Artista plástico faz campanha para ajudar famílias atingidas pela chuva em Petrópolis: ‘questão de humanidade’ | Região Serrana


O artista plástico Thiago Rocha Pitta, morador do bairro Siméria, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, tem colocado em prática o ditado “fazer o bem, sem olhar a quem”. Ele está promovendo uma campanha para ajudar as famílias atingidas pelas chuvas da última terça-feira (22) na cidade.

Seis casas foram destruídas após deslizamentos de terra. Três casas foram atingidas no bairro Siméria e outras três no bairro São Sebastião.

Thiago morou no bairro Siméria quando criança e retornou para o bairro em 2017. A casa onde mora passou a sediar a Fundação Abismo, projeto desenvolvido por ele.

A sede se tornou abrigo temporário para as famílias que tiveram as casas destruídas por causa dos deslizamentos de terra.

A propriedade fica na Estrada Presidente Sodré, próxima à Rua Manoel Francisco de Paula, onde ficavam as casas atingidas. Pelo menos dezesseis pessoas correram para a sede da Fundação depois do deslizamento.

Marcela e Geraldo Messias, uma das famílias desalojadas que recebeu doação em Petrópolis — Foto: Arquivo pessoal

“Acabei me aproximando dos vizinhos, eu os via todos os dias e alguns conheço desde criança. Quando a barreira caiu, ficaram todos cercados de lama e a única saída que tiveram foi o portão que eu abri lá em cima. Todos ficaram aqui pelo menos até meia-noite, e depois foram pra casa de amigos e parentes”, contou Thiago.

Na primeira noite, depois do ocorrido, o artista plástico chamou a equipe do projeto para ajudá-lo. Uma família chegou a dormir lá, e depois disso, a família da Janiele, do Marcos e do Bryan, se instalou na casa, temporariamente.

Janiele, Marcos e o filho Bryan estão abrigados na sede da Fundação Abismo após perderam a casa por conta da chuva em Petrópolis, no RJ — Foto: Arquivo pessoal

“É uma questão de humanidade. É impossível ver pessoas nessa situação, sobretudo pessoas que você conhece e convive, e não ajudar. A gente acolheu todo mundo, tentou acalmar, dar amparo emocional. No dia seguinte, fui visitar o local do deslizamento, e foi uma cena muito chocante”, acrescentou.

Foi então que o artista plástico resolveu fazer uma campanha para arrecadar dinheiro e ajudar as famílias. Já foram arrecadados mais de R$ 6 mil.

“Nós já distribuímos uma parte do dinheiro pra ajudar nas mudanças e espero continuar a campanha até o momento que tiver todo mundo abrigado, com uma casa nova, em segurança, e todo mundo bem. Pra que as famílias consigam reconstruir a vida delas, com o mínimo de conforto”, disse.

Famílias retiraram os pertences que sobraram após deslizamento em Petrópolis, no RJ — Foto: Lucas Machado/Inter TV

Além da campanha de arrecadação de dinheiro, estão chegando doações da comunidade do Siméria. Já foram recolhidas roupas, móveis e alimentos.

“A gente já conseguiu arrecadar alimento pra cada família, por pelo menos um mês”, contou Thiago.

Nascido em Tiradentes, no Estado de Minas Gerais, Thiago se mudou para Petrópolis em 1988, um dia antes da tragédia climática que matou mais de 130 pessoas na cidade.

“Na época, nós passamos a noite na rua e não conseguimos voltar pra casa. Também fui abrigado por uma pessoa, e, além disso, passei a infância e a adolescência testemunhando diversas tragédias em Petrópolis. É algo que me emociona muito, porque tenho muita memória disso”.

A campanha, denominada SOS Siméria, está sendo divulgada nas redes sociais da Fundação Abismo. A intenção é ajudar as famílias da Rua Manoel Francisco de Paula, mas como muita gente tem ajudado, Thiago também vai disponibilizar para as famílias atingidas nos bairros São Sebastião e Independência.

“Além do dinheiro, estamos recebendo, também, muitas roupas. Tudo o que for mais que o necessário, vamos doar pra outras famílias ou pra qualquer instituição de caridade”, ressaltou Thiago.

Informações sobre como doar podem ser encontradas nas redes sociais da Fundação Abismo (@afundabismo).

Sede da Fundação Abismo, em Petrópolis, no RJ — Foto: Arquivo pessoal

A Fundação Abismo existe desde 2018 e funciona na propriedade onde mora o artista plástico Thiago Rocha Pitta.

O lugar, que mistura arte, educação e meio ambiente, abriga sete obras dele e que interagem com a paisagem. As obras são “Herança”, “Juventude”, “Cinema fóssil”, “Monumento à deriva continental”, “O silêncio”, “Sem título” e “Abismo sobre abismo”.

Lá funciona, ainda, o Projeto Abismo de Educação Ambiental, com o objetivo de conscientizar crianças de 6 a 11 anos, de escolas municipais do Siméria, sobre a importância da sustentabilidade.

Projeto Abismo Ambiental, em Petrópolis, no RJ — Foto: Arquivo pessoal

Por causa da pandemia, o local, que funcionava em esquema de agendamento, está fechado.

“É um lugar pra entender o modo de viver junto com a natureza, sustentável. Com arte, beleza e poesia”, finalizou.





Fonte: G1