Um trecho de aproximadamente 400 metros da Praia da Reserva, um dos santuários ecológicos da Zona Oeste do Rio, protegida por restingas, conseguiu a certificação internacional da Bandeira Azul, documento que a caracteriza como uma das áreas mais limpas e preservadas do Estado do Rio. Além disso, a Prainha, também na Zona Oeste, conseguiu a sua oitava renovação do certificado, depois de um período de ostracismo por conta da ineficiência em conseguir comprovar a boa qualidade da água. Além dessas duas praias na capital, a Praia do Peró também possui o selo.
A Praia da Reserva está inserida no Parque Natural Municipal Nelson Mandela, área de preservação ambiental. A bandeira é concedida pela Foundation for Environmental Education (FEE), organização não governamental, com sede na Dinamarca, que certifica praias, marinas e embarcações de turismo em todo o mundo a partir de 34 critérios com foco em sustentabilidade. A candidatura da Praia da Reserva foi aprovada em setembro do ano passado, depois de serem apresentados os primeiros documentos.
Para conquistar a maior premiação global dedicada à gestão de praias, marinas e embarcações de turismo, o local precisa ser eleito e tem que passar por uma série de critérios com foco em gestão ambiental. A qualidade da água, segurança, turismo sustentável, educação ambiental, responsabilidade social precisam ser atendidos, mantidos e comprovados anualmente.
Segundo Leana Bernardi, do Instituto Ambientes em Rede (IAR), coordenadora nacional do programa no Brasil, e diretora técnica do programa no país, a certificação será entregue no próximo dia 16 de novembro, caso a prefeitura tenha cumprido algumas exigências, como a instalação de um posto de guarda-vidas, banheiros e duchas para os banhistas.
— Estive lá duas vezes para fazer a avaliação da praia, e é importante salientar que não é toda a extensão dela que vai ser certificada. É uma extensão menor, porque o programa permite a certificação de uma parcela. É um trecho só, de cerca de 400 metros, dentro da reserva, em frente ao acesso do Parque Natural Municipal Nelson Mandela, ao qual a praia pertence. E quem vai fazer a administração é o gestor do parque (Gilmar Tito) — informou Leana.
Bernardi disse, também, que a faixa contemplada pelo certificado poderá ser estendida em outras avaliações, que acontecem anualmente.
— Para a primeira temporada, vai ser só esse trecho. Nos próximos meses a intenção é estender a área de certificação. Ir aumentando aos poucos. São 400 metros, é uma faixa pequena. Porque, na verdade, o programa, além de qualidade, prevê que a praia ofereça alguns serviços, como banheiro, ducha, guarda-vidas, estacionamento. E nem tudo foi possível ostentar em toda a praia agora. O dia da entrega da Bandeira vai ser em 16 de novembro, quando vamos fazer mais uma inspeção — afirmou.
Por sua vez, a Secretaria municipal de Meio Ambiente garante que a faixa de praia já está adaptada para receber o certificado, embora uma equipe de O GLOBO não tenha encontrado duchas no local.
“O trecho certificado dispõe de banheiros para o público nos quiosques da praia. O esgoto sanitário dos quiosques dispõem de fossa-filtro, em que os dejetos são retirados periodicamente. O estacionamento é ordenado e conta com uma disponibilidade para 600 vagas”, disse a secretaria por meio de nota.
Prefeitura fala em trecho ainda menor
Segundo a prefeitura, o trecho que receberá a certificação é, na verdade, de aproximadamente 300 metros entre os quiosques 13 a 15. “A decisão de certificar apenas 300 metros numa praia cuja extensão chega a mais de 7 quilômetros é do administrador e atende a uma lógica de eficiência na gestão. Fazer a certificação por etapas e de acordo com os resultados alcançados na fase anterior. Os custos e o pessoal envolvidos na administração de um trecho de 300 metros também é bem menor do que se fosse 7 quilômetros. A visita periódica da coordenadora nacional do Bandeira Azul é rotina em todas as praias certificadas”, informou a prefeitura.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Bernardo Egas, comentou que o reconhecimento da Bandeira Azul é muito importante porque sinaliza também para o que a prefeitura precisa fazer nesses locais
— Esse selo é reconhecido internacionalmente. Na Europa, alguns países têm diversas praias Bandeira Azul, como em Portugal, na França e na Espanha, por exemplo. É muito importante porque orienta o trabalho que a gente tem que fazer de preservação do local. São muitos critérios que a gente têm que seguir para conseguir a Bandeira Azul. Balneabilidade, acessibilidade, preservação e educação ambiental são vários critérios que precisam ser atingidos. Então, ajuda a orientar no trabalho para que a gente tenha a melhor praia possível. São critérios muito rigorosos. É difícil cumprir tudo, mas a gente conseguiu no passado a Bandeira Azul para a Prainha e todo ano tem um novo julgamento.
Comércio local aprova e comemora
Dono do quiosque Pé na Areia, na Reserva, Felipe de Oliveira Santos diz que é uma honra que a praia receba a certificação pela qualidade de seu meio ambiente.
— Minha família está aqui desde a geração do meu avô, quando o quiosque ainda era um trailer. Agora, estou no comando do quiosque e faço questão de que os funcionários participem da limpeza da areia, e também de orientar os nossos clientes a não deixarem restos de alimentos e produtos consumidos neste trecho, pelo menos. Fazemos a nossa parte e agora vamos fazer muito mais. Estou muito feliz com a possibilidade de ter mais clientes aqui respeitando o ecossistema da região — comemorou.
Apesar de ainda haver proibição da permanência na areia das praias devido à pandemia, os dias de calor têm atraído cariocas para a orla. Morador da Ilha do Governador, Marcus Vinicius pedalava na manhã desta terça-feira em frente à Praia da Reserva. Ele levou os dois filhos pequenos para ficar em família no local. Para ele, a praia é a melhor do Rio.
— Venho sempre aqui para que as crianças brinquem com a minha família e aproveito para pedalar e manter a forma física. É um lugar maravilhoso, um paraíso, que precisa ser mantido e que com essa premiação acho que as autoridades vão dar mas atenção — avaliou.
Presidente Associação de Surf da Barra da Tijuca, Milton Waksmam comentou que a Praia da Reserva é uma região que se autopreserva, já que a restinga a deixa “escondida” e também porque os surfistas ajudam a mantê-la intacta.
— É uma praia muito frequentada por surfistas, que ajudam a preservar. Como vivemos do mar, precisamos preservar para as próximas gerações. Mas em relação aos órgãos públicos, não vejo segurança ali, não vejo polícia, não vejo ações, nem nada. É abandonada há muitos anos, mas se autopreserva. É preservada pela própria natureza — afirmou.
Fonte: G1