Duas representantes da fabricante EHang pediram autorizações à Agência Nacional de Aviação Civil para realizarem voos de teste com o eVTOL EH216-S. Na China, o modelo já recebeu sinal verde para ser usado comercialmente. Conheça o “carro voador” chinês que aguarda liberação para ser testado no Brasil
Enquanto a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) discute regras para operação do futuro “carro voador” de uma subsidiária da Embraer, um concorrente chinês pode fazer, no Brasil, o primeiro voo de uma aeronave desse tipo na América Latina.
O modelo EH216-S é o eVTOL (sigla em inglês para “veículo elétrico de pouso e decolagem vertical”) da EHang, empresa chinesa com duas representantes comerciais no Brasil, a AT Global e a GoHobby, que pediram autorizações de voos experimentais à Anac.
A agência brasileira também analisa pedidos das fabricantes dos eVTOLs que serão usados por Gol e Azul para que as certificações que receberam em seus países de origem também sejam consideradas no Brasil (saiba mais abaixo).
Mas é a EHang que está nas fases mais avançadas de desenvolvimento de um eVTOL. Em outubro, seu modelo recebeu a “certificação tipo” na China, o sinal verde para ser usado em operações comerciais.
eVTOL modelo EH216-S, fabricado pela empresa chinesa EHang
Reprodução/EHang
Segundo a fabricante, o EH216-S pode transportar dois passageiros (sem piloto) em voos de até 30 quilômetros com apenas uma bateria. Já a futura aeronave da Eve, subsidiária da Embraer que prevê seu primeiro voo em 2026, deverá ser capaz de levar até seis pessoas em trajetos de até 100 quilômetros.
No futuro, com a operação comercial, o passageiro “vai percorrer 5 ou 10 minutos voando”, explicou o presidente-executivo da AT Global, Alexandre Daltro Santos. “É um mercado em que ela [EHang] não tem muito competidor”, afirmou o presidente-executivo da GoHobby, Adriano Buzaid.
EH216-S: conheça o ‘carro voador’ da EHang
Kayan Albertin/Arte g1
A AT Global tem, na representação comercial da EHang, o primeiro negócio desde sua fundação e planeja receber a primeira aeronave em abril. Depois, o plano é realizar voos de exibições sem passageiros em aeroportos de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.
A GoHobby, que já atua na venda de drones, tem um eVTOL da EHang desde dezembro de 2023. E espera testar a aeronave entre abril e maio, em um voo não tripulado dentro de um aeroporto no interior de São Paulo.
Além de pedidos de voos experimentais do EH216-S, a Anac revisa acordos com possui com outras autoridades aéreas. Os documentos permitem agilizar liberações de aeronaves brasileiras em outros países e de aeronaves estrangeiras no Brasil.
Uma mudança nesses acordos permitiria, por exemplo, que o processo de certificação do eVTOL da EHang na China fosse considerado suficiente pela Anac para liberar o veículo no Brasil.
“A gente pretende incluir eVTOLs no acordo com a China. É a nossa intenção, já sabendo que eles têm interesse de trazer [aeronaves chinesas] para validação aqui”, disse ao g1 o superintendente de Aeronavegabilidade da Anac, Roberto José Honorato.
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O que falta para o eVTOL chinês voar no Brasil?
A AT Global e a GoHobby, representantes da EHang, fizeram o primeiro contato com a Anac em meados de 2023 e, agora, precisam resolver pendências de documentação para avançarem com seus pedidos de voos experimentais, segundo a agência.
Outra possibilidade é a própria EHang pedir que o seu processo de certificação na China seja validado no Brasil, o que dependeria de um contato entre a CAAC, a autoridade aérea chinesa, e a Anac.
eVTOL da EHang durante seu primeiro voo de demonstração com passageiro no Japão, em fevereiro de 2023
Divulgação/EHang
O que fazem as representantes da EHang?
As representantes da EHang vão atuar como revendedoras da fabricante no país. Buzaid, da GoHobby, disse que a parceria envolve ainda o “treinamento da empresa que adquiriu [um eVTOL] para que, posteriormente, ela consiga as homologações da Anac para poder voar”.
O executivo afirmou que a GoHobby já teve “um impacto positivo nas vendas” do EH216-S, sem revelar números. Já a AT Global disse ter cartas de intenções para vender 40 aeronaves. Elas só poderão ser entregues quando receberem certificação no Brasil.
A AT Global e a prefeitura de Curitiba chegaram a dizer que fariam um voo de teste na cidade, no início de 2023, mas o experimento não aconteceu. À época, houve uma falha de avaliação da representante e da fabricante do eVTOL, explicou Daltro Santos.
“Foi 100% pelo fato de ainda não estarmos com a maturidade necessária para regular e fazer isso aqui, junto ao processo da nossa autoridade no Brasil, para organizar e legalizar essa aeronave, que era um protótipo”, disse o presidente da AT Global.
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eVTOL da EHang durante demonstração, em foto divulgada em setembro de 2022
Divulgação/EHang
Quanto o eVTOL da EHang custará?
O EH216-S tem preço sugerido de US$ 410 mil (cerca de R$ 2 milhões). O valor anunciado pela EHang no início de março passará a ser considerado pela empresa em 1º de abril.
A fabricante promove a aeronave como um equipamento útil em diversas finalidades, como táxi aéreo, turismo, transporte aeroportuário e deslocamento em emergências, por exemplo. E o modelo poderá ser comprado por empresas que pretendem operar serviços de eVTOLs.
Ainda não é possível projetar quanto custará uma viagem no EHang. Para o presidente da GoHobby, a aeronave chinesa deverá se posicionar em uma categoria sem tantos concorrentes, sem disputar com modelos como o da Eve, subsidiária da Embraer.
“Tem o eVTOL de cinco passageiros com alcance de 90 km ou 100 km, mas o preço que essa aeronave vai custar não tem nada a ver com o mercado do EH216-S. Não entram na mesma categoria”, afirmou.
“O que a EHang está fazendo com o 216-S é a porta de entrada para todas as pessoas que gostariam de voar de eVTOL, todas as empresas que gostariam de ter um eVTOL a um custo menor, se comparado com eVTOLs maiores”.
O presidente da AT Global seguiu a mesma linha e disse que o “carro voador” chinês não tem a mesma proposta de modelos de fabricantes como Lilium, Joby Aviation e Volocopter, que deverão ser capazes de fazer viagens mais longas, até mesmo entre cidades próximas.
“Nossa visão [para o modelo EHang] é entregar aquela última milha, aqueles 20 ou 30 quilômetros, de forma prática em áreas que não necessitem de uma estrutura de vertiporto tão próxima à de um heliponto”, afirmou.
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Conceito de eVTOL da Eve, subsidiária da Embraer
Divulgação/Eve
O que falta para outros eVTOLs chegarem?
A Anac também analisa o projeto da Eve e abriu consulta setorial para receber opiniões sobre a sua proposta de regras para a aeronave da empresa. A agência diz que pretende fazer uma análise caso a caso, antes de uma regulamentação geral.
“Quando a gente fala caso a caso, muitas vezes parece um negócio casuístico. Mas, na verdade, a gente está falando de um processo totalmente transparente”, diz Honorato. “A gente faz de uma maneira bem aberta, com a participação de operadoras, empresas”.
A Anac recebeu ainda um pedido formal de validação da certificação concedida ao modelo da Vertical Aerospace, no Reino Unido, e da Lilium, na União Europeia. No Brasil, os modelos estão envolvidos em parcerias da Gol e da Azul, respectivamente.
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eVTOL da EHang
Reprodução/EHang
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