Lucy, no céu com os asteroides


Sonda espacial vai visitar oito rochas celestes em uma viagem que vai durar dez anos

Decolagem: O foguete iluminou o céu da madrugada

Na madrugada do dia 16 de outubro, sábado passado, o lançamento de um foguete Atlas 5 iluminou o céu de Cabo Canaveral na Flórida. No cone do foguete viajava uma sonda espacial do tamanho de uma geladeira, chamada Lucy. Seu objetivo é viajar seis anos pelo espaço sideral, até se encontrar com os asteroides Troianos, que ficam na órbita do planeta Júpiter, a meio bilhão de quilômetros da Terra. Avaliada em 900 milhões de dólares, a sonda espacial recebeu seu nome em homenagem ao fóssil de um hominídeo descoberto na África, em 1974 pelo paleoantropólogo Donald Johanson. E ele deu este nome ao esqueleto do Australopitecus porque estava ouvindo a canção “Lucy in the sky with Diamonds” dos Beatles. Música que se tornou célebre numa interpretação do músico Elton John.
Donald Johanson foi assistir ao lançamento como convidado da Nasa. E o primeiro asteroide que será visitado pela Lucy também tem o seu nome. Os asteroides se tornaram um dos maiores focos da pesquisa espacial por dois motivos. Eles são fósseis cósmicos, restos da formação dos planetas há bilhões de anos. E representam um grande perigo para o futuro da civilização humana devido a possibilidade de colidirem com planetas como a Terra.
A agência espacial americana, Nasa, já concluiu com sucesso várias missões para pesquisar esses corpos celestes. Em 2011 e 2015 a sonda espacial Dawn (Aurora) visitou os dois maiores asteroides do cinturão que fica entre os planetas Marte e Júpiter. Depois de visitar os asteroides Vesta e Ceres a Dawn esgotou seu combustível e virou uma peça de lixo espacial, flutuando a deriva nas imediações de Ceres. No ano passado outra sonda, a Osiris Rex recolheu amostras da superfície do asteroide Benu, que cruza periodicamente a órbita da Terra. Outra missão, a Shoemaker pousou uma pequena nave na superfície do asteroide Eros no ano de 2001.
Mas apesar de todos esses sucessos restava uma região inexplorada. Os chamados asteroides Troianos, que ficam no ponto Lagrange, na órbita do gigantesco planeta Júpiter. Esse é o objetivo da Lucy, que vai chegar lá em 2027.
O foguete usado para enviar Lucy para o céu, o Atlas 5, é um lançador de potencia média. Ele não consegue velocidade suficiente para enviar a sonda diretamente para as imediações de Júpiter. Para chegar lá, Lucy vai precisar pegar mais velocidade, usando a gravidade do nosso planeta como acelerador. É o chamado impulso gravitacional. Depois de partir de Cabo Canaveral a nave vai descrever uma órbita elíptica ao redor do Sol, aproximando-se da Terra nos anos de 2022 e 2025. Cada vez que passar perto da Terra ela é acelerada pela gravidade do nosso planeta e sua elipse ao redor do Sol se torna cada vez mais ampla. Em 2025, no apogeu (ponto mais alto) desta órbita ela vai se encontrar com um pequeno asteroide do cinturão principal, o DonaldJohanson, que foi batizado em homenagem ao descobridor daquela outra Lucy, o fóssil do ancestral do homem.
Afastando-se cada vez mais do Sol a espaçonave robô terá seu primeiro encontro com os asteroides Troianos em 2027. Eles estão em uma órbita 60 graus a frente de Júpiter. A nave vai sobrevoar os asteroides Euribates (que tem um pequeno satélite), Polimele, Leucus e Orus. Depois a nave dourada retorna a Terra em 2031 para pegar mais velocidade e se encontrar com outro grupo de asteroides que segue 60 graus atrás de Júpiter, no ponto Lagrange 5. Nesses pontos a gravidade de Júpiter cria uma região estável, uma espécie de Mar dos Sargaços espacial onde os asteroides ficam presos.
Terminada sua missão Lucy vai orbitar o Sol durante milhares de anos. Pensando em futuros viajantes espaciais que podem encontrar a sonda 10, ou 20 mil anos no futuro, a Nasa colocou várias mensagens na nave. Incluindo trechos da canção dos Beatles, e pronunciamentos de personalidades do passado como o astrônomo Carl Sagan e o líder dos direitos civis Martin Luther King.

 

Jorge Luiz Calife





Fonte: Diário do Vale