Portela e Unidos da Tijuca anunciam reabertura das quadras com feijoada e novos protocolos de segurança


As tradicionais feijoadas das escolas de samba vão voltar, mas com um tempero diferente. Após a publicação do decreto permitindo a reabertura das quadras a partir de 1º de novembro, algumas agremiações já retomaram suas agendas. É o caso da Portela e da Unidos da Tijuca, que anunciaram os eventos para os dias 7 e 8 do mês que vem, respectivamente. Além de comida e bebida, novos protocolos de segurança estarão à mesa, na intenção de fazer com que a Covid-19 não seja convidada da festa. A capacidade de público, por exemplo, estará reduzida a 50%, e mesas e cadeiras vão estar espaçadas e numeradas para organizar a movimentação das pessoas.

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Segundo a prefeitura, mesmo com restrições, a retomada desses eventos visa a minimizar os prejuízos financeiros das comunidades que vivem do samba e solicitaram equivalência com casas de shows que já podem funcionar novamente. Por enquanto, nas quadras, apenas feijoadas e apresentações com música ao vivo estão liberadas, sem ensaios das baterias, disputas de samba-enredo e outras atividades que gerem aglomeração. O decreto prevê ainda que as escolas submetam suas equipes aos cursos de capacitação da Subsecretaria de Vigilância, Fiscalização Sanitária e Controle de Zoonoses — que serão ministrados a partir desta semana a partir de solicitações das próprias agremiações — e cumpram protocolos sanitários específicos, como uso de álcool 70%, máscaras e distanciamento social.

— A retomada das atividades é fundamental para a gente, aos poucos, ter a lucratividade das quadras, que é fundamental para a sobrevivência das escolas — afirmou Fábio Pavão, vice-presidente da Portela.

A Azul e Branco de Madureira, que realizou sua última feijoada em meados de março, montou um grupo de trabalho para determinar as regras que serão adotadas no evento. Hoje, segundo Pavão, integrantes da escola e representantes da Prefeitura do Rio vão se reunir para defini-las. A programação do evento do próximo dia 7 ainda não está fechada, mas a Portela já decidiu que a venda dos ingressos será apenas pela internet para evitar filas no local.

Wantuir, intérprete da Unidos da Tijuca, vai cantar na próxima feijoada da escola
Wantuir, intérprete da Unidos da Tijuca, vai cantar na próxima feijoada da escola Foto: Marcelo Theobald/3.3.2019

Nas redes sociais do Mestre Casagrande, responsável pelo evento da Unidos da Tijuca, no dia 8, o anúncio informa que a feijoada será regada a roda de samba, com a participação do Grupo Arruda, o intérprete Wantuir e integrantes da bateria da escola, mas sem espaço para dança. Porém, para evitar aglomeração, a quadra da Francisco Bicalho, que tem capacidade para até cinco mil pessoas, só vai receber 400, e a circulação será restrita à área externa.

— Vamos obedecer todas as regras de segurança e teremos limitação de público, que precisará fazer as reservas previamente. A escola tem que se movimentar, muitos profissionais dependem disso — defendeu Fernando Horta, presidente da Tijuca.

Flávio Graça, superintendente de Educação e Projetos da Vigilância Sanitária, da Prefeitura do Rio, explica:

— A Vigilância Sanitária vai realizar uma série de capacitações com a força de trabalho envolvida nessas operações para que as escolas possam fazer, por exemplo, feijoadas e eventos com música ao vivo, mas com cadeiras e mesas numeradas para que haja um afastamento entre as pessoas. Para que haja um tempo hábil para que essa capacitação seja realizada, nós faremos a liberação dessas atividades a partir do dia 1º de novembro, e, até lá, vamos montar essa agenda de capacitação em todas as quadras que se habilitarem para realizar esse tipo de atividade, deixando bem claro que não estarão liberados os ensaios e as disputas de samba. Aquela visão que a gente tem da quadra lotada não vai existir neste momento. Tem que haver espaçamento e segurança para todos. Mas também é importante gerar uma possibilidade de renda para essas populações.

Integrantes da bateria da Unidos da Tijuca vão tocar na feijoada, marcada para 8 de novembro
Integrantes da bateria da Unidos da Tijuca vão tocar na feijoada, marcada para 8 de novembro Foto: Guito Moreto/25.2.2020

São Clemente não vai reabrir por enquanto

Outras escolas ainda estão se inteirando sobre os protocolos a serem seguidos e aguardam a capacitação da Vigilância Sanitária para definir como farão a reabertura de suas quadras. É o caso do Salgueiro, cuja diretoria ainda vai se reunir para discutir o assunto, e da Mangueira. Já a São Clemente resolveu que vai continuar de portas fechadas até que haja uma vacina contra a Covid-19.

— O risco é muito grande, e a responsabilidade é gigante. Vou esperar a vacina. Nossa responsabilidade é com o sambista. Na Europa, a retomada das atividades provocou uma segunda onda da doença. A São Clemente vai continuar com a quadra fechada. O protocolo não garante nada. Não vou arriscar de jeito algum. Escola de samba é igual praia, depois que libera não dá para controlar. Não vou fazer essa loucura — afirmou Renato Almeida Gomes, o Renatinho, presidente da São Clemente.

As quadras que ficam foram do município do Rio precisam da autorização das prefeituras locais para reabrir. Estão incluídas nesse grupo a Beija-Flor, em Nilópolis; a Grande Rio, em Duque de Caxias; e a Viradouro, em Niterói.

A Secretaria municipal de Saúde de Niterói informou que a reabertura das quadras das escolas de samba está sendo analisada pelo Gabinete de Crise e que não há previsão de data para o retorno. O mesmo ocorre em Caxias, onde as medidas de enfrentamento ao novo coronavírus estão valendo até o próximo dia 30. A Prefeitura de Nilópolis também não definiu ainda a retomada desse tipo de evento e informou que ainda está analisando a atual situação do coronavírus no município.

Liesa discute vacina com a Fiocruz

Por enquanto, nas quadras, apenas feijoadas e apresentações com música ao vivo estão liberadas, sem ensaios das baterias, disputas de samba-enredo e outras atividades que gerem aglomeração. Já no Sambódromo, o carnaval só vai acontecer quando houver uma vacina contra a Covid-19. Foi o que determinou a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), cujo presidente, Jorge Castanheira, esteve com a presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nisia Trindade, para conversar sobre o desenvolvimento da vacina Oxford/AstraZeneca, que terá produção nacional no Brasil pela fundação, para poder orientar as decisões futuras da Liga.

— A ideia do encontro foi se atualizar e ter elementos para as nossas decisões, porque o carnaval depende de uma previsibilidade, e precisamos disso para manter as escolas informadas até para saber se há viabilidade de ter ou não o desfile e quando seria isso — afirmou Castanheira, que disse ter sido informado que a vacina já estaria disponível entre janeiro e fevereiro.

Porém, mesmo com a imunização ocorrendo no começo do ano que vem, os desfiles não ocorrerão antes de maio, porque a Riotur já informou que entre dezembro e abril o Sambódromo passará por obras.

O vereador Felipe Michel, que é ex-secretário de eventos da prefeitura e também participou do encontro na segunda-feira, acredita que a data mais provável dos desfiles deve ser definida entre maio de julho.

— A reunião foi para a gente conversar com a presidente da Fiocruz, para ver a questão da vacina e, mediante uma informação consolidada, ter uma data (dos desfiles) para o pessoal das escolas poder se programar — explicou o parlamentar

Também participaram da reunião a secretária de Saúde municipal, Bia Busch, e o presidente da Liesb, Clayton Ferreira. Segundo Felipe Michel, o tema voltará a ser discutido num novo encontro até meados de novembro.

O carnaval de 2021 será de 13 a 16 de fevereiro, mas, por conta da pandemia de Covid-19, foi definido em setembro pela Liesa, em acordo com as agremiações, que os desfiles não acontecerão na data prevista tradicionalmente. Os blocos de rua também adiarão seus cortejos.



Fonte: G1