Projeto de lei que quer mudar nome do estádio do Maracanã para homenagear Pelé divide opiniões


Já imaginou uma final de campeonato de futebol acontecendo no Estádio Edson Arantes do Nascimento – Rei Pelé, no Rio de Janeiro? Se depender de um projeto de lei publicado nesta quarta-feira, dia 3, no Diário Oficial do Estado do Rio, isso pode acontecer. De acordo com o PL, que ainda precisa ser votado na Casa, o nome do maior jogador de todos os tempos seria dado ao estádio do Maracanã.

A autoria do projeto é do deputado André Ceciliano (PT), presidente da Alerj. A justificativa é dar a Pelé uma homenagem ainda em vida. “O Maracanã foi palco de grandes momentos do futebol brasileiro e mundial, como o milésimo gol de Pelé. Assim sendo, mais do que justa uma homenagem a uma pessoa reconhecida mundialmente pelo seu legado no futebol brasileiro e pela prestação de relevantes serviços no país”, diz um trecho do texto. As placas contendo o nome do estádio também fariam menção ao milésimo gol do Rei do Futebol.

Com a possível mudança do nome do estádio, apenas o complexo esportivo na totalidade — que inclui o ginásio do Maracanãzinho e o estádio de atletismo Célio de Barros — é que seria chamado de Jornalista Mario Filho. A atriz Crica Rodrigues é terminantemente contra a retirada do nome de seu tio-avô do estádio.

Momento inesquecível. Depois de fazer o milésimo gol, no estádio do Maracanã, Pelé beija a bola
Momento inesquecível. Depois de fazer o milésimo gol, no estádio do Maracanã, Pelé beija a bola Foto: Arquivo/19-11-1969

— Eu não respondo pela família, que é bem grande. Eu falo por mim. Acho despropositado porque, resumindo a história, batizar o maior estádio do mundo de Mario Filho é o mínimo de reconhecimento que ele tem não só na história do futebol, mas dos esportes brasileiros como um todo. O Brasil é conhecido como país do futebol por causa de uma pessoa chamada Mario Filho. Foi ele que disse que o Brasil tinha que ter um estádio mundial e quem lutou para que a Copa de 1950 viesse para o Brasil — explica Crica. — O Pelé tem um milhão de homenagens no Brasil inteiro, que são mais que merecidas. Se Pelé é o Rei do Futebol foi porque, para que ele reinasse, o Mario Filho brigou para que ele tivesse esse palco para reinar. O Maraca só existe devido ao Mario Filho.

Já para a jornalista e escritora Angélica Basthi, que escreveu a biografia “Pelé: estrela negra em campos verdes”, o ex-jogador mineiro de Três Corações merece que o estádio tenha o seu nome:

— Acho uma homenagem linda e justa, ainda nos seus 80 anos. É um equívoco pensar que o Pelé pertence apenas ao Santos. Estamos falando de um ícone do futebol mundial, considerado o maior jogador de todos os tempos. Deve receber este reconhecimento em vida.

De acordo com o historiador Luiz Antonio Simas, que está para lançar um livro sobre aquele já foi o maior estádio de futebol do mundo, a mudança de nome seria um “equívoco brutal” porque Mario Filho foi de uma importância decisiva para que o estádio saísse do papel. O jornalista, junto de Ary Barroso, na Câmara de Vereadores, enfrentou diversas oposições, especialmente do governador Carlos Lacerda, para que o estádio fosse construído no Maracanã. Se não fosse por essa luta, o estádio poderia ter sido construído em Jacarepaguá e teria metade da capacidade.

— Além disso, acho que nem vai adiantar. O estádio chegou a ser chamado de Estádio Mendes de Moraes e Estadio Municipal. Desde o início, porém, a população só o chamava de Maracanã ou, com mais intimidade, Maraca. E já temos, inclusive, o estádio Rei Pelé em Maceió — disse Simas.

Mario Filho, que era chamado pelo irmão dramaturgo Nelson Rodrigues de “inventor das multidões”, também foi o criador dos Jogos da Primavera, da mística do nome Fla x Flu, do torneio de peladas do Aterro do Flamengo, e também patrocinou o primeiro desfile em cortejo das escolas de samba. O jornalista também trabalhou no GLOBO entre as décadas de 1930 e 1940, e foi um dos criadores do Jornal dos Sports.

— Esse estádio, de construção infame em virtude dos crimes que envolveram a destruição do velho Maracanã, não merece mais esse golpe contra a memória. Ao menos ninguém sugeriu trocar por “Estádio Sérgio Cabral”, o responsável pela criança — acrescenta o historiador.





Fonte: G1