Seis meses após tragédia em Petrópolis, famílias retornam para áreas de risco e obras de contenção ainda não foram realizadas | Rio de Janeiro

Com três pessoas ainda desaparecidas, a tragédia é a maior da história da cidade na Região Serrana do Rio de Janeiro e, seis meses depois, os moradores reclamam da ausência do poder público na cidade.

A reabertura e a limpeza ocorreram nas áreas centrais e turísticas da cidade, com o retorno do comércio e as obras de recuperação. Isso não é percebido nas regiões mais afetadas, em que há casas nas encostas.

“Nada foi feito. Pelo que eu vejo, eles estão focando muito no centro histórico, mas e os bairros? Petrópolis é feita dos bairros também, não é só centro histórico. Onde está esse dinheiro que foi enviado para cá para ajuda o povo de Petrópolis? Onde foi parar? A gente não está vendo melhoria em nada”, lamenta a desempregada Regiane Gomes de Oliveira Xavier.

Algumas pessoas voltaram a morar em áreas de risco, como a dona de casa Marina Martins Isaltino, de 80 anos, e o marido dela, Osvaldo, de 92 anos.

Em fevereiro, a Defesa Civil interditou a área onde ela morava, no bairro Alto da Serra, após o deslizamento de uma encosta. Além dos danos materiais, ela perdeu vizinhos e amigos.

“Nós estamos aí, sem água, só tem luz. Água tem que carregar da casa do vizinho. Está horrível, tomar banho de canequinha e carregando água, esquentando água para tomar banho. É horrível isso”, afirma.

Dificuldade com Aluguel Social

A costureira Teresa De Oliveira afirma que teve a casa interditada, mas também não foi embora por não ter aonde ir. Ela não conseguiu o Aluguel Social prometido às vítimas devido, segundo ela, à burocracia do processo.

“Aluguel [Social] não saiu. O que veio para a cidade não foi entregue nas nossas mãos. Sem ajuda do governo, como é que faz? Não tem como a gente sair e custear do bolso”, define a desempregada Thamires Ramos Viana.

Em 20 de março, uma nova chuva forte causou mais estragos na região.

Centenas de animais impactados também foram resgatados. Uma gatinha, chamada Vitória, ficou nove dias soterrada e, nesta segunda-feira, estava disponível para adoção.

Na época, o governo estadual prometeu R$ 150 milhões em investimentos, e o governo federal anunciou medidas de reconstrução. Só que o governo do estado do Rio de Janeiro e a prefeitura de Petrópolis não chegam a um consenso de quem é a responsabilidade.

Ao repórter André Coelho, da GloboNews, o prefeito Rubens Bomtempo reconheceu que as críticas dos moradores são justas.

“Trabalhando em parceria com o governo do estado, com o governo da União. Muita gente não conhecia o território, e a gente teve essa dificuldade de entrosamento de equipes. Contra o tempo, mas cumprindo a legislação. Se a gente estende prazo do estado de calamidade pública, afinal de contas, a prefeitura só conseguiu esse empréstimo porque esse empréstimo só veio fim de junho, a gente consegue fazer algo de forma mais célere”, afirma o prefeito de Petrópolis.

A prefeitura afirmou que planeja incluir mais 40 obras emergenciais de contenção e recuperação em vias públicas; que avalia a necessidade de reconstrução nos bairros e desenvolve projetos para essas obras; e que ainda paga o Aluguel Social de 3.917 famílias.

O governo estadual alegou investir R$ 500 milhões em intervenções nos bairros; que obras emergenciais estão avançando “em ritmo acelerado”. Sobre um dos bairros relatos na reportagem, Chácara Flora, o governo disse que algumas obras estão com os projetos concluídos e em processo de contratação.

A TV Globo pediu um posicionamento do governo federal e não teve retorno até a publicação desta reportagem.

Fonte: Portal G1