Proposta da prefeitura de vacinar toda a Ilha de Paquetá em experimento científico é bem recebida por moradores


Horas após a prefeitura divulgar a ideia de vacinar toda a Ilha de Paquetá contra a Covid-19, num experimento científico para avaliar os efeitos da imunização em larga escala, o assunto espalhou como rastilho de pólvora pelo arquipélago da Baía de Guanabara. A proposta deixou esperançosa boa parte da população, de aproximadamente 4.500 habitantes. Durante a tarde dessa segunda-feira, dia 31, não se falava em outra coisa no bairro. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), até agora mais de 1.800 pessoas já foram imunizadas contra a doença em Paquetá. Desse total, 1.350 são idosos acima de 60 anos. A ilha tem 263 casos confirmados da Covid-19 e 12 óbitos até agora.

Bicicletas para alugel na Ilha de Paquetá: moradores nutrem boas expectativas pelo experimento que vai vacinar a população local
Bicicletas para alugel na Ilha de Paquetá: moradores nutrem boas expectativas pelo experimento que vai vacinar a população local Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo

O bairro tem a segunda maior concentração de idosos — só perde para Copacabana — mas lá existe apenas uma unidade de saúde: a Unidade Integrada de Saúde Manoel Arthur Villaboim. Para o tratamento da Covid-19, o espaço dispõe de uma enfermaria, com nove leitos, e uma sala vermelha, com um leito que conta com equipamentos de estabilização até a transferência do paciente, feita via helicóptero do Corpo de Bombeiros. Hoje, nenhum leito está sendo usado.

Um dos moradores ilustres do bairro é o cantor e compositor Carlos Alberto Albuquerque de Oliveira, mais conhecido como Alberto Gino, de 79 anos, que já foi imunizado com as duas doses da vacina. Nesta segunda-feira, ele comemorava com os amigos a possível decisão. Responsável pela criação de várias canções que foram imortalizadas na voz de José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão, seu Alberto diz:

— Vejo isso com muito bons olhos. Existe um negacionismo pelo Brasil, mas é só a vacina que vai salvar a vida da população. Eu estou vacinado, mas tem muita gente por aí que precisa das doses. Espero que esse projeto vá adiante.

Por dia, cerca de 40 doses são aplicadas no posto de saúde. Uma das imunizadas contra a Covid-19 é a aposentada Maria do Carmo Lima, de 65 anos. Nascida e criada na ilha e mãe de um único filho, dona Maria diz que não vê a hora de toda a família ser vacinada.

— A mulher do meu sobrinho foi infectada e precisou ser internada. Graças a Deus ela está bem. Com a vacinação em massa, vamos começar a voltar à vida normal. Quero muito que meu filho seja vacinado — destaca.

Maria do Carmo Lima, 65 anos, aposentada toma vacina na Unidade Integrada de Saúde Manoel Arthur Villabiam em Paquetá.
Maria do Carmo Lima, 65 anos, aposentada toma vacina na Unidade Integrada de Saúde Manoel Arthur Villabiam em Paquetá. Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo

Nas últimas semanas, a direção do hospital e a SMS se reuniram para planejar como será o projeto. Profissionais da unidade querem que o critério de cadastro de moradores no hospital seja considerado. A ideia é corroborada pela Associação de Moradores da Ilha (Morena).

— No dia 31 de março, a associação de moradores enviou um e-mail à SMS pedindo que se considerasse um projeto experimental de vacinação em massa no bairro. Por vários motivos: um deles são os moradores, que trabalham no Rio e vem e vão todo dia. Com a notícia de hoje, ficamos felizes e criou-se uma grande expectativa. Essa experiência será de grande valia para Paquetá e o Brasil. Será uma produção de conhecimento e benefício para todos. Mas é preciso ter um controle de quem receberá as doses. Apoiamos a ideia de que o cadastro do centro de saúde seja usado durante o projeto — destaca o jornalista Guto Pires, presidente da Morena.

Guto Pires, Presidente da Associação de Moradores de Paquetá, disse que associação havia mandado pedido à SMS um pedido pelo experimento
Guto Pires, Presidente da Associação de Moradores de Paquetá, disse que associação havia mandado pedido à SMS um pedido pelo experimento Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo

O enfermeiro Diego Willer Ribeiro Oliveira é o diretor-geral da unidade de saúde. Ele lembra que o único jeito de evitar que a doença se espalhe pela ilha é a vacinação. O profissional também lembra da dificuldade de transferência de pacientes do local:

— Temos uma estrutura para receber uma pessoa com Covid-19. Mas, se o paciente tem um agravamento no estado de saúde, precisamos transportá-lo para ou para o Hospital municipal Souza Aguiar (no Centro do Rio) e para o Hospital municipal Miguel Couto (na Gávea). Esse transporte tem que ser feito por helicóptero. Então, a gente fica muito feliz com essa ideia.

Segundo Diego Willer, a unidade de saúde que ele coordena acompanha os casos suspeitos da doença no bairro.

O Diretor da Unidade Integrada de Paquetá, Diego Willer Ribeiro Oliveira, lembra que o único jeito de evitar o contágio é a vacinação
O Diretor da Unidade Integrada de Paquetá, Diego Willer Ribeiro Oliveira, lembra que o único jeito de evitar o contágio é a vacinação Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo

A manicure Daiane Fernandes, de 35, conta que perdeu um irmão, de 28 anos, no último dia 3 de maio para a Covid-19. Por mais de 30 dias, o rapaz ficou internado e não resistiu à doença. Daiane, que é mãe de uma menina de 8 anos, não vê a hora de ser vacinada e comemora a possível escolha do bairro para implantação do projeto-piloto de imunização em massa.

— Essa doença é muito séria e muita gente não está ligando. Eu perdi o meu irmão, que nasceu depois de mim, e eu só peço a Deus que chegue minha vez. Saber que a gente pode fazer parte desse projeto é um alívio. Meu marido será vacinado amanhã (hoje) e espero que a minha vez chegue logo — destaca Daiane, ao lado do marido, o comerciante Luiz Carlos do Rego, de 59 anos.

Linda Carlos da Silva Carvalho, 58 anos, é motorista de charrete elétrica em Paquetá.
Linda Carlos da Silva Carvalho, 58 anos, é motorista de charrete elétrica em Paquetá. Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo

Linda Carlos da Silva Carvalho, de 58, é motorista de charrete elétrica na ilha há mais de quatro anos. Nascida e criada na localidade, ela diz que a população do bairro tem contato com muitos turistas e a vacinação em daria um alívio para todos. Em um fim de semana de sol, e antes da pandemia, mais de cinco mil pessoas entram na ilha, segundo a associação de moradores.

— Tomei a primeira dose e agora espero a segunda. Diariamente temos contatos com pessoas do mundo todo. A população vacinada, e sem deixar dos cuidados necessários, teremos uma tranquilidade ainda maior.

O empresário Conrado Gonçalves de Moraes, tem 30 anos. Nascido e criado em Paquetá, em suas contas, ele só deverá ser vacinado no fim de 2021. Caso o projeto vá à frente, ele deverá ser vacinado antes.

— Com todos vacinados, a vida e a rotina poderão voltar ao normal. Há meses a gente vê que a rotina da ilha tem mudado. Espero que o projeto vá à frente e que eu seja vacinado logo. Tudo o que queremos é poder ver as pessoas se aglomerando normalmente e curtindo este paraíso — afirma ele.





Fonte: G1