Rio terá repescagem de vacina por idade, comorbidades e para profissionais da educação nesta semana; confira


Todas as gestantes e puérperas serão vacinadas contra Covid-19 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — Anunciado na última sexta-feira, o novo calendário de vacinação contra a Covid-19 na cidade do Rio não possui previsão estabelecida para repescagem da primeira dose de quem não puder vacinar nos dias estabelecidos de sua idade ou para grupos de outras fases do PNI. Apesar de não ter dias fixos, segundo a prefeitura, nesta semana haverá repescagem na quarta-feira (23) e sábado (26).

Na quarta-feira poderão se vacinar aquelas pessoas com 49 anos ou mais, além de profissionais da educação. Já no sábado, será o dia para maiores de 48 anos ou pessoas com comorbidades que perderam o dia da vacinação.

Segundo a secretaria municipal de Saúde, “outras datas de repescagem para grupos prioritários serão divulgadas oportunamente”. As datas de repescagem valem somente para pessoas que irão tomar a primeira dose da vacina contra o coronavírus. Para quem já foi imunizado mas perdeu a data para a segunda dose, a recomendação é procurar um posto de imunização para completar a imunização, de preferência no local onde recebeu a primeira dose.

De acordo com o novo calendário, esta semana está prevista a vacinação de pessoas com 48 e 49 anos. Gestantes e puérperas, mesmo sem comorbidades, podem se vacinar contra a Covid-19 ao longo da semana. Este grupo recebe apenas imunizantes Pfizer ou CoronaVac por determinação do Ministério da Saúde.

De acordo com o calendário estaudal unificado de vacinação, as lactantes de 12 meses já podem ser imunizadas. Porém, cada prefeitura tem a autonomia de decidir se inclui este grupo entre as prioridades. Segundo a secretaria municipal de Saúde do Rio, lactantes moradores da capital precisam esperar o calendário de acordo com sua idade.

Paquetá anuncia vacinação contra Covid-19 para adolescentes entre 12 e 17 anos que residem na ilha

A próxima fase do projeto “PaqueTá Vacinada”, que pretende imunizar contra a Covid-19 todos os moradores da ilha, na Baía de Guanabara, está prevista para o dia 18 de julho, quando será a vez de todos os adolescentes de 12 a 17 anos receberem a primeira dose da vacina da Pfizer para protegê-los do coronavírus. A informação foi adiantada ao GLOBO pela Secretaria municipal de Saúde neste domingo, dia 20, enquanto foi cumprida a vacinação em massa em Paquetá, totalizando 96,3% de sua população, como parte de um estudo para mensurar o impacto desta campanha de imunização.

Só neste domingo, um mutirão vacinou 91,1% dos moradores com a primeira dose da Oxford/Astrazeneca contra a Covid-19. A iniciativa integra um experimento científico conduzido pelo Instituto Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que visa a analisar a vacinação em larga escala e, assim, antever o que será do Rio em agosto, quando, segundo os planos da prefeitura, toda a população carioca maior de 18 anos estará vacinada.

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A pesquisa também tem o propósito de verificar se a primeira dose do imunizante já garante um bom nível de proteção coletiva, ou se isso só acontece efetivamente após a injeção de reforço. Agora, a ideia é expandir o projeto para outros locais da cidade, como as comunidades de Maré e Manguinhos — que, ao contrário de Paquetá, não estão isoladas geograficamente do restante do Rio.

Em horários escalonados, todos os habitantes da ilha que ainda não tinham se vacinado — por volta de 1,6 mil pessoas — foram convidados a comparecer aos quatro postos de vacinação montados especialmente para o estudo. Às 9h15, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga desembarcou no Parque Darke de Mattos abraçado com o Zé Gotinha, que fez ontem uma de suas raras aparições durante a pandemia. A comitiva também contou com a presença do secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, da presidente da Fiocruz, Nisia Trindade, e da pneumologista Margareth Dalcomo. O prefeito Eduardo Paes não compareceu.

No evento, Queiroga ministrou a primeira dose em Conceição Campos, de 50 anos, diretora da Associação de Moradores de Paquetá (Morena).

— São dois sentimentos muito fortes. Um deles é de enorme alegria, de grande esperança, de participar de um estudo da Fiocruz sabendo que isso vai ajudar imensamente no combate à pandemia, vai mostrar um pouco que é a vacina que nos salva, que é a ciência que nos salva. E o outro sentimento, um pouco contraditório e muito desconfortável, é ser vacinada por um representante desse governo que a gente sabe que não fala pela vacina. Foi um sentimento dúbio. Estou feliz por me vacinar, mas gostaria de ter sido vacinada por alguém que realmente representasse o amor pela ciência e pela vacina — disse Conceição.

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Aldenise Ferreira, de 50 anos, foi a segunda pessoa a se vacinar no evento. Motorista de charrete elétrica, único transporte público disponível na ilha, Aldenilse é uma personalidade conhecida pelos paquetaenses, e por isso foi convidada a ser garota-propaganda do projeto.

— Sou pernambucana, mas moro em Paquetá há 33 anos. Assim que recebi a ligação do posto, fiquei muito, muito feliz. Não só por poder me vacinar, mas por saber que era tão querida. É uma felicidade enorme poder participar desse projeto agora, não só para mim, mas para todos os moradores de Paquetá — diz.

Ao fundo do púlpito montado para o evento, a associação ergueu uma faixa que dizia “Viva o SUS e a Fiocruz”. Segundo Conceição de Campos, a mensagem exprime o sentimento dos moradores da ilha, que contribuíram em peso para a pesquisa. De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, a adesão dos paquetaenses à coleta de sangue chegou a 70% da população total, quando a expectativa inicial da prefeitura era de que 20 a 30% participariam.

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— Existe um grande sentimento de fraternidade e solidariedade entre os moradores. Estamos sempre em contato direto com a Fiocruz, e aguardamos para contribuir com as próximas etapas do projeto — diz ela.

Em seu discurso, o ministro Queiroga enalteceu a função do Sistema Único de Saúde (SUS) e salientou que a vacina significa uma “esperança de pôr fim à pandemia”, marcando uma mudança radical na postura do governo federal na condução da pandemia. Após sua fala, houve gritos de “Fora, Bolsonaro!” e “Fica, Bolsonaro!”.

— Como ministro da Saúde, lidero o Sistema Único de Saúde, que é patrimônio de cada um dos 220 milhões de brasileiros. A saúde é um direito fundamental, e a nossa Constituição assegura, como todos sabem, que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas — afirmou. — O Programa Nacional de Imunização brasileiro é um dos mais respeitados do mundo. Nas mais de 38 mil salas de vacinação do país, conseguimos vacinar até 2,4 milhões de brasileiros todos os dias.

O ministro também se pronunciou sobre a marca de 500 mil vidas perdidas para a Covid-19, que o Brasil alcançou no sábado.

— Já me manifestei ontem (sábado) nas minhas redes sociais, nós lamentamos profundamente todas as vidas perdidas para a Covid-19, não só aqueles que morreram mas também aqueles que ainda padecem dessa doença. É uma emergência de saúde pública internacional, não é um problema exclusivo do Brasil. E para enfrentá-lo, a principal ferramenta é o SUS e o princípio tripartite da gestão do SUS. E a sua eficiência é a certeza de que nós haveremos de vencer o nosso único inimigo, que é o vírus — disse.

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— Tenho orgulho de dizer que uma das nossas principais iniciativas foi o acordo de transferência de tecnologia da indústria Astrazeneca para a Fiocruz, que é um patrimônio de cada um dos brasileiros. Uma instituição pública que merece de nós todo respeito, a credibilidade e o compromisso de apoio para o fortalecimento do complexo industrial da saúde. Recentemente, assinamos no Ministério da Saúde, com a presença do excelentíssimo senhor presidente da República, o acordo de transferência de tecnologia que propiciará o Brasil produzir vacina com IFA nacional, resgatando uma tradição do nosso país como líder da campanha de vacinação, mas contra outras doenças virais que afetam nossa população, e o meu amigo Zé Gotinha tem ajudado a divulgar amplamente esse ponto em todo o Brasil.

Soranz também lembrou o meio milhão de vítimas da pandemia no Brasil e manifestou a intenção de tornar Paquetá um “símbolo” do sucesso da vacina.

— (Estamos num) Momento muito triste. Todos lamentamos muito por isso. Um momento de profunda tristeza e luto das famílias brasileiras. Mas é também um momento de a gente ter esperança e tentar construir um novo futuro, e aqui na Ilha de Paquetá a gente espera que o futuro chegue antes.

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Os postos da ilha tinham filas já de manhã cedo. Jadson Felipe, de 29 anos, aguardava sua vez no Parque Darke de Mattos antes do início da vacinação, às 8h30:

— É maravilhoso poder participar disso. Mesmo jovem, trabalho em mercado e me exponho muito. Vou ter mais segurança.

A estudante de medicina Isabela Jardim, de 18 anos, também estava entre os primeiros da fila. Ela reforça que a vacina, embora traga um alívio à comunidade, não dispensa os hábitos de prevenção:

— Por enquanto, nada vai mudar para mim. A gente ainda precisa se precaver, porque a situação da pandemia ainda está muito delicada. Mas, quando tudo se acalmar, quero voltar a fazer coisas que não faço há tempos. Como ir a uma festa.

A distribuição da segunda dose acontecerá oito semanas após à da primeira. Depois disso, haverá uma nova coleta de sangue da população. Na próxima etapa, Paquetá dará lugar ao primeiro evento-teste da cidade, que o prefeito Eduardo Paes já chegou a chamar de “carnaval fora de época”. Ele acontecerá no Parque Darke de Mattos e deve reunir 600 participantes, sendo todos habitantes de Paquetá ou pessoas já vacinadas. De acordo com a prefeitura, a festa deve acontecer só em setembro, ou quando a ilha já não registrar nenhum caso de Covid-19.

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O estudo

Segundo a Secretaria municipal de Saúde, Paquetá tem uma população de 4.180 moradores, dos quais 3.530 são maiores de 18 anos cadastrados nos registros da Prefeitura do Rio. Desse total, 1.970 mil já tinham sido imunizados com a primeira dose da vacina.

O objetivo do estudo é mensurar o impacto da vacinação em massa até em quem não foi imunizado, como crianças e adolescentes. Por isso, antes de vacinar todos os habitantes da ilha, a Secretaria municipal de Saúde realizou o chamado inquérito epidemiológico, que inclui a testagem sorológica com exames de IGG e IGM. A intenção foi mostrar, pela análise de anticorpos, se uma pessoa tem ou já teve contato com o vírus causador da Covid-19, o SARS-Cov-2.

As coletas de sangue começaram na última quinta-feira e terminaram neste sábado. De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, 2.759 moradores da ilha foram testados, o que equivale a 70% da população local. De todos os examinados, 421 eram menores de 18 anos. Deles, 21% tiveram resultado positivo para a exposição ao coronavírus.

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A expectativa da Prefeitura do Rio é testar, de maneira periódica, pelo menos 3 dos 4,1 mil moradores do bairro. Na metodologia do estudo, os habitantes foram divididos em três grupos: menores de 18 anos, maiores de 18 anos que já foram vacinados e maiores de 18 que ainda não foram — o chamado “grupo intervenção”.

Para dar conta da empreitada, a SMS convocou 542 voluntários que atuaram em todas as fases do inquérito epidemiológico, desde a aplicação de questionários até o processamento laboratorial. Entre eles, jovens estudantes de diferentes áreas, como medicina, enfermagem e até estatística — todos vindos “do continente”, como dizem os moradores da ilha. Jovens que não receberão nada por seu trabalho exceto o dinheiro da passagem da barca, movidos por nenhum outro incentivo além de seu compromisso com a ciência e com a vida.

Um deles é Lígia Wanderley, de 20 anos, aluna do 5° período de medicina da Unigranrio. Moradora de Laranjeiras, na Zona Sul, ela desembarcou em Paquetá acompanhada de outros cinco colegas de faculdade, provenientes de lugares como Sulacap e Taquara, na Zona Oeste, e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

— Já estávamos envolvidos nesse processo de vacinação no Rio, atuando em alguns postos na Zona Oeste, e por isso resolvemos ajudar aqui também. Não ganhamos nada além de hora complementar na faculdade, mas a experiência vale mais do que qualquer outro tipo de recompensa. É clichê, mas é verdade. A troca que a gente tem com a população é o que importa — diz Lígia.

Além do exame sorológico, cada pessoa examinada também teve de dizer, por meio de um questionário, se já teve sintomas de Covid-19, com que frequência costuma sair da ilha e se está em home office, entre outras perguntas. Depois de cada turno de trabalho, as amostras de sangue foram levadas por helicóptero à sede da Fiocruz, em Manguinhos. Os resultados devem ser divulgados no dia 20 de junho de 2022.





Fonte: G1