Sítio Burle Marx se torna Patrimônio Mundial da Unesco


O Sítio Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, foi inscrito nesta terça-feira na lista do Patrimônio Mundial da Unesco, na categoria paisagem cultural. O Comitê do Patrimônio Mundial reconheceu o “valor excepcional universal” do sítio, por seu impacto no desenvolvimento do “jardim tropical moderno” por meio da combinação de ideias criativas do movimento modernista com tipologias locais e plantas tropicais. A escolha representa a consagração mundial da principal obra do paisagista brasileiro.

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O prefeito do Rio comemorou a inclusão do Rio na seleta lista:

— Hoje é um dia muito especial para o Rio. Temos o terceiro Patrimônio da Humanidade, foi aprovado na Unesco — disse Paes, durante o evento de lançamento da reforma do Clube Ginástico Português.

É o 23º elemento brasileiro incluído no patrimônio mundial, dentro de categoria especial chamada de “paisagem cultural”. O governo brasileiro celebrou o reconhecimento internacional desse legado cultural.

O processo começou em 2015, quando o Iphan sugeriu à Unesco a candidatura do Sítio Burle Marx. A indicação foi aceita, e a direção do sítio começou a realizar estudos e avaliações para enquadrar a candidatura nas especificidades da Unesco. O espaço recebeu duas missões do comitê: uma no início de 2018, quando especialistas analisaram as condições do sítio e indicaram as medidas necessárias; e outra em setembro de 2019, quando o andamento do trabalho foi avaliado.

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Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) investiu cerca de R$ 5,4 milhões em intervenções no local, com o objetivo de valorizar espaços de visitação, implementar acessibilidade, ampliar o acesso público e potencializar ações de pesquisa.

Todas as ações foram catalogadas em um dossiê de mais de 600 páginas, que foi remetido à Unesco no início do ano passado. O trabalho rendeu frutos: o relatório foi bem aceito pelos especialistas, o que é uma sinalização positiva para a inscrição do sítio na lista de Patrimônio Mundial.

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O sítio tem um acervo de mais de 3.500 espécies de plantas tropicais, além de centenas de peças de arte, com coleções de arte cusquenha, pré-colombiana, sacra e popular brasileira. Reúne também pinturas, esculturas, cerâmicas e tapetes feitos por Burle Marx.

O terreno possui 14 mil metros quadrados de viveiros de plantas, algumas delas descobertas pelo próprio paisagista, que morou no local de 1973 a 1985, quando o sítio foi doado ao Iphan. O local tem sete edificações e seis lagos.

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O sítio é o 23º representante brasileiro na lista da Unesco. Entre eles, estão a cidade histórica de Ouro Preto, em Minas Gerais; o centro histórico de Olinda, em Pernambuco; as Ruínas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul; e o centro histórico de Salvador, na Bahia.

Na origem, as fontes de água

Segundo o site da instituição, o Sítio Roberto Burle Marx no passado se chamava Fazenda ou Engenho da Bica, em razão das fontes de água existentes na parte mais alta do terreno, que eram canalizadas e serviam a população por uma bica perto da estrada. Com a construção da capela de Santo Antônio, a partir de 1681, passou a ser conhecido como Engenho Santo Antônio da Bica e depois por Sítio Santo Antônio da Bica.

O paisagista Roberto Burle Marx no sítio em 05/04/1988
O paisagista Roberto Burle Marx no sítio em 05/04/1988 Foto: Agência O Globo

Em 1949, Roberto e o irmão Guilherme Siegfried Burle Marx adquiriram o primeiro terreno do Sítio Roberto Burle Marx, após buscarem por muito tempo espaços que unissem boa diversidade de solos, com rochas expostas, água abundante, além de um entorno a salvo da especulação imobiliária. A vegetação nativa é formada por manguezal, restinga e Mata Atlântica do Parque Estadual da Pedra Branca.

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Em 1952 e 1960, os dois irmãos compraram terrenos vizinhos e fizeram intervenções para transformar o lugar no laboratório idealizado por Roberto, com infraestrutura, edificações, viveiros de plantas e áreas ajardinadas.

Em 1985, o sítio foi doado ao governo federal para assegurar a continuidade das pesquisas e o compartilhamento do espaço com a população. Com a morte do paisagista, em 1994, o sítio passou a ser gerido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele é tombado pelos órgãos do patrimônio cultural do estado do Rio de Janeiro (1988) e da União (2000).





Fonte: G1