Saquarema, na Região dos Lagos, convive com fantasma da superlotação no único hospital da cidade


O fantasma da superlotação de leitos para Covid-19 ronda Saquarema. Quando o principal hospital da cidade, o Hospital municipal Nossa Senhora de Nazareth, em Bacaxá, atingiu pela primeira vez o percentual máximo de ocupação, há 20 dias, três pacientes precisaram ser transferidos às pressas para outros municípios: um para o Hospital estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, outro para o Hospital municipal Ernesto Che Guevara, em Maricá, e o terceiro para um hospital particular do Rio.

A pouca oferta de leitos — são apenas seis vagas de UTI — faz com que o percentual de ocupação do hospital tenha grandes oscilações a cada dia. Na última sexta-feira, a cidade mantinha-se com 100% de ocupação. Na segunda-feira, quando dois pacientes tiveram alta, o número caiu para 67% e, ontem, com a liberação de mais um paciente, foi a 50%.

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O tempo de transferência depende do sistema de regulação do estado. Por enquanto, a única vez em que foi preciso levar pacientes para outra cidade foi na sexta-feira de carnaval, serviço realizado em menos de 48 horas, segundo o hospital.

Apesar de o quadro parecer sob controle em uma análise fria dos números, profissionais de saúde que trabalham na unidade convivem com o constante temor de que a capacidade dos leitos volte a se esgotar.

— Sempre tem esse temor. Quanto mais a doença for banalizada, mais será disseminada. A única forma de conter o avanço da Covid-19 é evitar aglomeração e fazer uso constante de máscara e álcool em gel. Quanto mais a população tiver consciência disso, menos novos casos teremos — afirma Claudia Sales, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).

Para tentar reduzir o risco do colapso, a prefeitura transformou o Posto de Urgência de Saquarema, antes dedicado apenas à atenção básica, em uma unidade de retaguarda para o hospital, com outros nove leitos enfermaria.

Além da superlotação dos leitos para Covid, há um medo de que o aumento da procura de pacientes com outras doenças leve a saúde do município ao colapso.

— Temos percebido que a procura por atendimento para outras doenças, que tinha caído 70% durante a pandemia, já voltou bastante. Ao mesmo tempo, vemos que as pessoas que têm suspeita de Covid, que antes chegavam no início dos sintomas, agora deixam para buscar o hospital com os sintomas mais avançados — conta Claudia.

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Foi o medo de precisar se internar que levou o dentista Ronaldo Figueiredo, de 66 anos, a buscar o hospital, ontem. Após sentir sintomas de resfriado, dores no corpo e febre baixa, ele queria fazer o teste para saber se tinha contraído o novo coronavírus.

— Tomei a primeira dose da vacina há 15 dias e sei que pode ser apenas uma pequena reação, mas não quis arriscar. Melhor prevenir do que remediar — explicou ele.

Como ainda estava no segundo dia de sintomas, ele foi orientado a se isolar em casa e observar o quadro até quinta-feira, quando deverá retornar para fazer o teste PCR.

A recepção do Hospital municipal Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema
A recepção do Hospital municipal Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema Foto: Antonio Scorza

O aposentado Haroldo Costa, de 90 anos, foi um dos que ficou internado na UTI do hospital. Ontem, por volta das 14h, ele deixou a unidade, após ficar internado por uma semana. O idoso teve infecção renal seguida de pneumonia, e foi internado com suspeita de Covid-19. No entanto, um exame descartou a doença.

— Foi um alívio — diz Vitor Ribeiro Costa, de 35 anos.

Apesar da situação delicada da rede de saúde do município, a prefeita de Saquarema, Manoela Peres, não decretou novas medidas restritivas para conter o avanço do novo coronavírus. Nas ruas, a população da cidade se divide. Enquanto alguns defendem o endurecimento de medidas, outros vão no sentido oposto.

Dono de um pequeno comércio que funciona a cerca de 50 metros da prefeitura, João Figueiredo não usava máscara, ontem, atrás do balcão e nem demonstrava preocupação com a Covid-19.

— Aqui nós não temos muitos casos, então a população está tranquila — diz.

Já a aposentada Nilza da Conceição, de 75, conta que evita até sair de casa para não se expor.

— Eu sou do grupo de risco e quero tomar o máximo de cuidado. Acho que as pessoas tinham que se cuidar mais também — diz.





Fonte: G1