Sozinho, voluntário cava no alto do Morro da Oficina para achar corpos: ‘O coração tá queimando dizendo que tem alguém ali’ | Região Serrana


Nem a chuva, nem o mau tempo nesta sexta-feira (17), no Morro da Oficina,  em Petrópolis, tiraram o mecânico Rafael Souza Pinho, de 35 anos, do ponto mais alto da comunidade. Consequentemente,  a mais arriscada depois de uma noite e manhã de chuva na cidade, que sofre com a destruição provocada pelo temporal de terça-feira (15).

A força e a obstinação chamavam atenção e indicavam que ele tinha parentes ali. Mas na verdade, Rafael sequer conhece pessoas na localidade. Ele simplesmente se comoveu com a dor de quem perdeu tudo e foi tentar achar corpos.

“Não tenho parente ali não. Sou voluntário.  E estou ali porque o cheiro está forte. Tenho certeza que tem alguém ali. O coração tá queimando dizendo que tem alguém ali”, diz o voluntário.

Quatro dias após o temporal que deixou mais de 122 mortos, muitas pessoas ainda buscavam por notícias de familiares no Instituto Médico Legal (IML) da cidade.

Questionado sobre a força para estar no local, Rafael garante que a força maior é de quem morava ali. “O vizinho da casa de baixo perdeu oito pessoas – ele já viu cinco saírem. Não sei de onde ele está tirando forças. A força maior é a dele – eu estou só na força braçal. Eu não teria o coração e a cabeça para suportar um ente querido meu saindo daqui”, garante.

O rapaz também faz um apelo por ajuda de equipamentos, pois com o deslizamento de terra árvores grandes foram arrastadas junto com a lama e os destroços das casas.

“No momento está muito difícil para a gente porque a árvore é muito grande. Já conseguimos tirar a maior parte, mas precisamos de uma motosserra. Quero até fazer um apelo para as pessoas que têm lojas desses equipamentos aqui em Petrópolis que emprestem para a gente. Fica sob a nossa responsabilidade – depois a gente se vira para pagar. Aqui tem muita gente precisando. Tem muita gente aí embaixo”, afirmou Rafael.



Fonte: G1