‘Chegando ao limite’, diz subsecretária de Vigilância em Saúde de Nova Friburgo, RJ, sobre Covid-19 na cidade | Região Serrana


“Toda a região está colapsada”. Essa é a afirmação da subsecretária de Vigilância em Saúde de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, Fabíola Braz Penna. A afirmação vem na semana em que a cidade entrou na bandeira roxa, que é o nível mais alto de restrições nesse período de combate ao novo coronavírus. A cidade tem 12.400 casos de Covid-19, com 376 mortes causadas pela doença.

De acordo com o último boletim da Covid-19, divulgado nesta segunda-feira (5), o município está com 98% dos leitos de UTI ocupados. No Hospital Municipal Raul Sertã, não há mais vagas para os pacientes mais graves com a doença. Fabíola diz que o cenário vivido atualmente é muito pior que o de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde declarou pandemia.

“Depois de pouco mais de um ano de enfrentamento da pandemia a gente vem vivendo, hoje, o pior cenário. Tivemos momentos delicados, mas não igual a esse, com todos os indicadores ruins, como a positividade, as taxas de ocupação de leitos clínicos e UTI Covid, e a letalidade. Toda a região depende de Nova Friburgo. Podemos dizer, principalmente sobre os leitos de UTI, que são utilizados pelos pacientes mais graves e como o município é polo, e se não temos leitos disponíveis, toda a região está colapsada”, afirmou.

Ocupação nos leitos de UTI

Um dos indicadores que mais preocupam a administração pública é a ocupação de leitos de UTI. Nova Friburgo chegou a receber pacientes mais graves de outras cidades, mas essa não é a realidade atual. Na rede pública, todos os leitos da Unidade de Terapia Intensiva, atualmente, são ocupados por friburguenses.

“Hoje, os leitos estão com internações de pessoas que moram em Nova Friburgo. A gente recebe pacientes quando há leitos. Mas, hoje, as vagas estão ocupadas por friburguenses. O município de Nova Friburgo é polo para a região, tanto na rede pública como na rede privada. Os nossos leitos públicos são regulados pelo SUS, e é natural que recebamos pacientes de fora, por sermos um município com capacidade hospitalar maior” comentou Fabíola, que acrescentou que a liberação de vagas tem acontecido da pior forma.

“A maioria das vezes que a gente tem liberação de leito é por óbito, infelizmente”.

“A gente chegou a uma fase da pandemia em que tivemos uma taxa de alta bastante significativa, com pessoas respondendo os tratamentos de suporte, já que ainda não temos um tratamento específico pra Covid-19. Porém, o que a gente vê são pessoas chegando ao hospital em estado muito avançado e evolução muito rápida”, destacou.

Nivelamento de restrições

A previsão é de que a bandeira roxa seja mantida em Nova Friburgo, pelo menos, até o próximo domingo (11). O anúncio do novo nível de restrições que será aplicado na próxima semana costuma ser feito na sexta-feira anterior, após uma reunião do Comitê Operativo de Emergência (COE).

Nesta semana, comerciantes se reuniram em frente à Prefeitura em um ato contra medidas de restrição e pedindo a retomada do comércio. Em uma publicação nas redes sociais, o prefeito, Johnny Maycon (Republicanos), anunciou uma possível flexibilização da bandeira roxa.

“Após horas de discussão chegamos a conclusão que a alternância de funcionamento das atividades comerciais com CNPJ pares em um dia e ímpares no outro, na bandeira roxa, nós teremos redução de circulação de pessoas nas ruas e atingiremos um ponto de equilíbrio. Desta forma, estabelecimentos que sempre estão abertos também terão que obedecer a esta regra”, diz o texto.

Fabíola Braz Penna, que é integrante do comitê que analisa os dados da Covid-19 na cidade, ressaltou a importância de se discutir alternativas para todos os setores levando a saúde em consideração.

“Todos os pleitos que são respeitosos, são legítimos. A gente entende o drama da economia, todos nós que vivemos em um sistema econômico dependemos do capital, dos recursos. Mas, hoje, a gente chega a um colapso de uma rede de assistência, que está saturada e que depende de novos profissionais em função dos afastamentos. Um ano depois é muito difícil parar e recomeçar, como em março do ano passado, mas ainda temos muitas interrogações sobre o vírus, mas é necessário que tenhamos medidas restritivas” pontuou Fabíola.

A subsecretária explicou, ainda, como é feita a escolha da bandeira que entrará em vigor.

“A escolha da bandeira não depende de uma pessoa (da administração pública). Ela depende de números, de dados epidemiológicos que são computados diariamente”.

A bandeira roxa mostra que todos os dados estão ruins, e a população precisa entender que o roxo é um sinal de alerta. São números que mostram que estamos chegando ao nosso limite máximo de capacidade” ressaltou.

Jovens cada vez mais doentes

A cidade tem registrado, em média, entre 80 e 100 novos casos por dia. Mas o número já chegou a 120. Há uma mudança na faixa etária dos pacientes mais graves. Antes, a predominância era de idosos. Hoje, pacientes cada vez mais jovens precisam ser internados.

“A gente tem uma percepção muito nítida da mudança na faixa etária da população atingida. Temos muitos idosos, mas estamos avançando para os mais jovens, infelizmente. E essa população procura atendimento em um momento de muito avanço da doença e que, em muitas das vezes, não dá tempo de receber nenhuma medicação. Há uma demora na procura por assistência”.

“No último boletim que divulgamos (na segunda-feira), dos 15 óbitos, cinco não tinham comorbidades”.

Desgaste na linha de frente

Fabíola, que está na linha de frente da tomada de decisões desde o início da luta contra o coronavírus, ressalta que a opinião técnica e dados diários comprovam a necessidade de uma maior rigidez no controle da circulação das pessoas para evitar o surgimento de novos casos de Covid-19. Ela também conta os relatos dos profissionais de saúde da linha de frente durante essa nova, e desgastante, etapa da pandemia.

“O que a gente mais percebe é o cansaço físico e mental. Antes, via muita gente saindo bem, tinha muita comemoração quando as pessoas superavam as internações prolongadas. Hoje, há um esgotamento nos profissionais e com uma sensação de frustração, por dedicar horas aos pacientes e, no fim das contas, perdê-los. Tudo isso traz uma exaustão muito grande aos profissionais de saúde, em uma sensação muito mais dramática do que em março do ano passado, quando a pandemia começou”.

“Daqui a pouco a gente não vai ter mais profissional de saúde, não só por cansaço físico, mas por cansaço mental”, alertou a subsecretária.



Fonte: G1