Por que especialistas temem que Musk reduza a moderação no Twitter se comprar a rede social | Tecnologia


A proposta de Elon Musk para compra total do Twitter é cercada por dúvidas sobre o que mudará na rede social caso o negócio seja concretizado. O bilionário não deu detalhes sobre quais são seus planos, mas sinaliza que pretende mudar regras de moderação de conteúdo da plataforma.

Nas últimas semanas, Musk tem usado seu perfil na plataforma para comentar sobre o assunto. Ele publicou uma enquete que perguntava aos usuários se o Twitter adere rigorosamente à liberdade de expressão e questionou se seria necessária uma nova rede social para garantir esse princípio.

Para especialistas ouvidos pelo g1, o negócio poderia causar um afrouxamento na moderação de conteúdo do Twitter.

“Ele [Elon Musk] deixa claro que é contra a moderação de conteúdo e entende que esses processos batem de frente com a liberdade de expressão”, diz Flávia Lefèvre Guimarães, advogada especializada em direito digital e integrante da Coalizão Direitos na Rede.

Pedro Waengertner, fundador da ACE, holding de investimentos em inovação, avalia que Musk vê uma moderação enviesada no Twitter e entende que, caso a aquisição seja concretizada, o suposto viés poderia ser mantido, mas com sinal trocado.

“Se ele quiser levar a empresa pra onde não existem as exigências de governança que o Twitter tem por ser uma companhia de capital aberto, existe o risco de acontecer exatamente a mesma coisa [viés na moderação] com outras regras”, diz Waengertner.

Qual o risco de menos moderação?

O Twitter permite denunciar conteúdos por vários motivos, incluindo violência, conteúdo sexual e comportamento abusivo. Em janeiro, a rede social adicionou uma opção para usuários no Brasil sinalizarem tuítes com fake news.

A expectativa dos especialistas é que pode haver mudança nesse caminho se a empresa for adquirida por Musk, um crítico de como a rede social lida com o direito de usuários se expressarem.

Elon Musk — Foto: Patrick Pleul/Reuters

A justificativa de oferecer mais liberdade de expressão pode virar um passe para usuários cometerem crimes e disseminarem ódio e desinformação na plataforma, diz Flávia Lefèvre Guimarães.

“Na medida que a moderação de conteúdos e a decisão sobre quais conteúdos terão mais ou menos relevância se dá com base no poder econômico de alguns agentes, você não pode falar que todos os usuários dessa plataforma estão em pé de igualdade para exercer o direito de liberdade de expressão”, aponta.

À GloboNews, Carlos Affonso de Souza, diretor do Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), afirmou que é preciso proteger a atividade de moderação de conteúdo. Ele também destacou que o debate sobre liberdade de expressão não pode ser confundido com a ausência de qualquer forma de controle.

“No caso do Elon Musk, essa ideia de que dando muito dinheiro você consegue tirar da frente qualquer atividade de moderação vai transformar o Twitter em algo que não é o Twitter. E algo que, no final das contas, pode ser até mesmo indesejado para uma parte importante dos usuários”, destacou.

Investimentos de Musk no Twitter reduziriam publicidade, mas também moderação, diz Carlos Affonso de Souza (ITS Rio)

Investimentos de Musk no Twitter reduziriam publicidade, mas também moderação, diz Carlos Affonso de Souza (ITS Rio)

Souza avaliou que as pessoas querem plataformas em que se sintam seguras e indicou que, caso Elon Musk compre o Twitter e reduza a moderação, a rede social poderá perder muitos usuários. A avaliação é compartilhada por Guimarães.

“Ninguém quer usar um serviço que não seja seguro”, diz. Segundo ela, se o negócio se concretizar, a tendência é que “haja uma ampliação de usuários mal-intencionados” e, por outro lado, uma saída de quem pretende ter um mínimo de segurança e ver seus direitos respeitados.

Para Pedro Waengertner, há uma chance de que o Twitter consiga avançar se for comprado pelo fundador da Tesla e da SpaceX. Ele considera que o bilionário pode estar planejando adotar tecnologia para melhorar a moderação de conteúdo.

“Entendo que ele criaria formas com engenharia para permitir que as pessoas consigam ter pluralidade de opiniões dentro de regras estabelecidas”, diz Waengertner.

Twitter — Foto: REUTERS/Stephen Lam/File Photo

Na última quinta-feira (14), em evento TED, Musk afirmou que não quer “fazer dinheiro” com a compra do Twitter. Segundo ele, a rede social é uma ferramenta importante para a liberdade de expressão no mundo.

“É realmente importante que as pessoas tenham a realidade e as percepções [sobre a realidade] e que elas sejam capazes de se expressar livremente dentro dos limites da lei”, disse Musk.

Durante o evento, o magnata afirmou em mais de um momento que qualquer rede social deve cumprir as leis dos países em que operam. “Obviamente, há algumas limitações à liberdade de expressão”, comentou.

Musk tem uma participação de 9,2% do Twitter desde março, quando se tornou o maior acionista individual da empresa. A possibilidade de que ele se torne o único dono da marca gerou reação do príncipe saudita Alwaleed bin Talal, um dos principais investidores da rede social.

Em meio às dúvidas sobre a aquisição, o Conselho de Administração do Twitter aprovou sua “poison pill”, um mecanismo usado por empresas de capital aberto para proteger acionistas minoritários contras tentativas de aquisição.

Na última quarta-feira (14), o bilionário afirmou que tem um ‘plano B’ caso não consiga comprar a rede social. Mas disse que os detalhes sobre essa alternativa ficam “para outra hora”.

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Fonte: G1