Casas de mulheres negras são mais afetados por insegurança alimentar

Segundo uma pesquisa feita pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), casas comandadas por mulheres negras são as mais propensas a terem problemas com a fome e insegurança alimentar. Dados apontam que 21,2% dos lares possuem insegurança alimentar moderada ou grave e outros 25,6% possuem insegurança alimentar leve.

Ambas categorias juntas apontam inquietação relacionada ao acesso a comidas em quantidade e qualidade necessárias para moradores das casas. Esses resultados da análise compõem um artigo científico publicado na edição do dia 5 de agosto, na Revista Cadernos de Saúde Pública, editada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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Além disso, os pesquisadores lidam com uma amostra de mais de 14 mil casas que estão situadas em 160 bairros de Salvador. Para a realização desta pesquisa, foi criado um questionário com 62 perguntas, que podia ser respondido de forma presencial e online. E as coletas de informações aconteceram entre 2018 e 2020.

Os examinadores usaram a classificação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). O quadro pode ser considerado grave quando alguém passa fome ou quando a quantidade de comida para crianças é limitada. Já um caso moderado é quando as comidas para os adultos começam a se limitar e leve no momento em que os indivíduos do lar não tem certeza se vão possuir alimentos em um futuro próximo.

Por outro lado, a segurança alimentar é configurada quando todas as pessoas da residência têm acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequados. Esse caso é mais recorrente em casa chefiados por homens brancos e em 74,5% delas não há preocupações relacionadas com a comida.

Silvana Oliveira, nutricionista e pesquisadora que assina o artigo publicado, explica que existem várias pesquisas que provam que a insegurança alimentar está relacionada a fatores socioeconômicos, como por exemplo: renda e escolaridade. 

Além disso, Silvana afirma que eles não são de todo o motivo principal. A discriminação racial também deve ser considerada.

“As pessoas ainda têm uma visão que o lugar da mulher negra é no trabalho doméstico. São alguns estereótipos que estão associados, por exemplo, à falta de oportunidades de ter melhor renda. Mesmo que tenha a escolaridade igual a de uma mulher branca, a mulher negra tende a ter um salário menor porque paira no imaginário social que ela tem uma menor valoração”, afirma Silvana.

Ainda de acordo com a nutricionista, para ter a existência real, as práticas para combater a fome devem ser relacionadas com o reconhecimento da desigualdade racial e ir passar medidas universais que não a consideram especificidades.

“As políticas públicas devem incorporar a interseccionalidade, que é esse olhar para as diferenças dentro dos grupos e para a interação entre os diferentes eixos de opressão. A desigualdade racial afeta toda a população negra. Mas também existem demandas específicas da mulher negra. E é preciso levar em conta essas demandas que estão sendo colocadas”, informa.

Casas de mulheres negras são mais afetados por insegurança alimentar
Imagem: 13Smile/Shutterstock

Mesmo que a análise tenha sido apenas sobre a cidade de Salvador, Silvana conta que os dados obtidos conversam e são compatíveis com informações de relatórios sobre a desigualdade racial no país inteiro.

“Considero que a pesquisa veio para somar e contribui para a discussão do quadro de insegurança alimentar não apenas de Salvador, mas do Brasil”, explica a profissional, informando que o referencial teórico foi composto com estudos nacionais.

Da mesma forma, Silvana afirma que dados parecidos de Salvador foram levados em conta. De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de três milhões de habitantes, Salvador tem 80% de sua população autodeclarada preta ou parda.

E dentre os 14.713 alares analisados, a maioria (50,1%) tinha como chefe de casa uma mulher negra, seguida de homem negro (35,4%), mulher branca (8,3%) e homem branco (6,2%). “Apesar de ter uma população majoritariamente negra, Salvador tem uma desigualdade muito profunda que não foi enfrentada”, conclui Silvana Oliveira.

Via: Agência Brasil

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