Santuário de espécies na Zona Sul, Cagarras entra para lista seleta que inclui Abrolhos e Galápagos


Os 91 hectares onde pererequinhas-de-bromélia, tubarões-lixa e centenas de outras espécies se refugiam em plena Zona Sul do Rio fazem parte agora de uma lista seleta. O Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras (Mona Cagarras) e seu entorno — incluindo a orla do Leblon até a Praia Vermelha, além da Ilha de Cotunduba, na entrada da Baía de Guanabara — ganharam este mês o título de Hope Spot (Ponto de Esperança), assim como Galápagos (Equador), a Grande Barreira de Corais (Austrália) e o Banco dos Abrolhos, até então o único aqui do Brasil.

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Os Pontos de Esperança são ambientes reconhecidos por sua diversidade, sua importância e o risco em que se encontram e que, por isso, merecem atenção do poder público e da sociedade para que se mantenham conservados. O reconhecimento da Mona Cagarras, como Ancelmo Gois antecipou em sua coluna no mês passado, foi oficialmente feito no último dia 16 pela Mission Blue, uma aliança internacional para conservação marinha liderada pela bióloga e exploradora americana Sylvia Earle, que fez uma visita ao arquipélago em fevereiro.

Raridade marinha. O tubarão-lixa que foi fotografado perto da Ilha Redonda.
Raridade marinha. O tubarão-lixa que foi fotografado perto da Ilha Redonda. Foto: Julio Iunes / Divulgação

O projeto Ilhas do Rio, do Instituto Mar Adentro, foi o responsável por enviar a inscrição das ilhas — que ficam a apenas cinco quilômetros da Praia de Ipanema — à comissão científica da organização internacional.

— Muita gente pensa em lugares mais paradisíacos, mas o arquipélago é muito especial porque está no meio de uma megalópole e tem uma diversidade de espécies ameaçadas de extinção muito grande, como a pererequinha-de-bromélia, que tem de três a cinco centímetros e foi descoberta lá em 2012. Já o tubarão-lixa, também visto lá, foi tido como extinto no município do Rio — diz a bióloga marinha Aline Aguiar, responsável pelo projeto.

De acordo com a lei federal de 2010 que criou o Mona Cagarras, o arquipélago é formado pelas ilhas Cagarras, das Palmas, Comprida e Redonda, e pelas ilhotas Filhote da Cagarra e Filhote da Redonda. Apesar da importância de ser um “hope spot”, o título sozinho não garante a preservação do lugar. Por isso, a unidade de conservação federal ganhou no ano passado um plano de manejo com regras de visitação. Embarcações grandes de pesca e iates, por exemplo, são proibidos de entrar no “anel” das ilhas de frente para a Praia de Ipanema. Lanchas menores só podem ancorar a 30 metros do costão.

— A chamada “megafauna carismática” também é muito fácil de se encontrar nas Cagarras, como a tartaruga-verde que se alimenta nos costões rochosos, e as diferentes espécies de baleias e golfinhos que passam por ali. É o caminho das jubartes, por exemplo, para Abrolhos, em junho e julho — explica a pesquisadora.

Aline Aguiar diz que, por ser tão perto da costa, o local tem grande potencial turístico, mas sofre com a poluição causada pelo despejo de lixo plástico e pela proximidade com o emissário submarino:

— É importante pressionar os nossos governantes pela preservação do lugar.





Fonte: G1