Viação Acari, que comanda oito linhas de ônibus no Rio, anuncia que encerrará as atividades


Daqui a aproximadamente um mês, milhares de cariocas ficarão sem oito linhas de ônibus e 600 trabalhadores rodoviários correm o risco de entrar para a lista do desemprego na cidade. Na manhã desta quarta-feira, a Viação Acari, que opera há 59 anos em sua sede em Cascadura, Zona Norte do Rio, informou à direção do Sindicato dos Rodoviários Rio (Sintraturb) que irá deixar de circular a sua frota de 150 ônibus em caráter definitivo.

Com o fechamento da empresa que faz parte dos consórcios Internorte e Transcarioca, cerca de 40 mil passageiros que circulam nos trajetos entre as Zonas Norte, Sul e Central serão afetados com o fim das linhas 254 (Madureira x Candelária), 277 (Rocha Miranda x Candelária), 456 (Méier x Ipanema), 457 (Abolição x Copacabana), 607 (Cascadura x Rio Comprido), 650 (Engenho Novo x Mal Hermes), 667 (Madureira x Méier) e 686 (Fazenda da Bica x Madureira [Circular]). Algumas delas, inclusive, já vinham sofrendo com a diminuição de circulação e irregularidade no serviço, sofrendo muitas críticas dos passageiros, principalmente, pelas redes sociais.

De acordo com o presidente da Sintraturb, Sebastião José, a entidade está aguardando a notificação oficial do fechamento para tomar as medidas judiciais para resguardar o direito dos profissionais que trabalham na empresa. Em janeiro do ano passado, o sindicato havia ingressado com uma ação no Tribunal Regional do Trabalho pedindo a penhora da arrecadação dos consórcios Internorte e Transcarioca, além do da Viação Acari, para que se regularizasse os pagamentos atrasados dos motoristas, cobradores, fiscais e do administrativo da empresa. No mesmo mês, os funcionários haviam feito uma paralisação para reivindicar o pagamento dos salários que estavam atrasados há dois meses.

Por conta dos salários atrasados, funcionários da Viação Acari tinham feito paralisação em janeiro do ano passado
Por conta dos salários atrasados, funcionários da Viação Acari tinham feito paralisação em janeiro do ano passado Foto: Reprodução/TV Globo

— Infelizmente, a Viação Acari já vem enfrentando uma enorme crise financeira há três anos e, com a pandemia, essa situação só fez se agravar. Já havíamos ingressado com várias ações trabalhistas contra a empresa devido aos inúmeros acordos realizados e não cumpridos. Agora, nossa finalidade é garantir o pagamento de salários atrasados, 13º, cestas básicas e tíquete refeição, além das rescisões contratuais estabelecidas por lei, além de saber quais empresas que irão operar essas linhas e garantir a permanência dos trabalhadores em seus postos — explicou o presidente.

A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) informou que ainda não foi notificada sobre o encerramento das atividades da empresa e que, por meio do sistema de monitoramento via GPS, ainda não identificou a redução da circulação de ônibus vinculados à ela.

De acordo com o Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus), ainda não há certeza sobre quais empresas que iriam substituir as linhas que eram de responsabilidade da Viação Acari, e nem quais serão extintas. A empresa também é a 17ª companhia extinta por reflexos da crise financeira que se abateu no setor desde 2015 e que foi agravada com a pandemia, fazendo o setor acumular um déficit de receita de R$1,3 bilhão. Desde março do ano passado houve uma queda de cerca de 50% dos passageiros pagantes, com a média diária de passageiros transportados caindo de 3,5 milhões para 1,7 milhão. Por isso, o risco de que outras empresas desapareçam também é grande.

— Empresas como a Viação Acari não conseguem se manter em atividade por absoluta falta de caixa. O que temos é um grande problema estrutural sistêmico que tende a levar outras empresas à mesma situação. É hora de dar vida ao debate amplo, envolvendo sociedade civil, Ministério Público, Judiciário e integrantes específicos dos poderes Executivo e Legislativo municipais – disse o porta-voz do Rio Ônibus, Paulo Valente.





Fonte: G1