Sem blocos de carnaval e com festas proibidas, Zona Sul do Rio tem noite de aglomeração em bares e ruas


No primeiro dia do decreto que visa a limitar a circulação de pessoas no Rio durante o feriado de carnaval, o que se viu no Leblon, Zona Sul do Rio, foi a aglomeração nas ruas e em frente a bares do bairro. Por volta das 23h, os pedetres na Rua Dias Ferreira eram tantos que não havia espaço para a passagem dos carros. As aglomerações foram vistas em pontos como o fim da rua, na esquina com a Avenida Ataulfo de Paiva, em frente ao bar Jobi e próximo ao Garoa Bar Lounge. Alguns estabelecimentos ignoravam as determinações de espaçamento entre mesas e uso obrigatório de máscara.

O bairro é um dos focos da operação montada pela prefeitura para coibir reuniões ilegais e clandestinas no carnaval, assim como os demais bairros da Zona Sul e a Lapa, como informou a Secretaria de Ordem Pública (Seop) ao EXTRA. Contudo, ao longo da passagem da equipe — que durou cerca de 30 minutos — só uma patrulha da Guarda Municipal foi vista no Leblon. Ela estava parada no início da Rua Dias Ferreira.

Aglomeração na esquina da Rua Dias Ferreira com a Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon
Aglomeração na esquina da Rua Dias Ferreira com a Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon Foto: Reprodução de vídeo

Em frente ao Bar Jobi, foliões maquiados usando adereços conversavam em pé, sem respeitar o distanciamento social.

— Venho aqui toda semana e está cada vez mais cheio. Com a chegada do carnaval, a rua parece lotada de estrangeiros. Eu só venho aqui para consumir dentro do bar, respeitando o isolamento social. Mas há pontos que já viraram “covideiros”, como o fim da rua, no cruzamento com a Ataulfo — diz um morador local, que não quis se identificar.

As aglomerações se estendiam para dentro dos limites do bar, demarcados por um cercado.

— É difícil controlar aqui. As pessoas compram bebidas no camelô e vêm beber aqui na frente. Depois, a Guarda Municipal chega e multa pela ausência do distanciamento social. Já teve uma equipe que passou aqui hoje. Já tomamos multa hoje — diz Manoel Rocha, dono do estabelecimento.

Segundo o comerciante, as grades foram uma alternativa para garantir o respeito à norma que limita a lotação permitida para bares e restaurantes a dois terços da capacidade máxima do estabelecimento. No entanto, no local, clientes se aglomeravam e conversavam sem máscara.

— É impossível proibir que as pessoas se aproximem quando estão aqui. Se aproximam para falar, para tirar fotos. A vida está difícil para o comerciante — afirma Manoel.

Segundo a Prefeitura do Rio, um plano para coibir aglomerações durante o período de carnaval começou nesta sexta-feira, depois que denúncias sobre blocos e festas clandestinos organizados pela internet se multiplicaram.

De acordo com a Seop, o primeiro dia de operação teve como foco a Zona Sul e o Centro, principalmente a Lapa. O comboio teria chegado à região às 20h.

A equipe do EXTRA passou pela área entre as 22h30 e as 23h40. Durante o período, seis patrulhas da Seop foram vistas, das quais quatro se encontravam em locais de grande movimentação. Nenhuma, porém, foi vista coibindo as aglomerações.

‘Não queremos aglomeração aqui’

Na Zona Sul, aglomerações também foram vistas na Pedra do Leme. Por volta da meia-noite, os quiosques próximos à estátua da Clarice Lispector, lotados, respeitavam as determinações de espaçamento entre mesas — embora a maior parte dos clientes estivesse sem máscara. Em frente aos estabelecimentos, porém, a imagem era outra. Em pé ou sentadas, pessoas conversavam em grupo, ao redor de coolers e caixas de som.

— Não temos poder sobre a aglomeração que fica na mureta — diz Edinaldo Lima, dono do quiosque Sabores da Orla. — Já ligamos para a prefeitura para resolver isso, e nada.

O comerciante afirma que patrulhas da Guarda Municipal comparecem à Pedra do Leme diariamente, mas nada fazem sobre o agrupamento de pessoas que costuma se formar durante a madrugada em frente aos quiosques. À 00h30 deste sábado, dia 13, os agentes ainda não haviam passado pelo local, disse ele.

— Isso compromete a imagem dos quiosques. Não queremos aglomeração aqui. De longe, parece que estamos gostando disso, mas não estamos. E a situação vai piorar bastante com o carnaval. O movimento aumentou bastante nos últimos dias.

Acompanhado de dois parentes, um frequentador disse não se arrepender do passeio. Apesar disso, ele pediu à equipe para não se identificar, pois sabia que estava “fazendo a coisa errada”.

— Vim do Catumbi só para curtir a mureta hoje. Não cheguei a ver nenhuma movimentação de bloco ou festa, mas vi gente fantasiada e maquiada, no espírito do carnaval. Parece que não vai ter nada no feriado pela Zona Sul. Mas, se houver algum evento clandestino, talvez eu venha. Já pegamos Covid-19, estamos todos “vacinados” — afirmou o homem.





Fonte: G1