segunda fase começa no Rio, e imunizados celebram com emoção, alegria, festa e esperança


RIO — A psicóloga Magdala Silva, de 60 anos, sonhava com a data de hoje, que marca o início da segunda fase da vacinação contra o coronavírus no estado do Rio, havia um ano. Nesta quarta-feira, a profissional da saúde foi a primeira pessoa a chegar no Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, em Copacabana, Zona Sul do Rio, às 6h, para ser vacinada contra a Covid-19. Quase duas horas depois, a espera acabou: ela foi imunizada. Até a quarta-feira da semana que vem, todas as Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde da capital estarão realizando a segunda fase da campanha de vacinação. No total, são 236 unidades de saúde de portas abertas para receber cerca de 66 mil profissionais de saúde com mais de 60 anos aptos a receberem a dose de Oxford/AstraZeneca.

Nesta fase serão imunizados, com a devida comprovação, as seguintes categorias: médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, odontólogos, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, profissionais de educação física, médicos veterinários e os respectivos técnicos e auxiliares, além de trabalhadores que realizam exames da doença e do sistema funerário que tenham contato com cadáveres contaminados.

— Que Deus ilumine os cientistas, que permitiram esse momento, essa conquista superimportante. Estou agradecida a Deus e também a vocês, profissionais da saúde que estão todo dia nessa luta — disse a psicóloga, que trabalha em um curso que capacita cuidadores de idosos em Austin, Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.

Em quarentena desde o início da pandemia, em março do ano passado, Magdala não se encontra com os filhos e as netas desde então. A saudade, segundo ela, aperta a cada ligação feita.

Cada vacinado não escondia a alegria por receber a dose contra o coronavírus. A saída da sala era acompanhada por um sorriso largo no rosto.

— Satisfação máxima por ser vacinado. Agora, é esperar a segunda dose para eu voltar a trabalhar. Tive que me afastar do que eu amo fazer, que é cuidar das pessoas — disse o médico Alexandre Mello, de 65 anos.

Aos 42 anos, a técnica de enfermagem Sandra Nascimento, 42 anos, acredita que essa segunda fase da vacinação contra a Covid-19 é sinônimo de esperança. Ela, que foi vacinada na última quarta-feira, conta que ver a alegria dos imunizados é outro motivo para acreditar em dias melhores. Nesta quarta-feira, no CMS João Barros Barreto, ela foi a responsável por aplicar a primeira dose da vacina de Oxford/AstraZeneca na capital fluminense.

— Sensação de esperança. A gente também fica muito feliz quando vê todos esses idosos entrando sorrindo e saindo daqui ainda mais felizes. É um recomeço depois de tanta luta, que não para: as máscaras, o álcool em gel e o distanciamento devem continuar para todos — destaca a técnica.

Um dos vacinados em Copacabana foi o médico aposentado Meier Gurfinkel, de 99 anos, que completa o centenário em março. Ele chegou ao posto de saúde acompanhado da cuidadora Salomé Gomes, de 73.

— Ele estava ansioso por essa vacina. O filho dele é médico e fez questão que o pai viesse aqui. Então eu trouxe. Estamos felizes – declarou a cuidadora.

Já psicanalista Paula Kleve deu um grito de alívio e alegria ao ser vacinada: “Viva o SUS!”, disse a profissional da saúde tão logo a dose foi aplicada no braço esquerdo.

— Alegria por ser vacinada, e mais alegria ainda por ser pelo Sistema Único de SUS.

O médico Dino Garcia Abreu, de 78 anos, chegou por volta das 7h e saiu da unidade na Zona Sul às 8h30m, já vacinado contra a Covid-19.

— Receber a dose dá um conforto maior, me traz mais segurança. Sou grato por ter sido abençoado — agradeceu o médico, que saiu emocionado da sala de imunização.

Na Gávea, também na Zona Sul, a fila no CMS Pindaro de Carvalho Rodrigues era muito grande por volta das 10h30m. Quase 250 profissionais da saúde com mais de 60 anos aguardam para serem vacinados. Por lá, as primeiras pessoas chegaram no fim da madrugada. Há quem utilize um banquinho ou guarda-sol para suportar as mais de duas horas de espera.

— Para tomar a vacina está valendo tudo, eu posso ficar aqui até a chegada da segunda dose, sem problema nenhum. Nós ficaremos o tempo que for preciso, felizes da vida. Eu quero ir curtir Arraial d’Ajuda, lá na Bahia — brincou a fonoaudióloga Ana Frota, de 79 anos, acompanhada da dentista Marília Pequeno, de 61.

O psicólogo Henrique Rodrigues, de 65 anos, deixou o CMS às 10h30m, vacinado.

— Na realidade ainda falta muito, mas com certeza é uma sensação boa receber essa imunização. A esperança é a última que morre. Eu é que não posso morrer antes dela — diz, aos risos, o profissional. — Nós precisamos investir mais em políticas públicas que tragam saúde à população.

O casal Celso Carvalho, de 76 anos, e Eliane Arruda, de 74, trabalhou durante quase 15 anos no CMS na Gávea. Ela, fonoaudióloga da rede municipal, e ele, médico, chegaram a comandar campanhas de imunização na unidade. Nesta quarta-feira, os dois voltaram ao local para serem vacinados.

— Eles estavam ansiosos, entraram empolgados. Estão há mais de dez meses confinados em casa, quarentena total — comentou o ator e diretor Celso André, de 47, filho do casal.

‘Perdi um sobrinho de 13 anos’

O primeiro a se vacinar no Clínica da Família Estácio de Sá, no Rio Comprido, na Zona Norte do Rio, com a dose inicial da AstraZeneca foi o médico Alfredo Moutinho, de 69. Emocionado, ele não quis falar com a imprensa. A vacinação do profissional aconteceu pouco depois das 8h. A responsável pela imunização do profissional foi a enfermeira Veluma Caetano das Mercês, de 24 anos, formada durante a pandemia.

Alfredo Moutinho, vacinado no Rio Comprido contra Covid-19
Alfredo Moutinho, vacinado no Rio Comprido contra Covid-19 Foto: Fabiano Rocha/Agência Globo

— Me formei há sete meses e desde então estou trabalhando. Perdi muitos amigos no Hospital Federal de Bonsucesso e poder vacinar uma pessoa é uma satisfação. Esperamos cessar essa perda de pessoas da nossa família, profissionais e pacientes que acompanhamos . Esperamos voltar a rotina — disse a profissional.

O cardiologista aposentado Luiz Roberto Londres, de 80 anos, foi o segundo a ser imunizado no Rio Comprido.

Formado em 1965, o médico já trabalhou em hospitais como o Pedro Ernesto, o Miguel Couto e Hospital da Lagoa. Além das unidades públicas, durante 52 anos ele comandou a Clínica São Vicente, na Gávea. Hoje, o aposentado comemorou:

— Essa é uma doença que se propaga e, por isso, peço que os meus colegas se vacinem. Finalmente é o que a vacina representa. Estou feliz porque fui vacinado.

Joana Angélica Barbosa Ferreira, de 67 anos, que trabalha no setor Microbiologia da Fiocruz há 44 anos, disse que o momento da vacinação foi contagiante. A bióloga comemorou por ter sido a primeira mulher a ser vacinada pela AstraZeneca na clínica.

— Não dói nada. E se doesse é para ter saúde. Temos que nos vacinar. Estou muito feliz. Nem dormi essa noite. Hoje é dia de festa. Venham se vacinar — declarou.

Mãe de dois filhos e moradora do Rio Comprido, a profissional foi a primeira da família a ser imunizada. Há pouco menos de dois meses, Joana perdeu um sobrinho para a Covid-19. Eduardo Leal Keller tinha 13 anos e estudava no 7º ano do Colégio Pedro II, no Campus Humaitá, na Zona Sul do Rio, desde a educação infantil.

— Perdi um sobrinho de 13 anos. Ele vendia saúde há pouco mais de um mês. Por isso, temos que rezar para que toda a população seja vacinada o mais rápido possível.

Na Cidade de Deus, na Zona Oeste, a psiquiatra Yaquita Araújo de Toledo, de 60 anos, afirmou, após ser imunizada, nunca ter sido tão feliz por ser uma sexagenária.

— Foi uma grande emoção. Nunca foi tão feliz por ter 60 anos. Estou feliz também por outros profissionais e pacientes de tratamento psiquiatrico. terem sido vacinados. Feliz pela inclusão de pacientes de residências terapêuticas, que desta vez puderam ter o direito de serem os primeiros, ele tiveram acesso ao direito à vida — declarou ela.

Baixa procura

A procura pela vacina contra a Covid-19 não foi alta em algumas regiões da cidade do Rio. Em várias unidades de saúde, poucos imunizantes haviam sido aplicados até as 11h20m.

No Centro municipal de Saúde Hamilton Land, na Cidade de Deus, até as 11h, pouco menos de 15 pessoas haviam sido imunizadas. Por questões de segurança, a Secretaria municipal de Saúde (SMS) só liberou as doses para o local na manhã desta quarta-feira. A mesma coisa aconteceu em Costa Barros e na Ilha do Governador, onde os imunizantes só chegaram depois das 7h.

Já na Clínica da Família Erivaldo Fernandes Nóbrega, no Méier, também havia uma baixa procura pela vacina. Na Clínica da Família Amélia dos Santos Ferreira, no Encantando, as 10h50m, apenas dez profissionais da saúde haviam sido imunizados. Depois das 10h30m, pouco mais de 20 pessoas haviam recebido o imunizante. Entre elas, a técnica de enfermagem Rosa Maria, de 70 anos. Há mais de 30 anos na profissão, Rosa disse que é preciso combater as notícias falsas e pediu que a população colabore.

— Estou há muitos anos na saúde. Hoje é um dia histórico. Estou muito feliz e espero que toda a população seja vacinada. E espero também que as autoridades parem de propagar informações inverídicas — disse ela.





Fonte: G1