular o preço conforme a dificuldade do serviço e a quantidade de seguidores.
Acionado pela reportagem, o TikTok não respondeu até a publicação desta reportagem. Já o Instagram informa que o processo de recuperação de contas é feito somente pelo aplicativo, por meio da Central de Ajuda, e que não cobra por isso.
Não existe serviço pago de recuperação de conta autorizado pelo Instagram
Instagram, em nota
Por que contratam serviço?
Influenciadores contaram a Tilt que o principal motivo para procurar pelo serviço é a promessa de reativar a conta de forma mais rápida.
Pelas vias tradicionais, é mais complicado. Tem clientes que até conseguem fazer. Para denúncias mais leves, a conta volta quando passa o prazo de 24 horas. Mas tem casos não tão simples. Além disso, muita gente é leiga. Tenta mais de uma vez e não consegue, fica muito difícil a página voltar. Tem cliente que fica sete, oito meses. Eu faço em 10 minutos
Diego Henrique, administrador da página @recuperapaginaa
O que faz as contas serem derrubadas?
Uma série de fatores fazem as publicações ou as contas serem derrubadas, explicam os profissionais:
- Denúncias
- Conteúdo adulto
- Discurso de ódio
- Apologia a drogas
- Ideologia política
- Promover rifas ou jogos
Como é feita a recuperação da página?
No escritório de Santos, 80% dos casos de recuperação de contas são resolvidos de forma administrativa. Ou seja, sem a necessidade de entrar com processo judicial.
O advogado explica que, com o passar do tempo, foi obtendo os contatos de funcionários do Instagram na Califórnia, nos Estados Unidos. Quando chega um novo pedido para recuperar a conta, ele aciona essas pessoas. “Mando emails para o suporte e para a Califórnia. Eu vejo por que a conta caiu e adapto cada pedido.”
Além disso, ele recorre ao Painel da Meta (dona do Instagram, Facebook e WhatsApp), um serviço para contas comerciais, que disponibiliza um gerente de atendimento, que pode solucionar problemas no perfil – parecido com um serviço de um banco.
Henrique também procura o suporte técnico e os serviços de analistas da Meta, mas observa que nem sempre funciona. Por causa disso, ele explica que vai “por outros meios”, sem dar muitos detalhes.
Prática incomum
Em condição de anonimato, uma advogada que também atende grande influenciadores diz que o modo de operar de Santos e Henrique é incomum. Ela conta que o normal é as redes sociais demorarem a responder processos administrativos, ainda que estejam muito bem fundamentados.
“Agora fica-se sabendo que tem um canal de comunicação secreto que resolve em dez minutos? Mas esse canal só é acessível para quem tem dinheiro e pode pagar o Tonyson e o Recuperacontas? E quem é pobre? Fica com a liberdade de expressão cerceada?”, questiona ela.
Além do serviço de recuperação de páginas, Santos diz usar um robô de monitoramento que analisa em tempo real as publicações de cerca de 1.600 contas de clientes, como influencers, cantores e grandes empresas.
O sistema é programado para identificar postagens que possam ferir os termos de uso da plataforma. Quando isso acontece, um alerta é emitido para uma equipe de plantão, que entra em contato com o dono da página. A ideia é evitar que a postagem ou a conta sejam derrubadas. “Às vezes não dá tempo.”
Como é a procura pelo serviço?
Santos afirma que recebe por dia, em média, de 15 a 40 pedidos de recuperação de contas. Desses, de oito a 15 acabam contratando o serviço.
Já Henrique é procurado por cerca de cem pessoas por dia e acaba fechando negócio com cerca de 5% delas.
“A procura é muito grande. Muitas vezes não consigo nem entrar no WhatsApp. Tenho que escolher com quem falar”, conta o dono do perfil @recuperapaginaa.
Santos consegue recuperar de 8 a 30 páginas por dia, já Henrique de 5 a 30. A variação decorre das instabilidades do sistema do Instagram.
Como eles começaram?
Henrique é formado em administração e começou tendo de reativar a própria página, ligada ao setor automotivo.
“Eu recuperava minha própria conta, que já caiu umas 200 vezes. Na época, amigos do Pablo Selle [administrador do perfil @opoeteiro] começaram a me procurar e não parou mais.”
Já Santos atuava com direito do consumidor e empresarial, mas percebeu em 2014 que faltavam advogados que atuassem em direito digital.
“Comecei a ir atrás das plataformas e me especializei. Comecei a oferecer serviços. Não dependia do dinheiro do digital para sobreviver. Tinha know-how no consumidor e empresarial.”