Flipper Zero: conheça o aparelho bloqueado pela Anatel que assustou o mundo

Free Hacker Attack illustration and picture

Nas telas dos cinemas e na imaginação das pessoas comuns, os hackers, especialistas em quebrar a segurança digital, são criminosos antissociais, que vestem roupas pretas e um capuz, e passam o dia em comunidades obscuras e escondidas programando seu novo vírus para computador.

Embora um lado escuro e perigoso da internet de fato exista, como nos relembra a ExpressVPN em seu guia sobre a dark web, a realidade é que a comunidade hacker existe de uma forma extremamente variada e descentralizada: existem hackers contratados por empresas para testar seus próprios sistemas, hobbystas que usam as técnicas hacker para entender mais sobre a tecnologia ao seu redor e criar seus próprios projetos, além, claro, daqueles que utilizam os conhecimentos para o crime e outros tipos de golpes virtuais.

Grande parte deste conhecimento pode ser estudado gratuitamente na internet, bastando um pouco de criatividade e bastante dedicação. No entanto, em 2023, a chegada de um novo “pendrive dos hackers” assustou o mundo e as autoridades reguladoras – o Flipper Zero promete transformar qualquer um, até mesmo quem não entende sobre computadores, em um hacker completo – e que pode afetar sistemas em público. Confira.

O que é o Flipper Zero?

De forma resumida, o Flipper Zero é um pequeno dispositivo portátil semelhante a um pendrive, projetado para permitir que usuários e entusiastas rodem qualquer código para interagir com seus múltiplos sensores e antenas, permitindo várias práticas de hacking e jogos. Ele possui um processador baseado em ARM, um pequeno chip de memória interna, e uma tela OLED preta e branca, além de diversos botões. A grande diferença entre o Flipper Zero e outros micro-portáteis está na inclusão de uma série de chips avançados que permitem coletar e enviar sinais em diversas ondas eletromagnéticas, permitindo interação via rádio, Wi-Fi, Bluetooth, frequências altas e baixas, NFC, entre outros.

Ele pode ser usado para testar e explorar vulnerabilidades em dispositivos eletrônicos, como sistemas de controle de acesso, sistemas de segurança, e dispositivos IoT (internet das coisas). Além disso, o dispositivo é capaz de clonar tags NFC e executar ataques de engenharia social em redes Wi-Fi. Também pode ser usado para jogar jogos retrô, como Tetris e Snake, bem como para executar outros aplicativos e funções personalizadas, dependendo da programação e dos acessórios adicionais conectados.

Tudo isso significa que o Flipper Zero pode, quando associado a código customizado, ser utilizado para invadir sistemas via redes Wi-Fi, alterar o conteúdo de placas eletrônicas de sinalização ou alto-falantes, interferir em cadeados eletrônicos de garagens e carros elétricos, clonar tags NFC como cartões de acesso de hotéis, empresas e faculdades, simular passes de ônibus e brinquedos como os Amiibos da Nintendo, entre diversas outras funções que envolvem a interação, frequentemente ilegal, com o especto eletromagnético usado por outros aparelhos eletrônicos. Por ser portátil, pequeno e movido à bateria, o Flipper Zero pode ser facilmente escondido em um bolso ou mochila e utilizado de forma oculta e discreta, aumentando seu potencial nocivo.

Ilegal em todo o Brasil

Defensores do produto, incluindo a fabricante, afirmam que o Flipper Zero não é por si só perigoso – o usuário controla quais programas e usos serão atribuídos ao aparelho, que pode ser utilizado de forma ética para rodar pequenos programas como joguinhos ou tocadores de música, além de ajudar estudantes de segurança digital a testar seus próprios sistemas e aprender a proteger equipamentos eletrônicos de invasores. O Flipper também pode substituir controles remotos para ar-condicionado e outros dispositivos que tenham sido perdidos ou quebrados.

Por outro lado, a combinação de sensores e rádios avançados em um pacote pequeno e de uso facilitado, que pode ser operado por usuários sem conhecimentos avançados, significa que seu uso ilegal é extremamente facilitado e comum. Em redes sociais como o TikTok, vídeos virais mostram usuários usando o aparelho para modificar o texto em hospitais e lojas, enviar áudios indesejados para sistemas de som, e até mesmo invadir redes Wi-Fi protegidas.

Por conta disso, a Anatel – agência reguladora do setor no Brasil – proibiu a comercialização e importação do Flipper Zero em todo o território nacional. É proíbido trazer o dispositivo para o país, mesmo que seja apenas uma unidade para uso pessoal, e utilizar o aparelho pode ser interpretado como crime. Compras via internet que tentem esconder o conteúdo do pacote para trazer o aparelho ilegalmente podem ser confiscadas e multadas pelas autoridades alfandegárias. O Flipper Zero, portanto, está na mesma categoria no Brasil que os jammers – pequenos aparelhos que cortam o sinal de Wi-Fi e celular ao seu redor, e outros aparelhos dedicados a cópia e clonagem de tags NFC e cartões de crédito. Com a redução do preço de componentes eletrônicos avançados, a tendência é que mais aparelhos como o Flipper Zero surjam no mercado – por isso, é importante conscientizar os usuários sobre seus usos éticos, e empresas devem aprender a proteger sua infraestrutura de ataques e vulnerabilidades como estas.

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Fonte: Redação Plantão
Fotos: divulgação