“Propaganda é a alma do negócio, né…”. A frase, apesar de clichê, cabe perfeitamente na boca do carioca Samuel Barbosa, de 28 anos, que a usou ao contar como conseguiu, em meio à pandemia do coronavírus e na contramão da crise econômica provocada pela doença, prosperar. Em Madureira, na Zona Norte do Rio, ele atende como Rei do Suco ou Rei das Laranjas, é dono de nove pontos de venda da bebida e está bombando na região com o funk que virou trilha sonora das suas barraquinhas.
Samuel começou a vender suco em 2019, com ajuda da irmã, Ana Beatriz Barbosa, de 27 anos, e do pai deles, Maurício Soares, de 51. Em pouco mais de um ano, a única barraquinha multiplicou. Hoje, a família que vive no Morro da Primavera, em Cavalcanti, administra o negócio no bairro vizinho e se divide entre os nove endereços, em que vende o produto a partir de R$ 1. Para embalar o sucesso do empreendimento, Samuel bolou um funk que, entre os versos, garante que “suco de laranja é melhor que cloroquina”.
A base do batidão é a famosa “Verdinha”, hit de Ludmilla cujo clipe já acumula mais de 82 milhões de visualizações no YouTube. A ideia de criar uma trilha sonora para o negócio partiu do próprio Samuel, que contou com a ajuda de um amigo para produzir. A primeira versão composta era mais simples, dizia, por exemplo, que “suco de laranja é vitamina C, mais vitalidade e energia pra você” e, claro, entoava o preço baratinho da bebida. Mas, com o tempo, o atual momento que todo o mundo vive, em meio à Covid-19, inspirou uma nova letra.
— Com toda essa questão da pandemia, voltei a falar com esse meu amigo. Sugeri de a gente brincar com algo sobre a Covid e falar da cloroquina — lembra Samuel.
Deu certo. Em Madureira, a música não passa despercebida pela multidão e ajuda a atrair a clientela.
— Toda vez que eu venho em Madureira, aproveito e passo aqui. É ótimo (o suco), e a música é bem legal — diz Daniele dos Santos, de 38 anos, moradora de Costa Barros.
Diariamente, são pelo menos 34 sacas de laranja, cada uma com 12 dúzias da fruta, para abastecer as barracas. Cada uma consome por dia uma média de sete sacas, mas, quando o calor aumenta, a produção precisa ser maior. No último dia 2, quando o Rio chegou à maior temperatura do ano — a estação de Irajá registrou 43,6 graus e sensação térmica de 49,4 graus —, foram 1,4 mil laranjas em apenas um dos pontos de venda da família.
— Sempre quis crescer, mas meu sonho mesmo é sair da rua. Abrir uma loja do Rei da Laranja para vender outras coisas além do suco. Salgados, comida e até bolo — projeta Samuel.
Antes de vender suco de laranja na rua, Samuel trabalhava como auxiliar de cozinha, mas, em 2012, sofreu um grave acidente de moto que o afastou do trabalho. Desde então, já foram 15 cirurgias para reparar as sequelas, ainda visíveis em sua perna esquerda. Sem emprego formal, ele resolveu abrir sua primeira barraquinha, na Estrada do Portela.
— Quando comecei, era só um balcão, sem condição alguma de fazer um maior investimento, mas precisava levar comida para casa — conta Samuel.
Com o tempo e o sucesso do negócio, as barracas foram sendo modernizadas, ganharam lona, armário e balcão de apoio para os clientes. Hoje, além das nove barraquinhas em Madureira, ao longo da Estrada do Portela e nas imediações do Mercadão, a família montou recentemente outras duas na Pavuna e planeja expandir o negócio para Cascadura, Bangu e Seropédica no mês que vem.
Confira a letra do batidão:
“Rei do Suco, eleito o melhor suco de laranja de Madureira/ Vem, Madureira/ Vem cá, na moral/ To vendendo suco de laranja a um real/ O coronavírus não vai matar você/ Bebe suco de laranja que é vitamina C/ Vem cá, menino/ Vem cá, menina/ Suco de laranja é melhor que cloroquina/ Aqui, Rei do Suco, o melhor suco de laranja de Madureira/ Bebe um copinho/ Bebe um copão/ Tem o suco de laranja geladinho da promoção/ Vem, meu senhor/ Vem, minha senhora/ Suco de laranja aqui é feito na hora/ Aqui, o suco de laranja é feito na hora/ Na sua frente/ Higiene total/ Estamos com máscara, luva, toda a higiene possível para atender você/ Aqui no Rei do Suco o suco é de laranja pura/ Não misturamos água/ É suco puro/ Temos copo de 1 real, 2, 3, 4 e o copão de 5 reais”
Fonte: G1