Carreira em TI: como passar a ganhar mais | Tecnologia


Um levantamento global da consultoria Gartner aponta que apenas um em cada três trabalhadores do setor pretende se manter no emprego atual. A proporção é ainda menor – apenas um em cada quatro – quando se fala em profissionais que trabalham na América Latina.

Não ficar apenas na troca de seis por meia dúzia e “turbinar” a sua carreira, de fato, vai depender de agilidade para aprender e do investimento em habilidades que vão além do conhecimento técnico, dizem os especialistas ouvidos pelo g1.

Isso porque muitos dos cargos que pagam mais, como os executivos, envolvem liderar times, ter visão de negócios e saber ouvir o que o cliente quer. Os “chiefs” (Chief Information Officer, Chief Technology Officer e Chief Security Officer) estão em primeiro lugar na lista do guia da consultoria Robert Half, com salários que beiram os R$ 50 mil.

Vou ter que liderar equipe para ganhar mais?

Não necessariamente. O mesmo guia aponta que a média salarial de um desenvolvedor front-end (que cuida da parte visual dos sites e apps) pode chegar a R$ 19.350 para o nível de especialista. Um gerente da mesma área tem um salário começando em R$ 17.050.

A fundadora da consultoria de recrutamento ClockTI, Aline Oliveira, explica que os profissionais de TI podem seguir a chamada carreira “em Y”.

Em determinado ponto, eles têm a chance de seguir para um lado de liderança e coordenação de time ou se manter na mesma atividade, mas como especialista naquela função.

Em alguns casos, um profissional que é referência em determinada linguagem mais popular no mercado, como Python ou JavaScript, pode ganhar até o dobro de um gerente, diz Aline.

Profissional especialista pode ganhar até o dobro de um gerente — Foto: Hack Capital/Unsplash

Mas é preciso se comunicar

Aquela imagem do “moço da TI” como o “nerd” que fica em um canto do escritório e não fala com ninguém precisa ser quebrada por quem quiser progredir na carreira. “Introversão não tem nada a ver com comunicação: existem pessoas com esse traço de comportamento que falam e se relacionam muito bem com clientes”, afirma Aline.

Mesmo quem não tem planos de virar gerente precisa desenvolver habilidades comportamentais, as tais “soft skills”, no jargão em inglês.

As principais qualidades que precisam ser usadas no dia a dia são:

  • boa comunicação com o time e com clientes;
  • habilidade para resolver problemas;
  • resistência para trabalhar sob pressão;
  • facilidade para se adaptar a novidades e imprevistos.

Aprenda: para desenvolver essas características, o profissional pode buscar por cursos fora da área técnica. Para se aprimorar na comunicação, por exemplo, pode valer apostar em um curso de teatro.

Pratique: Participar de reuniões, apresentações, eventos e trabalhos em grupo é muito importante. E sempre pedir feedbacks para colegas próximos, para identificar pontos que precisa desenvolver”, indica Anne Lesinhovski, desenvolvedora front-end. Ela é dona de um perfil no Instagram sobre dicas de carreira nessa área, com mais de 24 mil seguidores.

Anne Lesinhovski, 29 anos, desenvolvedora front-end e mentora de carreiras em TI — Foto: Arquivo Pessoal

Visão de negócios é diferencial

Se interessar pela área de negócios e demonstrar conhecimento nesse aspecto valoriza o “passe” de um profissional, ensina Jhonata Emerick, professor da FIA e fundador da startup de análise de dados Datarisk.

“Não adianta fazer curso atrás de curso sem entender o que o mercado está pedindo”, completa Anne Lesinhovski.

Emerick recomenda escutar podcasts que abordem a área (IdeiaCast, Data Hackers, dentre outros) e fazer a leitura de relatórios de resultados de empresas de tecnologia que possuem capital aberto;. Esse tipo de documento é publicado de forma trimestral e está nos sites de relacionamento com investidores de empresas como Magazine Luiza, Nubank, Vale, Itaú, entre outras.

“Um documento de abertura de capital é muito detalhado, com estratégias, ideias de negócio que foram testadas [pela empresa]. Dá para fazer conexões legais com tecnologia”, indica o professor.

Profissional de TI com visão de negócios tem diferencial no mercado — Foto: Sigmund/Unsplash

Siga pessoas que são referência: todos os anos, o LinkedIn divulga uma lista “top voices”, com as personalidades que vale a pena acompanhar em diversos setores, incluindo tecnologia.

Continue nas comunidades: participar de grupos de discussão, ter relacionamento com pessoas que tenham a ver com a área técnica escolhida e saber os principais temas da atualidade não é útil só na hora de buscar o primeiro emprego.

Foi nessa troca de ideia com outros desenvolvedores que a programadora mobile Thaíssa Candella, de 25 anos, percebeu que havia “vida além do código”. Apesar de gostar da atividade, a profissional percebeu a oportunidade de evoluir na carreira como developer relations, nome em inglês para as pessoas focadas em criar relacionamentos e conteúdo para a comunidade de programadores.

Atualmente, Thaíssa é gerente de educação do Grupo Primo e embaixadora do Women Techmakers, programa do Google para incentivar o desenvolvimento de mulheres na área.

5 dicas que valem para qualquer mudança

Estude o cargo que é seu objetivo: seja para tentar uma promoção no emprego atual ou para se candidatar a uma vaga, o profissional precisa se informar e correr atrás dos requisitos e habilidades que são pedidos. Por exemplo: um especialista em segurança de nuvem vai precisar demonstrar que tem experiência com as soluções mais comuns no mercado, que trabalha com linguagens usadas para automação (Python, Node.JS, e outras) e que possui certificações ou domínio de proteção de dados.

Exiba o que você sabe: segundo o LinkedIn, os recrutadores geralmente buscam por formações tecnológicas e certificações específicas. Tanto no resumo quanto no campo de licenças e formações é importante destacar esses diferenciais. Para quem quer ser engenheiro(a) de dados, por exemplo, as competências mais comuns são Apache Spark, Hadoop e Hive. Para analista de desenvolvimento de sistemas, Scrum, AngularJS e Microsoft SQL Server.

Fique ligado nos comunicados: em geral, as empresas abrem recrutamentos internos quando surge um novo posto. O profissional também pode se informar sobre essas movimentações participando de grupos nos comunicadores corporativos e conversando com colegas de diferentes times.

Comunique o desejo de mudança: uma forma de demonstrar o interesse em uma nova área é estar presente em grupos sobre o assunto no comunicador corporativo (Slack, Teams ou outro). Ter contato próximo com quem trabalha no setor desejado também ajuda. Quem se sentir pronto para assumir a nova responsabilidade pode conversar com os líderes de setores envolvidos sobre a disponibilidade para oportunidades futuras.

Se for o caso, mude de empresa: quem se sente estagnado deve buscar novas oportunidades no mercado. A área está tão quente que tem gente mudando de emprego depois de alguns meses. Aline indica cuidado com as trocas excessivas para não ficar com fama de profissional que não se compromete com as empresas por onde passa. Se prepare para essa pergunta listando sua contribuição para os projetos que atuou, mesmo que por um período curto de tempo. De novo, vale a dica de estudar as vagas e comparar o seu currículo com os requisitos pedidos.

Profissionais podem trabalhar como freelancers e receber por projeto — Foto: Anthony Riera/Unsplash

Como atuar como freelancer

Outro reflexo da necessidade das empresas é a contratação de freelancers, os profissionais autônomos, que são pagos por projeto ou “job”. Algumas companhias também permitem que seus funcionários falam esses “frilas” no tempo livre, o que pode aumentar a renda.

Busque projetos em sites específicos: sites como Freelancer.com, Fiverr, Workana, Encontre um Nerd e 99 Jobs podem ser usados para que o profissional encontre projetos. Esses serviços cobram uma comissão que pode representar uma porcentagem do valor negociado com o cliente ou ter um preço fixo, a depender da plataforma escolhida.

Desenvolva uma reputação: além de melhorar os ganhos, mesmo para quem já tem um emprego, o trabalho autônomo pode ajudar a criar contatos com outras empresas e profissionais da área e servir como uma forma de conseguir uma posição melhor no mercado de tecnologia.

É preciso negociar: quem quer atuar de forma independente precisa reunir habilidades de negociação, além do conhecimento técnico para vender seu trabalho. Para isso, é essencial construir um bom portfólio no Github, ser atencioso ao nível de especialização pedido em cada projeto e ter jeito para barganhar por prazos e preços.

“Quem trabalha como freelancer pode ter uma jornada mais complicada porque está praticamente sozinho”, avisa Aline Oliveira, da ClockTI.

Com o trabalho remoto mais popular e o real desvalorizado em relação ao dólar e ao euro, há uma tendência de que empresas do mundo todo contratem profissionais em mercados como o brasileiro.

Um estudo feito pela consultoria Robert Half indica que contratar um desenvolvedor brasileiro pode sair até 40% mais barato para uma empresa estrangeira em comparação com o valor pago para um trabalhador americano de conhecimento equivalente.

Especialistas em desenvolvimento de software são os mais cobiçados, apontam as fontes ouvidas pelo g1.

O conhecimento em inglês, mesmo que apenas intermediário, é imprescindível – até para vagas em países que não têm a língua como sua principal.

Veja abaixo como encontrar potenciais vagas:

  • Fique de olho em sites especializados: além do LinkedIn, é possível buscar vagas em sites, como Toptal, Turing, StackOverflow e Relocate.me. Quem quer trabalhar recebendo por projeto pode procurar por oportunidades nas plataformas Fiverr, Upwork e Freelancer.com.
  • Tenha pronto um perfil em inglês: o LinkedIn permite criar uma versão da página pessoal em dois ou mais idiomas, o que facilita aos recrutadores estrangeiros. A rede social é um bom lugar para buscar por vagas, filtrando por “trabalho remoto” e selecionando a opção “Mundialmente” no campo de localização.
  • Mantenha o Github atualizado: é bem provável que os recrutadores não conheçam a universidade ou escola que você cursou. Um portfólio de projetos é uma forma simples de comprovar sua habilidade, já que o inglês é o idioma da maioria das linguagens de programação.

Apesar das plataformas de contratação oferecerem a possibilidade do trabalho remoto, quem estiver disposto, pode se mudar para o exterior. Foi o caso do desenvolvedor front-end Jean Schwab, de 36 anos, que decidiu ir para Portugal.

Jean Schwab, 36 anos, é desenvolvedor front-end — Foto: Arquivo Pessoal

Além do salário atraente, a companhia se ofereceu para pagar a documentação necessária para ele morar e trabalhar no país europeu.

Depois de dez meses, no entanto, ele voltou para casa. Schwab diz que não conseguiu se adaptar à cultura da companhia portuguesa – e tinha “dias miseráveis”.

“Foi a primeira vez que eu saí do Brasil para trabalhar fora e eu notei a solidão dos amigos. Morar em outro país, por mais que fale o mesmo idioma, é algo para o que nada na vida te prepara”, conta o desenvolvedor.

Segundo ele, mesmo quem está imigrando com um emprego certo ainda é uma minoria e pode acabar sofrendo preconceito.

Agora, Schwab mora em Curitiba e trabalha de forma remota para uma empresa do Canadá. Mas planeja se mudar para o exterior novamente. “A nova empresa oferece estrutura e suporte absurdos para quem é de fora”, destaca. “O pessoal foi mais receptivo e amigável. Eu estava traumatizado, mas agora me sinto em um caminho muito mais confortável.”

5 dicas para começar na carreira de TI

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Fonte: G1