A decisão judicial foi proferida pelo juiz titular Marcelo Alberto Chaves Villas, nesta quinta-feira (26).
A pregação em que Karla fala para os fiéis pararem “de querer ficar postando coisa de gente preta, de gay” aconteceu no dia 31 de julho e foi divulgada no canal oficial do grupo jovem da Igreja Sara Nossa Terra, mas foi excluída com a repercussão negativa.
Após a repercussão do caso, a mulher disse que foi “infeliz nas palavras”.
Durante a pregação, Karla afirmou que “É um absurdo pessoas cristãs levantando bandeiras políticas, bandeiras de pessoas pretas, bandeiras de LGBTQIA+, sei lá quantos símbolos tem isso aí. É uma vergonha, desculpa falar, mas chega de mentiras, eu não vou viver mais de mentiras. É uma vergonha. A nossa bandeira é Jeová Nissi. É Jesus Cristo. Ele é a nossa bandeira”.
Para o juiz Marcelo Alberto Chaves Villas, o discurdo de Karla “perpassa, sim, a noção inicial de que a intenção da agente seria, de fato, de induzir ou de incitar a discriminação ou preconceito de raça e cor, bem como o preconceito ou a discriminação de grupos identificados pelo ponto comum da vulnerabilidade com o movimento LGBT”.
O G1 entrou em contato com a defesa de Karla e aguarda um posicionamento.
No dia 2 de agosto, a Polícia Civil abriu um inquérito depois de analisar o discurso de Kakau Cordeiro. Na ocasião, o delegado titular da 151ª DP, Henrique Pessoa, disse que há um “teor claramente racista e homofóbico, o que configura transgressão típica na forma do artigo 20 da Lei 7716/87”. (assista ao vídeo abaixo)
Polícia em Friburgo abre inquérito após discurso em igreja: ‘teor racista e homofóbico’
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou a pregadora no dia 20 de agosto. De acordo com a denúncia do MPRJ, Kakau Cordeiro praticou, induziu e incitou o preconceito e a discriminação contra as pessoas de cor preta e aquelas pertencentes à comunidade LGBTQIA+.
“Endereçando suas palavras aos jovens presentes e à audiência irrestrita das mídias sociais, a denunciada Karla, a pretexto de enaltecer sua ‘bandeira’, induziu e incitou menosprezo pelas pessoas de cor preta e por aquelas integrantes da comunidade LGBTQIA+, praticando discriminação e preconceito contra aquelas e suas causas ao enfatizar a ‘vergonha’ que tais ‘bandeiras’ importariam se fizessem parte das manifestações sociais dos seus ouvintes”, declarou o Ministério Público em denúncia.
“O direito a liberdade religiosa e de culto, garantida constitucionalmente, não pode encobrir discursos de ódio ou práticas racistas. […] nem um direito individual pode ser reputado como um direito absoluto”, ressaltou o Ministério Público, acrescentando que “Ao Estado está vedado qualquer forma de censura ou de ofensa à liberdade de expressão, de pensamento ou de crença, mas […] mesmo tais direitos devem ser exercidos por todos os cidadãos com responsividade”.
Ainda para a Promotoria de Justiça, a fala da pregadora “evidenciou um conjunto de ideias preconceituosas, contrariando, assim, entendimentos mais inclusivos acerca das diferentes posições e demandas sociais existentes em sociedade pluralista”.
Na nota de retratação, publicada por Karla nas redes sociais, a pregadora afirmou que não era a intenção dela praticar nenhum ato discriminatório.
“A minha intenção era de afirmar a necessidade de focarmos em Jesus Cristo e reproduzirmos seus ensinamentos, amando os necessitados e os carentes. Principalmente as pessoas que estão sofrendo tanto na pandemia. Fui descuidada na forma que falei e estou aqui pedindo desculpas”, disse.
Fonte: G1