RIO — “Se você cuspir no asfalto, a rua alaga”. Luiz Alberto Batista, de 53 anos, sintetiza, em uma frase, a experiência de morar há três décadas na Rua Paul Leroux, no bairro Paraíso, que integra o 4º distrito de São Gonçalo. Dono de uma gráfica próxima à sua casa, o empreendedor vive ao lado de um córrego que corta a rua em direção à Baía de Guanabara. Em sua porção descoberta, o riacho nada mais é do que esgoto a céu aberto, com forte odor produzido pelo acúmulo de material orgânico ali despejado, misturado a resíduos de lixo doméstico, além de garrafas PET, panos e pneus. Toda essa sujeira se multiplica a menos de dez metros de uma das 11 elevatórias de esgoto da Cedae do município.
— Os canos da rua não dragam o esgoto, que se acumula no valão. Quando cai a chuva, o rio enche e invade as casas. Tive que subir o nível da minha casa para mais de um metro, pois já perdi meus móveis — conta.
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Água de vez em quando
Do terraço que Luiz constrói no topo de seu sobrado, é possível ver que a poluição já se estende até o leito do córrego. A última limpeza do valão teria sido há seis anos.
O córrego atravessa as galerias subterrâneas rumo à Rua Maria Rita, paralela à Paul Leroux. Lá, bueiros e canos vertem litros de esgoto mal escoados. Na tarde de ontem, Marcelo Moura, de 41 anos, limpava a calçada em frene ao lava-jato em que trabalha.
— A conta da Cedae chega todo mês. A cobrança é certa, a água só cai três vezes por semana — diz ele.
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Segundo maior contingente populacional do estado, São Gonçalo sofre com a falta de saneamento básico e com a irregularidade do abastecimento d’água. No edital da privatização da Cedae, o município faz parte do lote 1, junto com a Zona Sul e cidades como Aperibé, Miracema e Cambuci. O projeto prevê R$ 1,86 bilhão de investimentos em infraestrutura em favelas e comunidades da região. Relatório do Comitê Baía de Guanabara do ano passado estima que a maior parte do esgoto do município (54,7%)atualmente não é coletada nem tratada. Além disso, cerca de 10,9% da população não têm acesso à água tratada em casa.
Valter Xavier, de 60 anos, tem um bar e uma mercearia na Paul Leroux. Ele só recebe água às terças, quintas e aos sábados, mas pagou R$ 291 pelo serviço no mês passado:
— É insuportável. O imóvel da gente é desvalorizado.
Vizinho, o comerciante William Pereira, de 55 anos, que tem uma padaria do outro lado da rua, diz que é difícil se acostumar com tanta precariedade.
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— Ainda é preciso armazenar a água — reclama. — Vai ver se na Zona Sul do Rio a água cai só três vezes por semana? Espero que esse leilão mude alguma coisa.
A Cedae diz que a Secretaria estadual do Ambiente e Sustentabilidade está implementando o Sistema de Esgotamento Sanitário de Alcântara.
Fonte: G1