E o sertão vai virar mar


Um filme recente, “Caminhos da Memória”, mostra o Hugh Jackman vivendo em uma cidade de Miami que virou uma Veneza futurista. Com as ruas transformadas em canais pela elevação do nível dos oceanos. Uma ficção que esta mais perto da nossa realidade do que as pessoas imaginam. Recentemente a agência espacial americana, a conhecida Nasa, divulgou um mapa online que mostra os efeitos do aquecimento global sobre a elevação do nível dos mares. O que pode alterar radicalmente a paisagem costeira da maioria dos países. No Rio de Janeiro, por exemplo, as praias do Flamengo e de Botafogo vão desaparecer, o aeroporto Tom Jobim ficará submerso e o Morro da Urca e o Pão do Açúcar se transformarão em uma península.

O mapa é interativo e pode mostrar vários cenários previstos na última reunião do IPCC. Ou seja o Painel Intergovernamental da ONU para a Mudança Climática. No cenário menos radical a humanidade consegue reduzir as emissões de gases do efeito estufa, a temperatura média sobe 1,5 graus e a elevação do nível do mar é pequena. Nos cenários piores as emissões de gases não diminuem, a temperatura sobe mais de dois graus, a Groenlândia descongela e o nível do mar sobe acima de dois metros engolindo praias e regiões costeiras. O derretimento da Groenlândia já é um fato e tem provocado descobertas inesperadas. Como a existência de uma ilha mais ao norte do que todas as outras já conhecidas. Esta ilha estava escondida pela calota de gelo que cobria o mar Ártico. Com o derretimento do gelo a ilha apareceu e foi mapeada por uma expedição que investigava as regiões do círculo polar. Outra consequência do derretimento dos gelos foi o enfraquecimento da Corrente do Golfo, que é vital para a manutenção do clima atual do planeta.

O problema preocupa os principais cientistas e líderes mundiais. Porque uma elevação do nível dos mares vai fazer muito mais do que alterar a paisagem costeira. Dez por cento da população do planeta, cerca de 600 milhões de pessoas, vive em áreas costeiras a menos de 10 metros acima do nível do mar. A elevação dos mares vai obrigar uma população enorme a se deslocar em busca de outros lugares para viver. Além disso boa parte da produção agrícola do mundo vem dessas regiões baixas. Enormes áreas agrícolas serão inutilizadas pelo avanço da água salgada. Como já esta acontecendo no nordeste dos Estados Unidos, onde florestas inteiras estão morrendo devido a contaminação do subsolo pela água que vem do mar.

Segundo o diretor da Nasa, Bill Nelson, a nova ferramenta vai dar ao povo norte-americano e aos tomadores de decisões todas as informações necessárias para as decisões sobre políticas publicas e econômicas que serão necessárias no futuro próximo.

“A medida em que comunidades em todo o país se preparam para os impactos do aumento do nível do mar o acesso a dados bons e claros é a chave para salvar vidas e meios de subsistência” concluiu Bill Nelson. Até recentemente os modelos de elevação do nível do mar previam um aumento de um metro nos próximos cem anos. Mas o processo pode se acelerar devido ao degelo do ártico e do antártico e as mudanças nas correntes oceânicas. A chamada morfologia costeira e o regime de marés também fazem com que algumas regiões sejam mais afetadas do que outras.

Na última década o processo tem se acelerado . Entre os anos de 1901 e 2018 o nível do mar subiu 20 centimentros, mais rápido do que em qualquer outra época nos últimos 3 mil anos. Os anos mais recentes estiveram entre os mais quentes da história e ondas de calor provocaram estragos consideráveis no hemisfério norte, este ano. O mapa da Nasa permite visualizar o aspecto da costa de todos os países entre os anos de 2020 e 2150 nos cinco cenários de aquecimento previstos no Sexto Relatório de Avaliação do IPCC.

Rio de Janeiro: Aeroporto ficará submerso

Mapa: Áreas afetadas estão marcadas em azul

 

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Fonte: Diário do Vale