Plot twist na história do Cine Roxy, em Copacabana. Fechado em junho do ano passado, uma das salas escuras de rua mais badaladas da cidade por décadas vai reabrir em 2023. Em cartaz, um espetáculo voltado aos turistas, como antecipou o jornalista Lauro Jardim. Com capacidade para 700 pessoas e um investimento de R$ 20 milhões, o lugar será nos moldes de ícones estrangeiros como o Moulin Rouge, em Paris, e a Le Extravagance, em Buenos Aires, só que repleta de brasilidade. Com direção de Abel Gomes e projeto de arquitetura de Sérgio Dias, o espaço ainda sem nome terá espetáculos diários exaltando às cinco regiões do Brasil.
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— Vamos fazer um espetáculo com muito sabor, alegria, cultura e conhecimento vasto do Brasil. Será o espetáculo do abraço. As pessoas vão se sentir abraçadas, sejam estrangeiros, estrangeiros de Minas ou do próprio Rio de Janeiro. O carioca também será turista ali — adianta o cenógrafo Abel Gomes, que ficará à frente da concepção do show. — Não será um show pelo show. Será uma experiência única. O Roxy é um lugar de tantas histórias e localizado num bairro incrível.
O projeto é um empreendimento de dois grandes nomes do entretenimento da cidade: Alexandre Accioly, também responsável pela volta do Noites Cariocas e pelo Qualistage (ex-Metropolitan), e Dody Sirena, empresário de Roberto Carlos e o nome forte do hub DC Set Group. Foi seis meses de negociação.
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— O turista que chega ao Rio de Janeiro só tem uma programação, que são as nossas belezas naturais. Não tem uma atividade noturna, um programa para a família — diz o empresário Alexandre Accioly. — O Rio tinha várias casas de espetáculo para turistas. De repente, com a invasão imobiliária, elas foram desaparecendo, deixando o turista sem nenhum espaço.
No ano passado, o Roxy entrou para o Cadastro dos Negócios Tradicionais e Notáveis para garantir que o imóvel continuasse sendo ocupado por um bem de relevância cultural para a cidade, o que continuará acontecendo. O Instituto Rio Patrimônio da Humanidade informa que “já recebeu consulta prévia sobre a viabilidade de se aproveitar o espaço do Roxy como casa de espetáculos e deu as primeiras orientações sobre o caminho a ser trilhado. O projeto, que ainda não foi apresentado, terá que ser analisado e aprovado pelo órgão de patrimônio e pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural”. O tombamento do imóvel preserva a arquitetura original do lugar, como os pilares da entrada, o letreiro externo sobre a entrada, a galeria e o jirau da entrada, e a cúpula de concreto das salas de projeção.
Para o setor de turismo, um lugar como esse aumenta a permanência de dias dos visitantes na cidade.
— É muito importante ter um produto como esse disponível com cara de Broadway, sem ter aquela imagem mais retrógrada de produtos ultrapassados que exaltavam futebol, samba e mulher sem roupa — comemora Roberta Werner, diretora-executiva do Rio Convention & Visitors Bureau. — Compõe o roteiro turístico e ajuda a aumentar a permanência do turista na cidade. A gente precisava de um carnaval que fosse em tempo integral.
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Para ela, não existe vitrine melhor do que ter um endereço fixo para o turismo.
— O turista sai com uma experiência diferenciada, uma imersão na nossa cultura de uma riqueza muito grande. O próprio turista passa a ser um embaixador da nossa marca.
— É uma ótima notícia. O Roxy marcou nossa juventude reabrindo num ponto importantíssimo da Zona Sul. O Rio de Janeiro é cultura, lazer, divertimento. É mais uma opção para o carioca e para o turista — completa Alfredo Lopes presidente do Hotéis Rio, sindicato dos meios de hospedagem do município.
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No palco, mais de 100 artistas, entre bailarinos, cantores, músicos. O espetáculo começa com samba, passeia pelo país e termina no carnaval carioca. No estilo dinner show, a programação começa às 19h com um jantar, às 21h tem início a apresentação que terminará às 22h30.
— É um espetáculo 4D. O palco é uma parede de LED, de 10 metros por 60 metros, oval, que vai levar o turista para lugares icônicos do Brasil, como o Elevador Lacerda e os rios da Amazônia — revela Accioly, garantindo que o lugar não vai perder a essência do entretenimento. — Será como um filme, com um elenco grandioso, com música e figurinos riquíssimos.
Abel guarda alguns segredos sobre o espetáculo, deixa escapar apenas que cada um que for até lá terá uma participação importante para o resultado. Ele diz, ainda, que usará a mesma estratégia do trabalho que fez para as cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas: ouvir pessoas.
— Vamos montar um mocap (motion capture) em tamanho natural num galpão para descobrir muitas coisas juntos. Do mesmo jeito que fizemos na abertura das Olimpíadas, queremos saber o que a sociedade gostaria de ver nesse espetáculo. Isso foi muito bom para a percepção do nosso país. Espero que consiga a mesma coisa no Roxy — diz Abel, entregando que, apesar de o show ser um só, nenhum dia será igual ao outro. — De alguma forma, as pessoas vão estar inseridas no espetáculo, e isso vai fazer toda a diferença. Vamos apresentar algo que a pessoa tenha vontade de voltar várias vezes. Cada dia vai ter uma pitadinha diferente.
Sobre as críticas dos moradores sobre o impacto no trânsito e os lamentos do encerramento de um dos cinemas de rua mais tradicionais da cidade, Accioly comenta.
— O cinema hoje no Brasil e em várias partes do mundo está migrando para os shoppings, e estamos vivendo na era do streaming. Também frequentei o Roxy a minha vida inteira, mas os projetos têm que ser sustentáveis. Não estou fazendo uma boate ali, mas uma casa que enriquece a nossa cultura — defende Accioly. — Infelizmente as pessoas criticam. Essa resistência ao novo é muito ruim. Só questiona quem está muito próximo, mas vai a uma casa de shows que fica na porta da casa de outras pessoas. Não somos aventureiros, nem irresponsáveis.
Presidente da Associação de Moradores de Copacabana e vizinho do Roxy, Horácio Magalhães recebeu a notícia com um misto de alegria e de tristeza.
— O Roxy é um dos ícones culturais do bairro. Criei uma expectativa de que o cinema abriria. Não vai reabrir como cinema propriamente dito, mas ainda será na área cultural. Minha preocupação é de que virasse um supermercado ou algo assim — pondera Horácio, acreditando que não haverá um impacto negativo para o bairro. — Moro em frente ao Roxy. Incômodo maior trazem os supermercados que ficam ali. Pode ser até que haja algum impacto pontual, mas isso o Roxy também trazia em grandes lançamentos ou em aberturas de festivais.
Fonte: Portal G1