‘Tive medo de não sobreviver à pandemia e ninguém ler minha história’


A pandemia chegou como um turbilhão. Com o isolamento social imposto pela Covid-19, toda a população precisou aprender a lidar com um misto de sentimentos e emoções que, em boa parte desconhecidos, trouxeram medo e insegurança. Mas para a professora Alessandra Firmo da Silva, esse momento serviu como motivação para a realização de um sonho. Professora há 20 anos da rede municipal de educação, ela resolveu arriscar e agora lançará o seu primeiro livro na Bienal do Rio, que acontece de 3 a 12 de dezembro, no Riocentro, Zona Oeste.

— A Covid-19 me fez repensar, o que aconteceu mexeu com a gente. Fiquei com medo de não sobreviver à pandemia e ninguém ler minhas histórias, de ficarem por aí, esquecidas. Peguei a história mais próxima do sentimento de medo, que era o que estávamos sentindo, e mandei para algumas editoras. Um tempo depois, me retornaram com um sim.

A cada dois anos, a Bienal do Livro Rio recebe centenas escritores que esperam ansiosamente o momento de celebrar suas histórias ao lado do público. Segundo Alessandra, o medo de encarar o novo, o que é novidade e gera insegurança, é o sentimento que aflige o protagonista de “Príncipe da Água” (Editora Litteris), história infanto-juvenil.

Mas, sem soltar spoilers, a escritora garante que tudo termina bem.

— O personagem central é um príncipe sozinho, inacessível, que vive só em seu castelo, mas precisa fazer uma transição. Ele descobre que tem de sair do castelo, do mundo que tem só pra ele. Ele não quer ir, tem medo do novo, da novidade. Mas conta com a ajuda da amiga, que consegue acessar o seu mundo e ajudá-lo. Mostra para ele que lá fora pode ser legal também e o ajuda na travessia. Mas o final é surpresa.

Publicação do livro nasceu em meio a um ato de coragem na pandemia
Publicação do livro nasceu em meio a um ato de coragem na pandemia Foto: Divulgação

Alessandra leciona para alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, na Escola Municipal Professora Maria Luiza Lima Silva, em Cosmos, Zona Oeste do Rio. Seus alunos tornaram-se os primeiros a conhecer a história. E, segundo a professora, os retornos têm sido os melhores.

— Eles tiveram acesso privilegiado, recebi uma cota da editora, mostrei para eles e fiz até sorteio — diz ela, frequentadora assídua da Bienal.

O interesse pela leitura vem da infância. Já adulta, adquiriu o hábito de anotar num bloquinho cada vez que surgisse uma ideia com potencial para se tornar um livro. Graduada em Letras, a autora é especialista em literatura infanto-juvenil e tem as autoras Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Roseana Murray como inspirações. Cita ainda Bartolomeu Campos de Queirós, Machado de Assis e Jane Austen entre os preferidos. Como professora, já venceu por três vezes o concurso “Leia Comigo”, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

— Sonhar não custa nada, mas agora o sonho virou realidade e eu estou apaixonada. Estou ansiosa, não sei como será a minha reação, era uma coisa que estava na minha cabeça e no meu coração, e agora virou realidade — vibra a autora, que já escolheu um lugar especial para guardar o próprio livro. — Virei autora da minha biblioteca.

Consagrada como o maior festival de cultura e literatura do Brasil, a Bienal Internacional do Livro Rio integra o calendário oficial da cidade e chega à 20ª edição propondo uma reflexão sobre quem éramos, quem somos e o que seremos daqui para frente. Desta vez, com todo o cuidado necessário pelo atual momento em meio à pandemia, o festival será online e offline. Com a missão de incentivar o hábito da leitura, a Bienal traz a provocação: “Que histórias a gente precisa contar agora?”.

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Fonte: G1