Professor de Belford Roxo viraliza com post sobre devolução de troco de alunos em trabalho escolar sobre a Baixada


Natural de Duque de Caxias e criado em Belford Roxo, o professor de geografia Thales Oliveira, de 25 anos, viralizou no Twitter com uma publicação sobre a devolução do troco de 2 reais de uma quantia que ele deu para os alunos comprarem material para um projeto escolar. Os estudantes de uma escola particular em Belford Roxo utilizaram o dinheiro, apenas 8 reais, para comprar material de papelaria para uma apresentação e devolveram o troco por pix com a mensagem “sobrou 2 reais, professor”. O tweet já teve mais de 100 mil curtidas.

Tweet de professor com mensagem de aluna devolvendo troco viralizou
Tweet de professor com mensagem de aluna devolvendo troco viralizou

O trabalho fazia parte do projeto de pós-graduação de Thales, que tem como proposta o ensino de História da Baixada Fluminense para os alunos com o objetivo de elevar a autoestima dos moradores da região. E, tudo começou com os preparativos da apresentação do trabalho, que aconteceu na semana passada. Uma das turmas fez um teatro de fantoches contando a história de bairros da cidade.

— Eles fizeram os fantoches com coisas que tinham em casa, meias, um barbante que sobrou de outro trabalho… e os fantoches eram de meias brancas e barbantes amarelos, figurando uma pessoa branca e loira. Eu questionei que eles olhassem ao redor e entre si para verem se aqueles fantoches tinham a cara dos moradores de Belford Roxo. Por ser um município periférico, o ser humano branco e loiro não representa a cidade, e eles aceitaram trocar, mas disseram que não tinham mais dinheiro e que precisavam de 8 reais — conta o professor.

A atitude de uma aluna de devolver o troco deixou Thales emocionado, e ele compartilhou a história no Twitter.

— Entendo que isso reflete todo um processo de precarização da educação, porque essa aluna entendeu que aquele dinheiro poderia me fazer falta por saber das condições dos professores nesse momento. Eu vi um quadro disso na atitude dela. Vi ali uma relação direta de aprendizado, um incentivo a mais para uma educação decente. O ato dela foi muito maior que isso. Fiquei muito emocionado — diz.

Turmas do sexto ao nono ano participaram do projeto
Turmas do sexto ao nono ano participaram do projeto

Com os seis reais, os alunos compraram barbantes coloridos e olhos de plástico de cores diferentes para os fantoches. Ao todo, 35 alunos das turmas do sexto ao nono ano participaram do projeto, que levou dois meses para ser desenvolvido. Os estudantes do sexto ano pesquisaram sobre o bairro Jardim Brasil, os do sétimo, falaram sobre o Lote XV, os alunos do oitavo ano pesquisaram e apresentaram a história da Baixada Fluminense, e os do nono, desenvolveram o projeto sobre os bairros.

— Eu perguntei para crianças de 12 anos o que vinha na cabeça delas quando pensam em Baixada Fluminense e responderam “estupro, assédio sexual, políticos corruptos”. Eram crianças falando de tráfico, de briga de facção. Uma menina contou que sofre assédio na rua e ela vincula isso a ser da Baixada Fluminense. Isso foi um contexto muito problemático — lembra o professor.

Falta de saneamento, briga de facção, agressão à mulher, tiroteio e moradia ruim foram algumas das respostas dos alunos sobre como viam a Baixada Fluminense
Falta de saneamento, briga de facção, agressão à mulher, tiroteio e moradia ruim foram algumas das respostas dos alunos sobre como viam a Baixada Fluminense

Para Thales, depois do trabalho, os alunos conseguiram mudar a forma de ver o lugar onde eles vivem.

— Consegui perceber que eles descobriram coisas diferentes e me traziam informações e ficavam deslumbrados. “Professor, sabia que tinha povos que habitavam Belford Roxo há 4 mil anos?”, disse um aluno. Eles ressignificaram a Baixada Fluminense. Conseguiram exaltar os pontos positivos também como a Baixada verde, sobre figuras ímpares da região, como Joãozinho da Gomeia e Solano Trindade — avalia.

Ele, que nasceu, foi criado e vive na Baixada Fluminense, acredita que trazer a História da região para a sala de aula pode ajudar na formação dos alunos:

— Para mim, a importância dessa discussão é conseguir atuar diretamente na autoestima dessas crianças. É ressignificar a Baixada, saber sobre o passado, sobre a geografia dela faz a gente não repetir antigos erros, ser mais crítico. Eu creio que isso é um mecanismo de mudança, é o fio condutor para deslumbrar um futuro.

Depois do Tweet, o professor começou a receber doações no pix para manter o projeto com os estudantes. Ele, então, decidiu utilizar o valor para arrecadar alimentos para famílias da região onde fica a escola, no Jardim Brasil, e ajudar com material escolar alguns alunos que precisavam. Um evento está marcado para o próximo domingo com o objetivo de arrecadar mais doações para compra de alimentos.





Fonte: G1