Idoso morre após ficar três dias internado e família denuncia falta de informações sobre os pacientes em Petrópolis, no RJ | Região Serrana


Além da angústia de ter um parente lutando pela vida infectado com Covid-19, familiares de pacientes internados em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, denunciaram que estão com dificuldades para conseguir informações sobre o estado de saúde dos doentes.

Um dos casos é o da família do idoso Arnaldo Luiz Marques, de 80 anos. Os familiares contam que ficaram três dias sem notícias. Quando conseguiram informações, o idoso já tinha morrido.

Seu Arnaldo Luiz Marques, de 80 anos, morreu após passar três dias internado na UPA de Petrópolis; família diz que não conseguiu informações sobre o estado de saúde dele — Foto: Arquivo pessoal

O idoso estava internado desde terça-feira (30) na UPA do Centro de Petrópolis, quando a família teve o último contato com ele.

“Na terça, o meu pai se sentiu mal. Ele já estava reclamando com um pouquinho de dor, mas era teimoso e não queria ir no médico. Por fim, eu consegui chamar o Samu e eles olharam meu pai. Os batimentos estavam bons e a pressão boa. O único problema é que ele não queria se alimentar. Eles disseram que era melhor eu mesma levá-lo até a UPA do Centro. Seguindo a orientação deles, eu fui e levei o meu pai”, disse a filha Rosa Maria Marques.

Rosa Maria contou que o pai estava com dor no peito e com o braço quebrado porque tinha caído uns dias antes. Quando deram entrada na UPA, por volta das 13h da terça, o médico de plantão pediu uma tomografia do peito e exames de sangue e urina. Os resultados dos exames de sangue e urina saíram por volta das 18h e a tomografia de madrugada.

“Meu pai ficou lá o dia inteiro sem comer. Eu pedi várias vezes pra colocarem ele no soro porque ele estava fraco. Cansei de pedir mas o médico disse que não poderia colocar. Quando trocou o plantão, às 20h, meu pai foi tomar água e vomitou. Chamamos o outro médico. Ele reavaliou meu pai e colocou ele no soro”, disse a filha.

O resultado da tomografia apontou que seu Arnaldo estava com 50% dos pulmões comprometidos. Segundo a família, o médico disse que poderia ser Covid mas que o exame não era eficaz para diagnosticar a doença. Seria necessário fazer um teste tipo RT-PCR, mas não poderia ser feito naquele momento.

“Imediatamente ele falou que ia isolar meu pai em uma sala onde tinham várias pessoas com Covid, sem saber se ele tava com Covid. Eu questionei que se ele não tivesse ele poderia pegar. Ele [o médico] falou que com 50% era bem provável ser Covid. Perguntei se eu poderia levá-lo pra cuidar em casa. Ele disse que não e que era melhor deixá-lo lá. Assim eu fiz… com muita dor no coração deixei meu pai lá”, contou Rosa Maria.

Rosa Maria ao lado do pai Arnaldo Luiz Marques; idoso morreu nesta sexta-feira (2) em Petrópolis — Foto: Arquivo pessoal

Os familiares disseram que tentaram contato por telefone diversas vezes nos últimos três dias, mas não conseguiam informação sobre o estado de saúde dele. Segundo a família, uma assistente social pediu para que aguardassem que um médico entraria em contato, mas isso nunca aconteceu.

“A assistente social me disse que o médico ligaria, só que eles estavam com muitos pacientes e estavam ligando só pros casos mais graves. Até então eu não tinha notícias se meu pai tava se alimentando, qual tipo de remédio estava tomando… Mas nenhum médico me ligou”.

A filha do idoso disse que um funcionário da UPA ligou para ela às 3h da manhã desta sexta-feira (2) informando que o médico pediu para que os familiares fossem até a unidade. Nesse momento, a família imaginou que o idoso tinha falecido, sem sequer ter sido informada que o caso dele tinha ficado mais grave.

“Se eles tivessem ligado falando que o quadro dele estava agravando, a gente tinha entrado na Justiça, tinha procurado outros meios pra transferi-lo. Isso foi um descaso com a família, a gente tava sem dormir direito. Meu pai sempre foi uma pessoa forte e ativa. Nunca teve problemas de saúde”.

“Eu faço um apelo pra que mude o jeito de tratarem os pacientes pra que outras pessoas não passem o que nós estamos passando”, disse a filha emocionada.

Seu Arnaldo Luiz Marques ao lado das netas — Foto: Arquivo pessoal

Família lembra que seu Arnaldo gostava de dançar e era uma pessoa ativa

Família lembra que seu Arnaldo gostava de dançar e era uma pessoa ativa

Seu Arnaldo tinha completado 80 anos em agosto do ano passado. A família conta que ele era uma pessoa ativa, sorridente e gostava de dançar, como no vídeo que a família vai guardar para sempre como recordação. (vídeo acima)

Outra filha do seu Arnaldo, Dina Marques, contou que disseram à família que enviariam um vídeo do paciente para eles.

“Não foi enviado nenhum vídeo. Quando ele, mesmo triste e nas últimas, visse a gente por videoconferência, ele ia se animar porque o coração dele ia se alegrar em nos ver. A alegria traz vida. Nesse momento, o hospital tá faltando com respeito com o paciente e com os parentes. Nem por um vídeo eles nos deixam ver nossos doentes. Isso que ia botar meu pai pra cima porque ele ia ver a gente e ia sentir que tinha gente preocupada com ele. Ele ia ficar feliz”, disse Dina.

O G1 entrou em contato com a secretaria de Saúde que informou que está apurando o caso junto à coordenação das upas.

A Prefeitura de Petrópolis destacou que a cidade vive hoje o pior momento da pandemia de Covid-19, o que vem sobrecarregando o atendimento nas unidades e impactando toda a rede de saúde da cidade, inclusive o sistema particular.

O município disse ainda que já ampliou a quantidade de leitos, mas, mesmo com as ampliações, Petrópolis tinha até o fim da tarde de quinta-feira 97,37% de leitos de UTI da cidade ocupados, com 159 pacientes internados em estado grave.



Fonte: G1