Skatistas de gerações mais antigas posam na primeira pista da América Latina, em Nova Iguaçu, e celebram avanço do esporte


Quem tem vibrado ao ver os skatistas brasileiros na Olímpiada de Tóquio pode não saber, mas fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a primeira pista para a prática do esporte da América Latina. Ela foi construída em 1976, na Praça Ricardo Xavier da Silveira, no Centro da cidade, como bem lembrou o colunista da ExtraVIP Alberto Aquino na semana passada. Presente na inauguração, Luiz Carlos Mansur, conhecido como Hotio, celebra os avanços do país sobre as quatro rodas.

— Nós tínhamos como referência de pista na época os Estados Unidos, e trazer isso para o Brasil foi um grande ganho para a América Latina inteira, foi muito realizador. Agora ver o skate na Olimpíada é muito gratificante, era um sonho. E o Brasil é uma potência — diz o veterano.

Este é o primeiro ano do skate nos Jogos Olímpicos. Na categoria street, Kelvin Hoefler e Rayssa Leal, a Fadinha, ficaram com as medalhas de prata no masculino e no feminino. Mas ainda falta acontecer a categoria park, a partir de amanhã, em que o Brasil será representado por Dora Varella, Isadora Pacheco, Yndiara Asp, Luiz Francisco, Pedro Barros e Pedro Quintas. Frequentador assíduo da pista de Nova Iguaçu desde a década de 1980, Ricardo Gonçalves, de 53 anos, vê com otimismo o cenário do esporte atualmente.

— Nosso sonho era esse, ver o skate na Olimpíada, porque ele sempre foi muito marginalizado, diziam que era coisa de drogado, e chegar a esse patamar é uma glória. O skate é um esporte maravilhoso! O skatista é um artista e tem todos os méritos de qualquer outro esportista para participar de uma Olimpíada. Eu quero morrer praticando, andar de skate até não aguentar mais — afirma.

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Jovens skatistas fazem manobras na primeira pista de skate da América Latina, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense
Jovens skatistas fazem manobras na primeira pista de skate da América Latina, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense Foto: Domingos Peixoto

Ídolo do skate mundial, o brasileiro Bob Burnquist não só visitou como “dropou” na pista de Nova Iguaçu em 2004. Atualmente, ela está cheia de rachaduras e buracos. A reforma do local é uma luta antiga dos praticantes, que chegaram a improvisar por conta própria uma espécie de circuito street, com material doado de eventos do esporte. A última vez em que a pista viu uma obra foi em 2015. A Prefeitura de Nova Iguaçu afirmou à reportagem que o projeto de reforma está em fase final de elaboração e que, em seguida, haverá licitação das obras.

Hotio lembra que, nos anos 70, os skates eram improvisados com rodas de patins, e o material às vezes precisava ser importado:

— Para ter um skate naquela época tinha que juntar dinheiro durante meses. Hoje você passa no cartão, parcela e já tem o skate. Ainda não é barato, mas já é mais acessível, porque antes tinha que ser importado, tinha que esperar. O skate nacional tem uma qualidade tão boa quanto o americano.

Para ele, ser skatista nos anos 70 era um pouco mais romântico e menos radical, nas definições dele.

— Era quase um balé em cima do skate. Hoje as manobras são muito mais radicais do que na nossa época. A aventura era descer ladeira ou subir rampa de calçada — recorda Hotio, que compara: — Houve melhoras muito significativas. O skate tem conotação profissional, diferentemente da nossa época, quando era só brincadeira. Hoje é esporte olímpico!

Jovens skatistas na primeira pista de skate da América Latina, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense
Jovens skatistas na primeira pista de skate da América Latina, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense Foto: Domingos Peixoto

Jovens skatistas na primeira pista de skate da América Latina, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense
Jovens skatistas na primeira pista de skate da América Latina, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense Foto: Domingos Peixoto

André e Ricardo com alunos do projeto do bairro Caonze, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense
André e Ricardo com alunos do projeto do bairro Caonze, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense Foto: Domingos Peixoto

Projeto incentiva prática no Caonze

De outra geração, o skatista André Viana, de 46 anos, luta para perpetuar a cultura do esporte na Baixada Fluminense. Ele tem um curso desde 2005, onde dá aulas para crianças e adultos sobre a modalidade. No espaço, funciona também um projeto social em que ele oferece aulas de skate gratuitas a crianças do bairro Caonze associadas a reforço escolar.

Envolvido com a cena do skate desde os anos 90, ele notou que as famílias têm participado e acompanhado mais as crianças que escolhem praticar o esporte nos últimos anos:

— Antes me perguntavam como era a família no skate, e eu respondia: “Não tem isso de família. A gente é sozinho, vai para campeonato sozinho, ninguém leva a gente para a pista”. Hoje isso é diferente. Os pais dos meus alunos são mais novos que eu e curtem levar as crianças para o skate. Hoje os pais acham maneiro, a família está presente.





Fonte: G1