Quem é Frances Haugen, a engenheira que quer ‘salvar’ o Facebook | Tecnologia


Frances Haugen, a ex-funcionária do Facebook que deu um depoimento explosivo contra a empresa no Congresso dos Estados Unidos nesta terça-feira (5), está convencida de sua nova missão: fazer as pessoas entenderem que a rede social pode ser tão perigosa quanto útil e que, portanto, deve ser controlada.

A mulher de 37 anos, que trabalhou na equipe de integridade cívica do grupo de Mark Zuckerberg, recolheu milhares de documentos internos antes de deixar a empresa em maio.

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Vazadas ao jornal “Wall Street Journal”, as informações alarmaram muitos congressistas, que rapidamente organizaram uma audiência sobre a proteção de menores de idade na internet.

Haugen saiu do anonimato no último domingo (3), ao aparecer no programa de televisão americano “60 minutos”, da emissora CBS. Nesta terça, prestou um depoimento incisivo perante os parlamentares.

Ela contou que viu um amigo próximo se perder em meio a teorias da conspiração. “Uma coisa é estudar a desinformação, outra é perder alguém para ela”, disse em entrevista ao “Wall Street Journal”.

Contratada pelo Facebook em 2019 na esperança de ajudar a empresa a corrigir alguns problemas, ela afirma ter ficado cada vez mais preocupada com as decisões que a empresa tem tomado.

Frances Haugen, ex-gerente de produtos do Facebook — Foto: Drew Angerer/Pool

Haugen, uma engenheira da informação que se define como especialista em algoritmos, trabalhou em diversos gigantes da tecnologia antes de chegar ao Facebook: o Google, o aplicativo de relacionamentos Hinge, a página de recomendação de comércios Yelp e a rede Pinterest.

Em sua conta no Twitter, que acaba de criar, Haugen se define como uma “ativista da vigilância pública das redes sociais”. Suas primeiras palavras na plataforma: “Juntos podemos criar redes sociais que tragam à tona o que há de melhor em nós mesmos.”

Nascida em Iowa, Haugen conta em seu blog que durante sua infância participou, junto com seus pais e professores, das primárias da eleição presidencial, o que “criou um forte sentimento de orgulho pela democracia e a importância da participação cívica”.

Participou várias vezes como voluntária do festival Burning Man – um encontro de sete dias onde as pessoas compartilham, doam ou trocam, promovem a “desmercantilização” e cuidam do meio ambiente, seguindo o espírito dos hippies e a contracultura dos anos 1960, que antes da pandemia acontecia todo ano no deserto de Nevada – para explicar as regras do evento aos participantes e ajudá-los a resolver conflitos.

Em 17 de maio, pouco antes das 19h, ela se desconectou pela última vez da rede interna do Facebook, relatou ao “Wall Street Journal”.

Como que para se justificar, deixou um último vestígio: “Não odeio o Facebook”, escreveu. “Amo o Facebook. Quero salvá-lo.”

Ela coletou documentos no Facebook até o último minuto antes de sair, com medo de ser pega em flagrante, e ao mesmo tempo entrou em contato com uma ONG especializada em ajudar quem decide vazar informações.

O que acontece lá dentro

Durante a entrevista à emissora de TV “CBS News”, Haugen acusou o Facebook de “colocar os lucros acima da segurança” e afirmou que “agiu para ajudar a incentivar mudanças na gigante das mídias sociais, não para despertar raiva”.

Para ganhar dinheiro com publicidade, explica ela, a rede social precisa garantir que seus membros permaneçam na plataforma o máximo de tempo possível. E, para isso, conteúdos de ódio e fontes discrepantes costumam atrair mais atenção.

O Facebook criou equipes para limitar a desinformação antes das últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos e modificou seus algoritmos para reduzir a disseminação de informações falsas.

Mas sua equipe, que trabalhava para conter os riscos que poderiam ser gerados por alguns usuários ou conteúdos por ocasião das eleições, foi desmantelada logo após as eleições americanas em novembro de 2020.

Menos de dois meses depois, em 6 de janeiro, o Congresso foi invadido por uma multidão de apoiadores de Donald Trump, que não reconheceu a vitória de seu sucessor Joe Biden nas urnas.

Foi nesse ponto em que Frances Haugen começou a questionar a disposição do grupo de dedicar meios suficientes para proteger seus membros. Porque o Facebook, garantiu ela, privilegia seus benefícios.

Em março, se mudou para Porto Rico na esperança de continuar trabalhando de forma remota, mas a equipe de recursos humanos lhe disse que não era possível. Então ela decidiu pedir demissão, explicou ao “Wall Street Journal”, e então vazou documentos que coletou.

O Facebook se opôs à indignação em relação às suas práticas e seu impacto, mas esta é apenas a mais recente de uma série de crises que atingem uma das maiores empresas do Vale do Silício.

“Sugerir que encorajamos conteúdo nocivo e não fazemos nada a respeito simplesmente não é verdade”, disse o Facebook ao g1 na última segunda-feira (4).



Fonte: G1