Projetos gratuitos atraem jovens de comunidades para a música; confira as iniciativas


Na comunidade Pereira da Silva, em Laranjeiras, a música representa um sopro de esperança para crianças e adolescentes como Edileuza Maria da Silva, de 13 anos. A menina já arrisca notas que vão do jazz ao funk no trombone, que estava longe de ser um objeto de interesse dela até ter contato com o Favela Brass, um projeto que ensina de graça os moradores do morro e de escolas públicas da redondeza a tocar este e outros instrumentos de metal, como trompete, saxofone e tuba.

— Ainda é cedo para me decidir por uma profissão mas, como adoro música, essa possibilidade não está descartada — afirma a garota, que frequenta as aulas na companhia da prima Maria Eduarda Santos da Silva, de 11 anos.

Iniciativas como essa estão apontando novos caminhos, pavimentado por notas musicais, para jovens carentes, também em outras localidades. Entre elas, estão o projeto social Escola de Música Amar que já funcionou em diversas comunidades do Rio, como a Providência, no Centro do Rio, e se transferiu para Manilha, em Itaboraí; a Orquestra de Cordas da Grota, em Niterói: e a Orquestra Maré do Amanhã.

Para o ex-aluno do Favela Brass André Luiz da Silva de Carvalho, de 20 anos, o projeto já abriu uma nova perspectiva. Morador do Fogueteiro, em Santa Teresa, ele toca sax tenor na banda do quartel onde está servindo, na Tijuca, e sonha seguir na música paralelamente à vida militar, sua outra paixão.

Estrangeiro na favela

O regente Elias Amador ensina musica em sua casa, em Manilha
O regente Elias Amador ensina musica em sua casa, em Manilha Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

A ideia do Favela Brass partiu de Tom Ashe, um britânico apaixonado por música brasileira e carnaval. Ele chegou ao Brasil em 2008 para passar seis meses e fazer imersão musical. Foi ficando e, há oito anos, se mudou para a comunidade, onde resolveu ensinar crianças e jovens locais a tocar instrumentos de sopro. O estrangeiro percebeu que o alto custo dos instrumentos — e do seu aprendizado, que é um processo longo — afastava esse público.

Os metais usados pelos alunos são frutos de doação e vêm de países da Europa e dos Estados Unidos. Os alunos já fazem apresentações públicas, inclusive com músicos estrangeiros.

— Com o tempo, fazendo parte da cena musical no Rio, percebi que o perfil de quem toca instrumentos como trombone e trompete não reflete a sociedade. Não tem aula de sopro nas escolas, e quem toca nos blocos não é de comunidade. Esses instrumentos são muito caros no Brasil — diz Tom, que criou o projeto em 2014.

Em 2019, ele fez parceria com quatro escolas públicas, atingindo 150 alunos, com a pandemia ficaram 54. Neste período, as aulas são on-line ou individuais, em locais abertos.

Ex-menino de rua salvo pela música

Nascido em São Gonçalo, Elias Amador, de 36 anos, perambulou pelas ruas dos 6 aos 13. Recolhido numa instituição para menores até os 18, lá teve contato com a música. Depois que saiu, fez licenciatura na UniRio, após nove tentativas de entrar numa faculdade pública.

Multi-instrumentista, retribui a oportunidade que teve dando aulas de música de graça para crianças e jovens carentes ou em vulnerabilidade social. O projeto Escola de Música Amar, que até o começo da pandemia estava na Providência, atende cerca de 40 alunos em Manilha.

— A música é uma ferramenta importante. O adolescente se vê fazendo algo de que é capaz e é admirado por isso — testemunha Alexandre Costa da Silva, de 27 anos.

Alexandre, morador de Rocha Miranda, teve contato com o projeto na Providência, aos 19. Não tocava nada e encantou-se com o piano. Atualmete cursa licenciatura no Conservatório Brasileiro de Música. Já outro aluno do projeto, Fábio Torres, de Rio Bonito, virou baterista profissional.

E a música entrou na vida da niteroiense Raquel Terra, de 34 anos, aos 7, quando entrou para a Orquestra da Grota. Hoje, ela dá aulas, faz sonorização em teatro e tem um quarteto de cordas. Seu instrumento é o violoncelo:

— A orquestra me proporcionou um olhar diferenciado para o futuro e além do horizonte da comunidade.

Outros tons

Orquestra da grota

Completa 26 anos em 2021 e já deu oportunidade a muitos jovens, inclusive de ingressar no ensino superior. Entre eles, Alexandra Seabra, de 30 anos, que começou aos 10. A violinista, pós-graduada em produção cultural, dá aulas de música em escola particular. “A música me deu muitas oportunidades”, conta.

Maré do amanhã

Orquestra fundada pelo maestro Carlos Eduardo Prazeres, em 2010, começou com 24 alunos. Hoje atinge com musicalização 4 mil crianças do complexo. Dez já são músicos profissionais. Um atua no Canadá.





Fonte: G1